Objetivo: facilitar exportação de eletricidade produzida em excesso, contornando dificuldade em vender para lá dos Pirinéus, e diminuir custo da energia. Protocolo é assinado nesta quinta-feira.
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Há semanas Portugal foi notícia por ter passado quatro dias a consumir apenas energia renovável. Mas do que vale produzir a mais se não se fizer nada com esse excedente?
A solução óbvia - exportar - é difícil de concretizar. Até Espanha a energia vai. O pior é quando se chega aos Pirinéus: as interligações entre a Península Ibérica e França dificultam a operação.
É preciso, portanto, encontrar outro destino - e outra forma de lá chegar.
O destino? Marrocos. O país importa 95% da energia que consome - um consumo que cresce cada vez mais, sustentado pelo desenvolvimento económico. E ainda que Marrocos tenha um enorme potencial na produção fotovoltaica - sol não lhe falta - continua, ainda assim, a produzir muito menos do que necessita.
A forma de lá chegar? Um cabo submarino. O projeto - que os dois países vêm com bons olhos - ainda é só uma ideia, mas pode concretizar-se nos próximos anos.
O primeiro passo é dado nesta quarta-feira: o ministro da Economia assina um protocolo com o ministro da Energia, Minas, Água e Ambiente do Reino de Marrocos, Abdelkader Amara, para o lançamento de um estudo sobre viabilidade técnica e financeira do projeto.
Em declarações à TSF, o secretário de Estado da Energia sustenta que "um dos grandes objetivos da nossa política - e isto é transversal a todos os partidos - é que é fundamental Portugal conseguir colocar fora do país a produção de energia que tem, que consiga exportar o excedente de eletricidade".
Jorge Seguro Sanches sublinha que "é conhecido que ao nível da ligação da Península Ibérica com França temos, há muitos anos, a ambição de reforçar as interligações no sentido de colocar energia fora do país, e também importá-la, quando ela seja mais barata", mas "apesar das muitas declarações políticas e muita vontade política que encontramos nos nossos parceiros europeus, na prática isso não se tem concretizado".
Projeto "sem custo" para os consumidores pode baixar preço da energia
Seguro Sanches explica que o projeto, cujo concurso internacional "poderá ser lançado ainda nesta legislatura", tem por objetivo facilitar a exportação - abrindo portas a empresas portuguesas - mas também diminuir o custo da eletricidade: "é uma grande oportunidade para a nossa exportação, e também de os nossos preços serem mais baixos", argumenta, recordando que Portugal "tem dois problemas: um é conseguirmos exportar a eletricidade, mas há um muito importante e que todos sentimos nas nossas vidas que é o custo da energia".
O governo "ainda não consegue calcular o custo do projeto", que de qualquer forma "será considerável para os dois países", mas o secretário de Estado afirma que tem "sentido, ao nível da União Europeia, vontade e disponibilidade de apoiar financeiramente esta obra". Para já só é conhecido um número: o estudo de viabilidade, "que estará pronto nas primeiras semanas do próximo ano", implica uma despesa de 400 mil euros, a repartir pelos dois países.
Seguro Sanches garante no entanto que o objetivo do governo é que o custo do projeto "não chegue aos consumidores, à semelhança do que acontece em outras interligações, nomeadamente no norte da Europa".