Os advogados da companhia aérea acusam Christine Ourmières-Widener de violação do regime de exclusividade por nunca ter informado que trabalhava noutras empresas, mas o contrato com a TAP já previa a acumulação de funções.
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O Governo autorizou Christine Ourmières-Widener a acumular o cargo de CEO da TAP com o papel de administradora noutras duas empresas.
O Jornal Negócios avança esta sexta-feira que o contrato da ex-presidente executiva da companhia aérea portuguesa reconhecia que Ourmières-Widener continuava a desempenhar funções executivas em duas empresas, desde que estivesse garantido que não havia qualquer “conflito de interesses” com a liderança da companhia aérea.
Christine Ourmieres Widener ocupava cargos na ZeroAvia, uma empresa que está a desenvolver projetos com hidrogénio para o setor da aviação e na Met Office, um instituto do Reino Unido ligado à meteorologia.
Uma vez que o contrato, a que o jornal de Negócios teve acesso, salvaguarda que o trabalho de consultoria nestas empresas não representava um potencial conflito de interesses com as responsabilidades de diretora executiva da TAP, pode ser posto em causa um dos principais argumentos apresentados pela companhia para validar o despedimento por justa causa.
Os advogados da TAP acusam a ex-CEO de "sonegar" informação e violar o regime de exclusividade a que estava obrigada na companhia aérea por ter acumulado vários cargos noutras empresas sem informar ou obter autorização, mas o papel da gestora nestas empresas nunca foi escondido, encontrado-se inclusive disponível no perfil de Ourmières-Widener na rede social LinkedIn.
Nesta página, consultada esta manhã pela TSF, podemos ver que a antiga gestora da TAP foi diretora não executiva da Met Office até maio do ano passado. Isto apesar de o contrato com a TAP só ter terminado de forma oficial no dia 12 de abril de 2023.
Já no caso da ZeroAvia, a gestora é, desde fevereiro de 2021 até ao dia de hoje, ainda membro do conselho de administração.
Neste registo profissional na internet a antiga CEO da TAP surge ainda, desde 20 de dezembro de 2019, como fundadora, acionista e administradora da consultora O&W Partners, que não é mencionada no contrato da TAP.
Os advogados da companhia aérea alegam mesmo que, "independentemente das razões que levaram à destituição da Autora, esta sempre deveria ser destituída, com justa causa, por violação do regime de exclusividade aplicável aos gestores públicos com funções executivas".
Christine Ourmières-Widener foi exonerada por justa causa, em abril de 2023, no seguimento da polémica indemnização de meio milhão de euros à antiga administradora Alexandra Reis, que levou à demissão do então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e do seu secretário de Estado Hugo Mendes, e à constituição de uma comissão parlamentar de inquérito à gestão da companhia aérea.