A adoção generalizada da IA generativa na Administração Pública tem um potencial de 1,2 mil milhões de euros anuais de valor acrescentado bruto, revela um estudo da Google encomendado à Católica Business School de Lisboa
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O recurso à utilização de Inteligência Artificial pode potenciar a produtividade média de cada profissional da Administração Pública em 9% numa década, o que seria o valor mais alto em dez anos na melhoria do desempenho da maioria das quase 200 mil pessoas que trabalham na função pública. Com esta ferramenta, os trabalhadores deverão ver as suas tarefas diárias otimizadas.
Esta é apenas uma das conclusões do estudo pedido pela gigante tecnológica norte-americana à Implement Consulting e à Católica Lisbon School of Business and Economics, focado no impacto económico da inteligência artificial especificamente na administração pública portuguesa, por considerar que esse é o ponto de partida estratégico para a revolução de produtividade. Em declaralões à TSF, Filipa Brigola, gestora de políticas públicas na Google Portugal, sublinha que "é aí que a inteligência artificial pode verdadeiramente libertar o maior valor para a nossa economia".
De acordo com a análise, para 66% da força de trabalho da Administração Pública, a tecnologia de IA generativa poderia melhorar uma parte significativa das suas tarefas, o que torna viável a sua integração nos processos diários. A IA pode simplificar interações cruciais com cidadãos, por exemplo, no pré-preenchimento de formulários de documentos e nas empresas, simplificar candidaturas e contratos públicos.
No entender desta responsável, a consolidar-se o aumento de 9% da produtividade de cada colaborador, tal significaria devolver cerca de 1200 milhões de euros à economia todos os anos. Filipa Brigola compara com outros orçamentos, considerando que "este valor acrescentado de 1200 milhões de euros na economia todos os anos é o equivalente a duas vezes o Orçamento do Estado para a Cultura, ou uma vez o Orçamento do Estado para a Coesão Territorial".
"Isso não significa apenas um ganho de eficiência, mas, sim, um aumento de capital que o Estado pode redirecionar para outras prioridades, de outras políticas públicas, nomeadamente serviços essenciais para o cidadão. É um valor, é um investimento direto no valor dos serviços públicos e na capacidade do Estado em servir a sociedade", afirma.
O estudo inclui também um inquérito feito aos funcionários públicos portugueses e 80% dos inquiridos acreditam que as ferramentas de inteligência artificial serão importantes nos próximos dez anos, sendo que 61% confirma que a inteligência artificial já teve um impacto positivo nos seus departamentos de serviços.
Uma grande maioria de respostas ao inquérito, cerca de 83%, considera que reduzir tempo gasto a preencher papelada básica seria um uso muito interessante e valioso da inteligência artificial e, com a sua utilização generalizada, poderá haver um maior foco humano, o que significa um maior apoio ao cidadão.
Filipa Brigola conclui que " há uma amplificação da capacidade humana dos funcionários públicos que, ao serem libertados de tarefas administrativas, podem dedicar mais tempo a prestar um apoio mais próximo ao cidadão. Por exemplo, no setor da educação, a inteligência artificial pode ajudar a libertar os professores das tarefas administrativas diárias e isso significa que eles têm mais tempo para se focar no ensino mais personalizado aos alunos, nas atividades pedagógicas e noutras atividades que melhorem a performance escolar".
Para esta responsável, o inquérito também revela um benefício tangível também para o cidadão e para as empresas, uma vez que "para o cidadão, significa menos burocracia, um acesso mais rápido aos serviços essenciais, como, por exemplo, pedir um passaporte ou registo de nascimento, que se torna cada vez mais rápido e mais acessíveis. Já para as empresas, um bom exemplo significa que os processos de contratação pública poderão ser mais ágeis e mais rápidos."
O estudo revela ainda vários casos práticos noutros países sobre a utilização de inteligência artificial e indica como exemplo, em Portugal, o sucesso do assistente de inteligência artificial do gov.pt, que resolveu 62% das situações relatadas em mais de 17 mil conversas, no primeiro mês, sem intervenção humana. Um caso que leva Filipa Brigola a concluir que é um exemplo em como Portugal pode estar pronto e tem tudo para conseguir avançar com esta mudança transformadora.
Considera que para tirar partido desta oportunidade, o caminho do país deve assentar em três pilares colaborativos entre setores público e privado. O primeiro, é o investimento em infraestruturas digitais. O segundo, a adoção generalizada da inteligência artificial, não só pelo Estado, mas também pelas empresas e o terceiro, a aposta nas competências digitais.
Para a Google, a liderança digital global exige fundações sólidas e atualmente considera que Portugal já é um hub estratégico da conectividade internacional, devido ao seu posicionamento estratégico, mas também pela perceção que o país tem tido relevância na atração deste tipo de investimentos.
A gestora de Políticas Públicas da gigante tecnológica em Portugal realça que "o país está na confluência atlântica entre Europa, África e América e essa importância é visível no tipo de investimentos que a Google tem feito neste domínio. Já temos três cabos submarinos. Um que liga África do Sul a Sesimbra e os últimos dois, que se chamam Nuvem e Sol, que fazem a conexão transatlântica, ligando os Estados Unidos a Portugal, passando pelos Açores, mostrando que são autênticas autoestradas digitais com um potencial económico que pode trazer até 500 milhões de euros ao PIB."
O estudo indica ainda que para capturar este potencial, o país deve ultrapassar barreiras como a tomada de decisões fragmentada ou o risco de dependência de fornecedores (vendor lock-in) depois de identificar várias barreiras. Filipa Brigola enumera algumas, "desde logo, o processo de decisão é fragmentado. Cada entidade, cada departamento da administração pública tem um processo de decisão próprio relativamente à adoção de tecnologias e há um medo generalizado de quebrar as regras e isso, está relacionado com a complexidade e incerteza regulatória. Depois há a questão do risco de dependência excessiva de um só fornecedor, o que em inglês designamos de vendor lock-in e perante estas barreiras, o estudo tem uma recomendação estratégica, que é uma abordagem orientada para o impacto, consciente do risco e baseada em tarefas. Significa que deve ser orientada para o impacto. Por princípio, a adoção deve criar benefícios. Para o cidadão ter interações mais eficientes com os serviços públicos, mas também para as empresas, reduzindo o tempo de resposta e reduzindo os encargos burocráticos e administrativos."
Estudos recentes da Google sobre o impacto económico da inteligência artificial na União Europeia indicam que a inteligência artificial é mais do que uma nova tecnologia e está próxima de se tornar a grande alavanca de competitividade, ao ser capaz de gerar mais de 1,2 mil milhões de euros de aumento do PIB. Reforça esta responsável que "em Portugal os resultados são semelhantes, obviamente, na sua devida proporção".
"O que nós sabemos é que com a adoção generalizada de inteligência artificial generativa, poderá haver ganhos potenciais de 8% do PIB nacional, no seu ano de pico, tornando-se verdadeiramente um motor de crescimento massivo, quando a produtividade é um desafio estrutural. É aqui precisamente que a inteligência artificial assume um papel crítico, porque é a oportunidade que nós temos de apanhar o comboio da frente e de não ficarmos para trás", explica.
Neste domínio, esta organização está a financiar um milhão de dólares para fornecer competências avançadas de IA e orientação profissional personalizada a sete mil estudantes universitários em Portugal, através da INCO e da Chance, que vão colaborar com universidades locais, como, por exemplo, o Instituto Politécnico de Santarém, para oferecer esta formação, preparando os estudantes para prosperarem em setores de emprego transformados pela IA.
