"Hoteleiros abertos à integração dos imigrantes, mas habitação cabe ao Estado resolver"
A afirmação é de Bernardo Trindade, reeleito para o segundo mandato na presidência da Associação da Hotelaria de Portugal. Em entrevista à TSF, fala ainda do que o país está a perder pela falta do TGV, das soluções de curto prazo para o aumento dos fluxos turísticos, da TAP, do Alojamento Local e da taxa turística
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Bernardo Trindade coloca a Habitação no centro das preocupações atuais, quer para os profissionais do setor, em especial, para os imigrantes, quer para a restante população, por considerar ser uma necessidade constitucional a que o Estado deve dar resposta. O economista natural da Madeira e antigo secretário de Estado do Turismo, entre 2005 e 2011, foi reeleito para um segundo mandato à frente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), prometendo dar continuidade ao trabalho já iniciado, que passa por aumentar o número de associados, que são cerca de 950 e representam mais de 65% do setor, e prosseguir com a pegada ambiental, com a continuidade do programa HEART (Hospitality, Environment and Responsible Tourism), que promove práticas sustentáveis, como a doação de excedentes alimentares, além de estimular o investimento no interior e na insularidade do país.
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Em entrevista à TSF, sublinha que os hoteleiros têm estado sempre disponíveis para definir políticas de acolhimento e regulação, depois do contributo dado no âmbito da Confederação do Turismo, no processo de acelerar o regime de obtenção de visto de residência, uma vez que o setor, de acordo com estimativas da própria AHP, precisa de mais 45 mil trabalhadores e só a hotelaria necessita de mais 15 mil, calculando que cerca de 15% do total dos atuais trabalhadores sejam imigrantes.
Confrontado com as propostas de alteração à lei da nacionalidade e à lei dos estrangeiros, deixa um recado: cabe ao Estado garantir habitação às comunidades imigrantes que trabalham no setor, podendo todos os intervenientes agir no sentido de encontrar uma solução em termos de integração laboral e de acolhimento.
Preocupado com a imagem do turismo, devido às manifestações públicas que têm percorrido várias cidades da Península Ibérica já há alguns meses, muitas ligando a explosão do turismo à crise da Habitação, Bernardo Trindade sublinha que a escassez de habitação não é responsabilidade do turismo, é uma necessidade constitucional de todos e cabe aos poderes públicos aumentar o parque habitacional.
Considera ainda que é preciso acompanhamento desse tipo de fenómenos, haver mais comunicação com as populações, bem como acompanhar a realidade das cidades, em fenómenos como o Alojamento Local (AL). Sobre este tema, defende que é preciso haver regulação, numa altura em está em análise o futuro regulamento do AL em Lisboa, onde a autarquia quer restringir significativamente a atribuição de novas licenças.
Quanto à taxa turística, adianta que, nesta altura, apenas 50 dos 318 municípios do país estão a cobrá-la, mas a posterior aplicação dessas receitas deve ser explicada pelas autarquias às populações e o sector deveria fazer parte desse processo de avaliação, dando como exemplo a intervenção feita em Lisboa, cidade que num ano duplicou o valor cobrado quando o turismo apenas tinha crescido 8%.
Para Bernardo Trindade, se o setor do Turismo é um dos principais motores da economia nacional, o investimento deve ser acarinhado e o hub aéreo preservado.
Defende que a TAP deve continuar a ser companhia de bandeira e, apesar de elogiar o interesse por grupos privados internacionais no processo de privatização, aponta que a transportadora aérea deve continuar com uma participação estatal, até pela ligação com a diáspora portuguesa no mundo.
O presidente da AHP elogia o consenso político sobre o futuro novo aeroporto Luís de Camões, em Alcochete, mas considera que é um projeto de longo prazo, que, pelo esforço exigido ao nível do investimento na sua construção, não deve condicionar o crescimento do turismo, sendo necessárias respostas de curto prazo, como o aumento da estadia média e a mobilização de esforços conjuntos para outros recursos satélites, como outras infraestruturas aeroportuárias, para manter o turismo como motor da economia.
Também não ajuda a falta de ligações ferroviárias e, citando José Saramago, diz que o país não pode ser uma jangada de pedra que termina na fronteira. Precisa, sim, da ligação de alta velocidade a Espanha, afirmando que Portugal está a perder turismo pela falta de construção da linha de TGV a Madrid, cujos atrasos o empresário justifica com a falta de prioridade política dos sucessivos Governos.
O crescimento de rotas e do número de hotéis no Porto, a juntar à força de trabalho e ao crescente número de visitantes, revelam o forte dinamismo da região Norte na economia portuguesa, confirmando que o próximo congresso da AHP, que se realiza de dois em dois anos, vai mesmo ser na cidade Invicta, em fevereiro de 2026.
