"Há muitos anos que não acontecia." Centeno confirma dívida pública inferior ao PIB
Governador do Banco de Portugal considera que resultado traduz "um esforço que passa pelas famílias, empresas e, necessariamente, pelo Estado".
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O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, confirmou esta quinta-feira que, pela primeira vez em "muitos anos", a dívida pública ficou abaixo dos 100% do Produto Interno Bruto (PIB), no fim de 2023.
Na intervenção de abertura do Fórum Banca, organizado pelo Jornal Económico em Lisboa, Centeno disse que "um dos grandes pilares do sucesso da economia portuguesa é a estabilidade financeira" e que para demonstrar isso gosta de começar pela redução do endividamento, público e privado.
Sobre a dívida pública, disse Centeno: "Ficaremos a saber hoje que está abaixo de 100% [do PIB]", o que "há muitos anos que não acontecia".
O ex-ministro das Finanças acrescentou que esta redução "não é um epifenómeno, não é uma situação que acontece por acaso", mas que "resulta de um esforço que passa pelas famílias, empresas e, necessariamente, pelo Estado".
Sobre as taxas de juro, Centeno adiantou que "se a inflação mantiver nos próximos meses o trajeto que até aqui tem feito, é expectável que a próxima decisão do Banco Central Europeu seja uma decisão de corte das taxas".
"Não sabemos quando vai acontecer, mas sabemos a direção da política. Estou certo que, se isso se materializar (...), podemos iniciar um ciclo de normalização das taxas próximas do seu nível neutral e que a restritividade que ainda se vai fazer sentir durante muitos meses possa gradualmente vir a reduzir-se", acrescentou.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou esta semana que a economia portuguesa cresceu 2,3% na totalidade do ano, tendo registado uma expansão homóloga de 2,2% e em cadeia de 0,8% no quarto trimestre.
Centeno avisa que fraco crescimento pode ter impacto no emprego
"Numa economia que não cresce há um ano e meio é difícil garantir que esta dinâmica não se refletirá no mercado de trabalho", disse Mário Centeno, elogiando a "resiliência" do emprego que para já se tem verificado.
Ainda assim, segundo Centeno "todos os cuidados são poucos", pedindo cautela quer no aumento dos salários quer na margem de lucro das empresas (uma ideia que tem vindo a repetir nas suas intervenções públicas).
Para o governador do BdP, até agora o mercado de trabalho é que tem sido o suporte da recuperação económica e o que tem evitado a estagflação (expressão económica que designa um cenário em que se combinam inflação elevada, crescimento nulo e aumento do desemprego) é "o facto de a taxa de desemprego se manter abaixa" pelo que é preciso garantir que assim permaneça.
A taxa de desemprego manteve-se em 6,6% em dezembro de 2023, igual à do mês anterior e abaixo dos 6,7% do mesmo mês de 2022, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Já o número de desempregados inscritos nos centros de emprego aumentou em dezembro de 2023 pelo sexto mês consecutivo, subindo 3,5% em termos homólogos e 1,7% em cadeia, para 317.659, segundo dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).
Notícia atualizada às 10h31
