Ex-vice governador do Banco de Portugal diz que veículo defendido por Costa não resolve o problema de fundo. Critica a Europa. E defende fusão Novo Banco/BCP. Entrevista TSF.
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O ex-vice-governador do Banco de Portugal, João Salgueiro, acredita que as regras europeias para a banca estão a encontrar Portugal a uma posição muito frágil. E defende que Portugal deve bater-se na UE pela revisão dessas regras. Mas na Entrevista TSF desta semana, o ex-banqueiro mostra duvidas que o veículo financeiro proposto por António Costa e pelo governador do Banco de Portugal possa resolver o problema no sistema financeiro:
"Faria sentido se tivéssemos resolvido o problema de fundo", defende o antigo banqueiro. E o problema de fundo é o da economia, produtividade e da criação de condições para captação de investimento. "Vamos fazer um veículo sem perspetivas de crescimento, não vai resolver o problema de confiança", acrescenta ainda.
Mais até: João Salgueiro reforça as dúvidas por falta de informação - e pelo conhecimento de como tudo está organizado na União Bancária que vigora na zona euro: "É que não se sabe qual é o modelo. A Espanha fez isso há anos, a Itália ainda está a negociar. De onde vem o dinheiro, com que regras? Conseguiremos uma exceção em relação ao que existe?"
Quanto à proposta que Carlos Costa enviou aos colegas do BCE, ontem noticiada pela TSF, João Salgueiro tem muitas dúvidas que venha a ser aceite - nomeadamente a decisão de dar garantia europeia ao malparado que saia dos bancos para o tal veículo financeiro:
"Não é nada fácil que seja aceite, são 4 ou 5 países que têm esse problema. Numa altura em que cada um está a tratar de si, é muito complicado".
Para o ex-presidente da Associação Portuguesa de Bancos, seria vantajoso ver que o país político encontrasse uma resposta consensualizada para estes problemas:
"Não estamos a caminhar neste sentido [de um acordo de regime sobre a banca]. O governo tem sido muito hábil a gerir uma situação que é quase impossível. Basta que a UE ou um dos partidos mude a sua posição para termos um sarilho muito grande. E não é muito fácil inspirar os investidores para virem para cá".
Mesmo para o Novo Banco, tudo parece difícil de resolver com vantagens para o país, defende João Salgueiro. E exige que sejam abertas outras hipóteses que não a venda direta. Uma das alternativas que propõe é uma fusão do BCP com o Novo Banco. Eis as hipóteses que põe em cima da mesa: "Fazer um grande banco português - e pode ser a fusão do Novo Banco com o BCP. Também se pode tentar o modelo que está com mais tempo; tentar capitalizar o banco com acionistas com menos de 10%. Pode-se ir fazer um IPO sucessivo".