Nem as árvores derrubadas pela tempestade, a chuva e o vento intenso impediram o debate sobre os problemas por resolver na hotelaria, como a falta de mão de obra e o impacto de novas eleições
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Os hoteleiros estão reunidos em congresso da ADHP no parque de campismo do INATEL, na Caparica, à espera que passe depressa o clima eleitoral do país e que se suavizem as tensões geopolíticas internacionais, para manter ou mesmo aumentar a velocidade cruzeiro no crescimento.
Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo, no discurso de abertura, revelou preocupação com a governabilidade do país, mas sublinhou que "o turismo resiste, mesmo apesar das instabilidades e será, mais uma vez, um fator de sustento da economia”.
O líder da CTP recordou vários desafios que estes e outros profissionais vão continuar a ter pela frente, pela falta de acessibilidades do novo aeroporto de Lisboa e de uma linha férrea mais moderna, ou ainda a solução para a TAP e a carga fiscal. Concluiu que muito se irá atrasar por causa do atual momento político do país e desejou que a situação se resolva de uma forma célere para que os dossiês em curso não sejam bloqueados.
Na resposta, Pedro Machado, secretário de Estado do Turismo, fez saber que é um homem de fé e acredita que nem as eleições vão travar o crescimento do sector.
Tal como Carla Salsinha, presidente da Entidade Regional do Turismo de Lisboa, o governante deu conta da preocupação com os mais de 216 milhões de migrantes previstos até 2050 no planeta e considerou que Portugal pode ser referência na integração de comunidades, através de iniciativas como o projeto-piloto desenvolvido em Lisboa através de formação técnica e aprendizagem da língua portuguesa, que contou com cerca de seis mil candidatos de 88 nacionalidades para as mil vagas existentes e que envolveu cerca de 300 empresas turísticas.
Fernando Garrido, presidente da ADHP, espera que passe depressa o clima eleitoral do país para que o sector atinja a velocidade cruzeiro no crescimento, uma vez que tem demonstrado resiliência desde a pandemia.
Já a autarca de Almada, anfitriã do evento, aproveitou a presença de Pedro Machado para dizer que "não basta ensinar a língua portuguesa às comunidades migrantes, é preciso integrá-las com habitação e condições de trabalho". Inês de Medeiros deixou ainda farpas ao Governo pela falta de celeridade na agilização de processos que travam o avanço de projetos fundamentais para o desenvolvimento do concelho.
No último ano, Almada integrou pela primeira vez o top cinco do ranking de 18 concelhos da Área Metropolitana de Lisboa com maior procura turística, quando até aqui apenas dois municípios representavam 80% da atividade total da região.
Almada espera autorizações do Estado para avançar com vários projetos de glamping, entre outros, adiantou a autarca, e continua a registar uma procura de visitantes pelo Cristo Rei que colocam o concelho como segundo destino do turismo religioso português, logo a seguir a Fátima.
Inês de Medeiros afirma que é também o concelho mais procurado na prática de surf, para onde confluem praticantes de todas as idades e origens em qualquer altura do ano para as praias da Caparica, todas equipadas com escolas de aprendizagem para a prática da modalidade.
Quanto aos desafios futuros, a reflexão sobre a autonomia (ou não) da hotelaria, esse foi um debate deixado para o segundo e último dia do congresso, que no final do primeiro dia registava mais de 700 participantes.
No painel de reflexão sobre "O Diretor do Amanhã: Visão e Inovação”, moderado por Carlos Diez de La Lastra, CEO da Les Roches Global, a conversa sobre a retenção de talento dominou o debate com Patrícia Correia, diretora de hotel e professora especialista VP for Events da ADHP, a defender a inclusão de ideias dos jovens profissionais na gestão das empresas.
Também Morey Pérez Intriago, diretor de Hotel, formador vice-presidente da AEDH Espanha, realçou a importância de harmonizar formas de trabalho entre diferentes gerações. Opinião partilhada por Luigi Sciarra, diretor de hotel, coordenador da ADA Itália e presidente da Skal International-Roma.
Reter talento, integrar novas gerações de profissionais, mas, acima de tudo, ser sensível à questão multicultural, pela diferença de hábitos que, por vezes, existe em comunidades vindas de diferentes partes do planeta e que se encontram a trabalhar no mesmo ramo, na mesma empresa, no mesmo departamento, como defendeu Jürgen Gangl, diretor de hotel, presidente da HDV Alemanha.
O sector do alojamento turístico registou 1,6 milhões de hóspedes (+8,3%) e 3,7 milhões de dormidas (+6,3%) em janeiro de 2025, gerando 262 milhões de euros, de acordo com dados preliminares do INE.
Com o intuito de fazer crescer as taxas de ocupação, ainda subiu a debate as estratégias de vendas, incluindo o segmento digital, tendo em atenção, as questões da cibersegurança que se colocam aos operadores, questões essas trazidas a palco por Isabel Baptista Conselheira de Ciber-telecom Núcleo Digital Telecom Rep. Permanente de Portugal em Bruxelas
O congresso da ADHP teve ainda a participação de representantes de empresas, como Ricardo Furtado, Diretor Comercial do grupo Altis, Rui Ribeiro, Market Team Manager da Booking.com, Duarte Rodrigues Sales & Product Manager das Aldeias Históricas de Portugal, João Luis Moita Managing Partner da TigerTeam.
Já Ribau Esteves, autarca de Aveiro, falou de governança municipal no desenvolvimento turístico, focado na necessidade da proteção digital de dados na hotelaria.
