"Forma de pressão negocial." Saída do "parceiro ativo" Ryanair dos Açores representaria "retrocesso económico"

Domenic Aquilina/NurPhoto via AFP
À TSF, o presidente da Câmara de Comércio e Indústria dos Açores, Marcos Couto, pede uma comunicação "melhorada" entre a tutela regional e nacional, por forma a assegurar que este tipo de situações sejam "evitadas" no futuro
O anúncio do fim dos voos da Ryanair para os Açores é visto como um "retrocesso" para a economia da região que "preocupa" vários setores. Ainda assim, é também entendido como uma "forma de pressão negocial" para ver reduzidas taxas aeroportuárias e de navegação aérea.
Em declarações à TSF, o presidente da Associação de Alojamento Local, João Pedro Pinheiro, sublinha que a Ryanair é um "parceiro ativo" e que a sua eventual saída da região representaria um "retrocesso no crescimento económico", sobretudo numa ilha em que o turismo é "muito sazonal" e, por isso, depende das verbas angariadas no verão.
Esclarece, por isso, que vai pedir uma "reunião com motivo de urgência" com as partes envolvidas para perceber o que de facto está em causa: se a companhia aérea pode mesmo deixar de operar nos Açores, se é uma forma de pressão negocial ou até se existe margem para negociações com outras companhias low cost.
E lembra que, depois do fecho de uma base aérea há dois anos em Ponta Delgada, a empresa mostrou interesse em reabri-la para "reforçar os voos para os Açores".
Do lado dos empresários, o presidente da Câmara de Comércio e Indústria dos Açores, Marcos Couto, assume à TSF que é com "preocupação" que olha para este tema - que entende que deve ser desenvolvido de forma "mais lata", tendo em conta o impacto que uma decisão destas tem na economia da ilha.
"O turismo neste momento já é a maior atividade económica exportadora da região, com peso enorme e transversal a toda a atividade económica dos Açores. Desde há algum tempo que temos vindo a alertar para o decréscimo do turismo na época baixa e uma notícia destas, a verificar-se, vem impactar fortemente neste decréscimo", reforça.
Marcos Couto confessa igualmente estranhar a decisão da Ryanair e avisa que a comunicação entre a tutela regional e nacional deve ser "melhorada", por forma a assegurar que este tipo de situações sejam "evitadas" no futuro.
"Esta notícia aparece agora com base num argumento que também nós próprios temos alguma dificuldade em entender, uma vez que, por exemplo, na Base das Lajes, o governo regional dos Açores recentemente aprovou um decreto que isenta as companhias aéreas, não de uma forma definitiva, mas progressiva, as taxas. Por isso, é algo que nos surpreende. Parece-nos claramente que existirão aqui outras razões que não estas que são apresentadas pela Ryanair", alerta.
O presidente da Visit Azores, responsável pela promoção turística dos Açores, Luís Capdeville Botelho, recorda também na TSF que a companhia queria retomar a base aérea no aeroporto de Ponta Delgada para argumentar que esta decisão de "abandonar completamente os Açores" é apenas uma forma de "fazer pressão" no processo negocial em que se encontra.
Luís Capdeville Botelho reconhece, ainda assim, importância do trabalho desempenhado pela Ryanair na região e espera que a empresa possa voltar atrás.
A Ryanair anunciou esta quinta-feira "que irá cancelar todos os voos de/para os Açores a partir de 29 de março de 2026, devido às elevadas taxas aeroportuárias (definidas pelo monopólio aeroportuário francês ANA) e à inação do Governo português, que aumentou as taxas de navegação aérea em +120% após a Covid e introduziu uma taxa de viagem de dois euros, numa altura em que outros Estados da União Europeia (UE) estão a abolir taxas de viagem para garantir o crescimento de capacidade, que é escasso".
A ANA - Aeroportos de Portugal, empresa que gere as infraestruturas aeroportuárias em Portugal, é detida pelo grupo francês Vinci.

