Diretor da Católica Lisbon alerta para possíveis implicações da saída do Reino Unido, avisa que fim do programa do BCE "vai trazer alguns problemas" e lamenta que contas de Centeno não sejam já positivas.
Corpo do artigo
A saída do Reino Unido tem implicações diversas, nomeadamente nas relações comerciais e ao nível do mercado de trabalho, mas o diretor da Catolica Lisbon School of Business and Economics está sobretudo preocupado com consequências mais abrangentes. "Há o risco de o Brexit transladar para uma nova crise financeira, [porque] Londres é uma das principais praças financeiras da Europa e grande parte dos contratos financeiros estão aí sediados", avisa Nuno Fernandes, em entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo.
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2019/01/avd_nuno_fernandes_destaque_1_20190105003626/hls/video.m3u8
"Como é que esta transição vai ser feita quando temos um montante tão grande de contratos em libras e domiciliados no Reino Unido?", questiona o professor de Finanças, especializado em mercados financeiros internacionais. "É uma questão que não está totalmente resolvida e que me preocupa", reconhece.
TSF\audio\2019\01\noticias\04\05_janeiro_2019_a_vida_do_dinheiro_joao_fernandes
A importância do BCE e de uma consolidação mais rápida
Outro dos riscos externos para Portugal chega através do fim do programa de compra de dívida do Banco Central Europeu, que injetou em Portugal mais de 36 mil milhões de euros em 3 anos, num total de 2,1 biliões em toda a zona Euro.
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2019/01/avd_nuno_fernandes_destaque_2_20190105003714/hls/video.m3u8
A principal implicação "vai ser o aumento das taxas de juro, que é expectável que aconteça nos próximos anos", lembra Nuno Fernandes. "Neste momento as taxas de juro estão num nível anormalmente baixas, nunca houve na História taxas de juro tão baixas, portanto, voltar para a média de taxas de juro normais, de regimes estáveis, vai trazer-nos alguns problemas", antevê o dean da escola de negócios da Universidade Católica.
"Cada português deve ao estrangeiro cerca de 25 mil euros. Um aumento de 1% nas taxas de juros - até provavelmente mais -, significa que cada português vai ter de contribuir 250 euros a mais. O que quero dizer é que o aumento das taxas de juro vai aumentar o encargo financeiro do nosso Governo", alerta Nuno Fernandes, que faz as contas ao que Portugal poupou só este ano: "Em 2018 se as taxas de juro tivessem estado na média desde a nossa adesão à zona Euro, o défice orçamental nesse ano teria sido perto dos 3% e não os zero vírgula qualquer coisa".
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2019/01/avd_nuno_fernandes_destaque_3_20190105003749/hls/video.m3u8
O professor de Finanças diz ainda estar "um bocadinho desanimado" com o ritmo de consolidação orçamental, apesar de entender que o caminho traçado pelo ministro das Finanças é o correto. "Para 2019 poderíamos já ter um superavit, mas não vamos ter", lamenta. Uma questão que para Nuno Fernandes é "muito importante", porque implicaria "começarmos a reduzir a nossa dívida pública em valor absoluto".
Em relação ao crescimento económico, o diretor da Católica Lisbon até admite que a previsão em torno dos 2% seja realista, mas entende que Portugal ainda cresce "a um nível razoavelmente baixo para o que deveria ser".
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2019/01/avd_nuno_fernandes_destaque_4_20190105003601/hls/video.m3u8
Problema de competitividade por falta de formação em gestão
Nesta entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo, Nuno Fernandes identifica ainda um problema de competitividade por falta de aposta na formação em gestão, com Portugal a investir neste capítulo seis vezes menos do que a Holanda e 16 vezes menos que Espanha.
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2019/01/avd_nuno_fernandes_destaque_6_20190105003808/hls/video.m3u8
O impacto? "Um défice de competitividade via gestão. E quando não conseguimos entrar em cadeias de valor internacionais, que hoje são muito complexas, grande parte tem a ver com não estarmos capacitados a nível das principais empresas para entrar nestas cadeiras de valor internacionais". Nuno Fernandes conclui que as empresas acabam por "fugir para os mercados confortáveis", limitando a capacidade exportadora do país.