A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) está a dar os primeiros passos na aplicação de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) na supervisão do mercado de capitais.
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O presidente da CMVM, Luís Laginha de Sousa, revelou à TSF que a IA faz pare de “um caminho que estamos a fazer. A integração das ferramentas de IA na esfera da supervisão está a dar os seus primeiros passos”.
Antes de tomarem decisões de médio e longo prazo a CMVM está a fazer um trabalho de análise do grau de maturidade das tecnologias por isso “estamos ainda numa fase muito inicial, mas estamos fortemente comprometidos e empenhados em tirar partido daquilo que a tecnologia tem de bom e temos neste momento um projeto muito relevante em curso para nos ajudar a criar um mapa para irmos progressivamente integrando estas ferramentas”, adiantou Luís Laginha de Sousa.
A questão da transformação digital é um dos três temas que vão estar esta quinta feira em debate, em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian, na conferência anual da CMVM.
No momento em que os operadores do mercado já criaram “robots” que usam algoritmos de negociação para darem ordens de compra e de venda; essas atividades são “supervisionadas pela cmvm, e pelo outros supervisores, que fazem a monitorização. É uma matéria que requer estar sempre em constante evolução porque os actores do mercado também eles próprios, vão inovando na forma de estar e nós temos que acompanhar”, sublinha.
Outro desafio da transformação digital passa pelas plataformas tecnológicas de trading low cost que estão a atrair clientes em Portugal onde algumas dessas plataformas estão fora de jurisdição da CMVM.
Luís Laginha de Sousa lembra que “antes de um potencial investidor tomar qualquer decisão tem de saber se efetivamente a entidade (a que está recorrer) é supervisionada ou não e saber por quem é que é supervisionada”, porque hoje, podem atuar em Portugal entidades supervisionadas noutros países.
O mercado de capitais como carteira para a reforma
A transformação demográfica, com o envelhecimento da população e a pressão nos sistemas de Segurança Social levam a pensar que os reformados do futuro vão ter uma forte degradação dos rendimentos.
“A forma de evitar essa perda de rendimento seria alargar as contribuições da segurança social pela via dos impostos, mas nós já sabemos o que é que isso já representa ao nível da carga fiscal, ou então encontrar aqui uma forma de se começar a constituir poupança que seja aplicada de modo a que ela vá crescendo e que na altura em que as pessoas atingem a idade da reforma, ela possa compensar o redução de rendimento que têm pela via da pensão, que é assegurada pela segurança social”, sugere o presente da CMVM.
E, “o mercado de capitais em termos históricos é aquele que sustentadamente dá mais rendimento”, sublinha.
A transformação energética
Outro dos painéis em discussão na conferência da CMVM passa pelo contributo do mercado de capitais para combater as alterações climáticas, o que passa por atingir a neutralidade carbónica que “não é compatível com o recurso apenas a financiamento Público nem ao financiamento bancário e, portanto, o mercado de capitais é seguramente um elemento a ter em conta”, lembra Luís Laginha de Sousa.
Os investidores, por exemplo em obrigações verdes, quando fazem as suas escolhas têm que ter garantias de que não estão a patrocinar o greenwashing de uma empresa.
Para o presidente da CMVM, “os supervisores estão a actuar e vão continuar a atuar de uma maneira progressiva, de modo a assegurar que aquilo que é essencial, que é os investidores conhecerem a cada momento os produtos em que investem e poderem fazer as suas escolhas”, conclui.