Governo anuncia pacote "superior a dez mil milhões de euros" para responder às tarifas de Trump
O primeiro-ministro fala aos jornalistas na conferência de imprensa no final do Conselho de Ministros
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O primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou esta quinta-feira um pacote "com um volume superior a dez mil milhões de euros" para responder às tarifas aduaneiras aplicadas pelos Estados Unidos.
"Portugal está ligado aos EUA por uma sólida amizade e uma intensa relação política e económica. Ambos somos fundadores da Aliança Atlântica e a nível bilateral temos um acordo de cooperação e defesa (...) Mas, por vezes, até com os nossos grandes amigos temos algumas divergências", explica o primeiro-ministro na conferência de imprensa no final da reunião do Conselho de Ministros.
Focando-se diretamente nas tarifas dos EUA, Luís Montenegro diz que "ameaçam o crescimento económico" e "podem conduzir a um conflito económico que não beneficia ninguém". O chefe de Governo saudou a pausa imposta por Trump, mas avisa que "é apenas uma pausa", garantindo que Portugal está a trabalhar com a União Europeia: "Temos de ter o trabalho feito dentro de portas, mas também à escala europeia."
O primeiro-ministro pede "diálogo" às grandes economias exportadoras e que essas economias apliquem as mesmas regras: "A solução não é a destruição desse comércio livre."
"Os EUA são o quarto destino das nossas exportações (...) e a nossa economia em geral pode ser afetada indiretamente", esclarece, referindo que é preciso atuar no plano interno e externo.
"Reações apressadas e impulsivas, sem avaliação rigorosa, apenas agudizem os problemas. Por isso, há semanas mantemos diária com os nossos parceiros europeus. A União Europeia está a dar a resposta adequada que reflete três princípios: a unidade europeia, uma resposta robusta e proporcional e a defesa dos estados-membros. A prioridade absoluta é a negociação com os EUA", garante e acrescenta que a comunidade europeia também "passa pela diversificação dos mercados", nomeando a Índia, mas apontando o acordo comercial com a Mercosul como "prioridade".
Luís Montenegro diz que o "crescimento económico, o emprego e a segurança estão a ser postos em causa" e diz que o "investimento" em segurança não deve ser olhado como uma "despesa".
"O mundo que várias gerações conheceram, mudou. Nas últimas décadas tivemos paz garantida pela UE e pela NATO e crescimento económico baseado na integração europeia e no comércio livre", disse o líder do Governo.
"Na última década, ao contrário dos nossos aliados, Portugal não fez o investimento com que se comprometera na cimeira da NATO em 2014. Não podemos continuar a adiar", considera o primeiro-ministro.
"Vamos antecipar a meta de atingir os 2% do nosso PIB em investimento em Defesa previsto para 2029. Vamos fazê-lo sem pôr em causa a capacidade do nosso estado social e a estabilidade das contas públicas. Queremos transformar esta necessidade numa oportunidade", garante, anunciando perspetivas de aumentar a "capacidade exportadora" e alavancar "projetos tecnológicos".
Luís Montenegro vê "oportunidade" na indústria para criar "mais e melhor emprego" e pede "um consenso alargado".