O Fundo Monetário Internacional admitiu que os programas de assistência financeira dos países que pertencem a moedas únicas, como é o caso de Portugal, podem ser mais longos e precisar de mais financiamento.
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O FMI publicou um relatório em que avalia as suas intervenções nos 32 programas de resgate de 27 países que financiou entre setembro de 2008 e junho de 2013, num total de 577 mil milhões de dólares (526,5 mil milhões de euros).
Entre estes programas financiados pelo Fundo estão países da zona euro, incluindo Portugal, economias emergentes, pequenos Estados e países do Médio Oriente e Norte de África.
"Nos países em que o ajustamento da taxa de câmbio nominal não é uma opção realista, por exemplo nas uniões monetárias, o desenho dos programas deve reconhecer que a desvalorização interna pode exigir um ajustamento macroeconómico maior e reformas estruturais profundas e sustentadas", lê-se no documento.
Perante uma economia em crise, a 'receita' do FMI tem passado por desvalorizar a moeda para com isso reduzir o valor real dos salários e das taxas de juro. No entanto, isso não é possível nos países da zona euro, como Portugal, que não têm uma divisa própria para controlar.
Nestes casos, o FMI tem optado pela 'desvalorização interna', nomeadamente através da redução nominal dos custos, como os salários.
A instituição liderada por Christine Lagarde considera que a assistência financeira internacional dos países que não têm política monetária própria, por estarem sujeitos à política monetária da união a que pertencem, "pode exceder o período padrão de 3 a 4 anos dos programas apoiados pelo Fundo", podendo também "exigir condições de financiamento maiores e contínuas."
No relatório, o FMI afirma que a dimensão do ajustamento externo foi variável entre os diferentes programas mas que, no geral, "a zona euro e os países emergentes ajustaram-se mais do que o previsto e os Estados pequenos menos, enquanto o ajustamento no Médio Oriente e Norte de África esteve em linha com as projeções".
Quanto à dívida externa em percentagem do PIB, a conclusão do Fundo é que, na zona euro, este indicador permaneceu acima do previsto, "sobretudo devido a um crescimento económico mais fraco".
No entanto, o Fundo alerta que "a sustentabilidade do ajustamento externo continua por testar", uma vez que "mesmo nos países que recuperaram acesso ao financiamento, os défices da conta corrente permanecem, em muitos casos, acima dos níveis de estabilização da dívida".
A instituição refere que "a desvalorização interna se revelou muito difícil de alcançar", destacando que "as desvalorizações internas dos programas recentes alcançaram apenas um ajustamento modesto da taxa de câmbio real", mas acrescenta que, nos países onde houve esse ajustamento, "há alguma evidência de impacto no crescimento".
O FMI afirma ainda que, nos países em que a tendência de crescimento ficou aquém das expectativas, isso se deveu em parte ao facto de a desvalorização interna não ter sido alcançada.
O Fundo defende assim que "é possível que a estratégia de uma desvalorização interna durante períodos mais longos do que a duração típica dos programas possa trazer dividendos de crescimento, desde que haja financiamento disponível para acomodar um ritmo de ajustamento mais lento".