FMI revê crescimento da economia mundial para 3%, mas alerta que resiliência é ténue
O FMI revê previsões de crescimento do PIB global para 2025 e 2026 em alta, mas avisa que resiliência das principais economias do mundo é ténue face ao clima de incerteza mundial e tensões geopolíticas
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Na atualização das perspetivas económicas mundiais apresentada esta terça-feira em Washington, participou o conselheiro económico e diretor do Departamento de Investigação, Pierre-Olivier Gourinchas, a diretora adjunta do Departamento de Investigação, Petya Koeva Brooks, e o chefe de divisão do Departamento de Investigação, Denis Igan para dizerem que o FMI revê em 0,2 pontos percentuais as previsões de crescimento mundial para 3% este ano e 3,1% em 2026, abaixo dos 3,3% registados em 2024 e abaixo também da média histórica pré-pandémica de 3,7%.e no intervalo de 2,8% e 3% tal como revelou o World Economic Outlook publicado há quatro dias.
O FMI justifica esta revisão com as taxas tarifárias efetivas americanas médias terem ficado mais baixas do que as anunciadas há 3 meses, sendo “a taxa efetiva subjacente às projeções a situar-se nos 17,3%, comparativamente aos 24,4% previstos na previsão de referência de abril e as condições financeiras melhoram com ajuda de um dólar americano mais fraco.
Na zona euro, a previsão de crescimento do FMI é agora de 1% em 2025 e de 1,2% para o próximo ano. Já para os EUA, a previsão é agora de crescimento de 1,9% do PIB, ou seja, mais 0,1 pontos percentuais do que em abril, e de 2% em 2026, o que significa mais 0,6 por cento das ultimas previsões, justificado com aumento do consumo, das importações e do investimento, em especial nos equipamentos de processamento de informação.
A China é a grande responsável por esta revisão em alta da economia global. Viu a sua economia crescer 6% no primeiro trimestre, em especial pelo desempenho das exportações e previsão de subir 4,8% em 2026. De acordo com o FMI, muito apoiada por um “renminbi em depreciação que acompanha de perto o dólar e com a diminuição das vendas para os EUA mais do que compensada por vendas fortes para o resto do mundo”.
Já sobre a inflação, o FMI mantém a trajetória descendente de evolução dos preços semelhante à projetada em abril, com uma taxa em queda para 4,2% em 2025 e 3,6% em 2026, mas cauteloso sobre o futuro, pelo cenário esconder “diferenças significativas entre países, com previsões que predizem que a inflação permanecerá acima da meta nos EUA e será mais moderada noutras grandes economias”.
Deixa ainda o alerta sobre eventuais novas tarifas comerciais, uma vez que o nível das atuais vão transmitir-se aos preços no consumidor americano gradualmente na segunda metade de 2025.
Identifica ainda como riscos futuros, o ressurgimento das taxas tarifárias efetivas que podem levar a um crescimento mais fraco, adiciona a escalada das tensões geopolíticas, particularmente no Médio Oriente ou na Ucrânia e vulnerabilidades fiscais mais salientes, com implicações para os mercados financeiros e repercussões na economia real.
Ao nivel da política monetária, o FMI considera que os bancos centrais “devem calibrar cuidadosamente as políticas monetárias às circunstâncias específicas de cada país para manter a estabilidade de preços e financeira no meio de tensões comerciais prolongadas e tarifas em evolução”
Na conferência de imprensa desta terça-feira, em Washington, recordou que o dólar depreciou-se 8%, desde janeiro e tem sido um dos desenvolvimentos importantes nos últimos 3 meses, Pierre disse mesmo que “ o FMI esperava ver alguma força no dólar daqui para frente, mas vimos o oposto. Portanto, é um desenvolvimento significativo, a maneira como pensamos sobre essa depreciação que é ampla, em relação à maioria das outras moedas, com talvez a exceção de algumas, incluindo a chinesa, mais ou menos estável em relação ao dólar americano.”
Quanto a perspetivas de crescimento a médio prazo só podem ser aumentadas se for possível “aliviar de forma sustentável os trade-offs macroeconómicos com necessárias reformas estruturais duradouras em áreas como mercados de trabalho, educação, regulamentação e concorrência, para impulsionar a produtividade e o crescimento potencial”.
Para breve, o FMI promete novos estudos sobre as economias do Japão, India e até Brasil, país em que vê já alguma desaceleração face a tarifas sobre alguns produtos que chegam aos 50% quando 11% das exportações brasileiras vão para os EUA.
