Investimento na Defesa "fica fora da contabilidade", mas "dentro das carteiras" dos portugueses
"Eu coloco a questão: será que a guerra não se esticará nos próximos dez, 15 ou 20 anos? Porque, se assim for, já não é uma situação excecional, é uma situação permanente, e, por isso, o regime extraordinário da flexibilização das contas públicas tem de ser alterado", evidencia à TSF Filipe Grilo, professor de economia
Corpo do artigo
O professor de economia da Porto Business School Filipe Grilo avisa que os portugueses vão ter de abrir as carteiras, caso a Comissão Europeia viabilize a proposta do Governo português.
O Executivo vai pedir à Comissão Europeia a ativação da cláusula que permite uma exceção ao cumprimento das regras orçamentais para acomodar o aumento de despesa com a área da Defesa.
Para Filipe Grilo, não há como "enganar": apesar de este investimento poder vir a "ficar fora da contabilidade, "fica dentro das carteiras" dos portugueses.
"O dinheiro vai ter que vir dos impostos ou via redução de despesa. Vamos ter de pagar isto. Qualquer aumento de despesa ou se paga através de impostos, ou se paga através de uma poupança de outra despesa", alerta, em declarações à TSF.
O professor de economia garante ainda que "qualquer ministro das Finanças" que diga ao país que não há motivo de preocupação porque a ativação desta cláusula não implica um pagamento direto está a mentir.
"É falso. Vamos ter de pagar, apenas não vai ficar na contabilidade oficial", explica.
Considera igualmente que esta é uma "tendência" da União Europeia que poderá alastrar-se aos restantes 26 Estados-membros. Mas Filipe Grilo reflete sobre as lições aprendidas com as experiências do passado, sobretudo durante a pandemia de Covid-19, para argumentar que as "contabilidades também têm de ter algum regime de exceção". Ainda assim, reflete se o cenário de guerra, temido pelos países europeus, se pode classificar como uma situação temporária.
"Eu coloco a questão: será que a guerra não se esticará nos próximos dez, 15 ou 20 anos? Porque, se assim for, já não é uma situação excecional, é uma situação permanente, e, por isso, o regime extraordinário da flexibilização das contas públicas tem de ser alterado", evidencia.
O professor de economia sublinha ainda a necessidade de o Governo português "identificar" e, que é que vai de facto investir quando se refere à área da Defesa.
