O JP.Group está a desenvolver novos equipamentos não só para as áreas da Educação, como também para as administrações públicas dos Estados e tem em perspetiva novos negócios em África e América Latina à boleia do acordo a cinco anos com três agências ligadas à ONU, mas também expetativas de mais contratos em Portugal
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O mini portátil Magalhães foi a ignição dos negócios do antigo grupo JP Sá Couto, agora designado JP.Group, que conseguiu com este equipamento e com o seu sucessor, o Tsunami, conquistar 50 mercados. Agora, está a desenvolver novas soluções e equipamentos não só para salas de aula, como para modernização das máquinas dos Estados, em domínios, como o Census ou os próprios atos eleitorais.
Depois da experiência nas últimas eleições em Portugal e no Quénia, a empresa mantém negociações com o governo português para servir novas soluções aos serviços públicos, incluindo para atos eleitorais.
Jorge Sá Couto, presidente da empresa, critica a Europa pela legislação e regulação que está a estrangular quem quer fabricar tecnologia ao nível do hardware.
Em entrevista à TSF, considera que “há um grande desequilíbrio, quer em legislação, quer noutras áreas, como a laboral, o que não torna muito vantajoso poder montar cá qualquer coisa".
"Além disso, a carga de regulação é tremenda e havia que arranjar uma forma atraente de captar talentos e industrias tecnológicas, porque neste momento não é atraente. Nós continuamos a fazê-lo, porque somos daqui. Gostamos de cá viver e das pessoas que trabalham connosco, mas não há propriamente incentivos declarados. Não no sentido de convidar a que façam isto aqui, que vão ter determinadas vantagens e conseguem ser competitivos, porque, no final, não é só investimento, é a competitividade que depois temos num mundo que é global e não tem sido fácil. Tinha de haver umas políticas da Europa um pouco mais direcionadas para se poder criar mais riqueza aqui e estou a falar especificamente nesta área de tecnologias", explica.
Nesta altura, a empresa estuda novas soluções e equipamentos para projetos de digitalização em processos eleitorais, depois de testar no Quénia e nas últimas eleições em Portugal. Jorge Sá Couto considera que teve visibilidade e afirma: "No ano passado vendemos os equipamentos para as eleições e foi muito visível na nossa marca Tsunami e é interessante porque é um novo ramo que já tínhamos testado uma vez no passado, ao fazer o Census do Quénia, o que nos abriu o apetite para fazermos outros projetos verticais, que não de educação, utilizando já o nosso conhecimento, quer em produto, quer em desenvolvimento de projeto."
Este é um domínio que classifica como "interessante" e que a empresa vai explorar com novas áreas de negócio no futuro, nomeadamente em outros projetos para os diversos Estados. Há uma panóplia de produtos que se podem desenvolver, incluindo a nível de eleições, com cadernos eleitorais digitalizados ou máquinas de voto. Jorge Sá Couto adianta que está, neste momento, a ter reuniões para desenvolvimento de alguns produtos.
“Sabemos que é uma área difícil, que precisamos de diferentes parceiros, de tecnológicos, de cibersegurança, ou de software e é esse trabalho que estamos a fazer para que no futuro possamos ter produtos diferenciados noutras áreas e que sejam produtos portugueses, com know-how e patentes que sejam nacionais, que será sempre um valor acrescentado, quer para nós, quer para o país", sublinha.
No entanto, nem tudo é um mar de rosas. A pandemia agravou a crise das cadeias de fornecimento, mas o empresário espera pela reindustrialização da Europa para deixar de depender de grandes gigantes mundiais, que provocaram a crise dos microchips.
Jorge Sá Couto desconhece se o fabrico de chips nos EUA tem algum reflexo na Europa em termos de agravamento de taxas, mas sabe que um dos seus parceiros de negócio, a Intel, está a planear construir uma grande fábrica na Alemanha. "Caso avance, nós poderemo-nos abastecer nesta fábrica, evitando, assim, algumas taxações que outros países queiram colocar. Continuamos a depender da Ásia, mas está no nosso roadmap passar a comprar algumas coisas na própria Europa, mas dependendo do desenvolvimento europeu nesta questão dos microchips, que neste momento está lenta. Nós queremos lentamente ir fazendo a migração para fabricantes e fornecedores que produzam na Europa, porque faz todo o sentido", refere.
Nesta altura, tem vários negócios novos em vista. Numa altura em que já está presente em 50 países, espera potenciar o acordo realizado no ano passado com algumas organizações supranacionais, como agências de compras ligadas a instituições da ONU, incluindo a UNESCO e a própria Liga Árabe, para a empresa se tornar a principal fornecedora de equipamentos a países mais desfavorecidos.
"Temos um acordo de longo termo, para cinco anos, por um lado, e, por outro, trabalhamos alguns projetos-piloto com a UNESCO em África e também trabalhamos com a Alexu e com a Liga Árabe a fazer alguns projetos, quer para professores, quer para alunos e algumas doações em países desfavorecidos", afirma.
Nos novos planos para África, espera iniciar atividade em Angola e Moçambique e dar continuidade a projetos em países como Botsuana, Ruanda ou Quénia.
“Temos um projeto já desde 2017 no Quénia, que na altura envolveu uma joint-venture com uma universidade e uma fábrica local e, este ano, estamos a fazer mais uma joint-venture com outra universidade, porque o Quénia quer acelerar ainda mais o seu projeto de educação nas escolas e vai ter mais quantidade de equipamentos e massa humana a trabalhar. Por isso, estamos a desenvolver com eles o que vai ser o futuro dos próximos anos em termos de educação. Continuamos a trabalhar na África do Sul. Ganhamos um tender no Botsuana. Estamos em negociações com uma empresa do Ruanda para podermos fazer uma joint-venture. Temos alguma expressão no Gana. Estamos a entrar na Tanzânia e obviamente que temos Angola e Moçambique como questões fulcrais e esperamos que agora, com as soluções que temos para infraestrutura escolar, possam começar a fazer algum negócio de expressão nestes países.”
Na América Latina, o negócio vai com altos e baixos, desde a Venezuela, à Argentina e Bolívia, mas mantém o Uruguai como referência por ser o país que pesa 15% no volume total de negócios da empresa.
“O país que temos como referência na América Latina é o Uruguai, que nunca alterou o seu comportamento face ao plano Cebal, que trabalhamos desde 2009 e continua muito consistente, além de ser um show-case para todos os outros países. Continuam a trabalhar connosco um projeto cada vez mais dinâmico e diversificado, que vai desde a pré-primária até aos seniores. É um projeto muito interessante, que gostamos muito e vale a pena conhecer um pouco mais.”
O JP.Group tem crescido a um ritmo de 20% ao ano e espera manter essa trajetória.
