Junção da devastação dos incêndios com as tarifas: jovens agricultores temem impactos
Receios manifestados por Firmino Cordeiro, diretor-geral da AJAP, que pede na TSF um pacto de regime. Admite ainda que as consequências da devastação da área ardida aliadas aos custos das tarifas norte-americanas tragam impactos significativos à atividade agrícola nesta reta final do ano
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Firmino Cordeiro, diretor-geral da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), considera que, apesar do bom comportamento das exportações do sector primário no 1.º semestre do ano — com crescimento a dois dígitos em alguns segmentos, como nas frutas e legumes —, devem ser acautelados efeitos dos impactos das tarifas norte-americanas sobre produtos europeus, bem como as consequências dos incêndios deste verão.
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Com cerca de 1/3 do território do interior devastado pelos últimos incêndios, apela mesmo na TSF a um pacto de regime para a gestão e prevenção florestal.
"Temos de ter uma estratégia. Um pacto entre os partidos com representação na Assembleia da República que ultrapasse os ciclos eleitorais das legislativas, por forma a que tenhamos consciência que, se não se fizer isso, repetitivamente com medidas assertivas, bem que se pode fazer, de quando em vez, a avaliação dos resultados (que tem de ser feita), [mas] nós não conseguimos inverter esta situação."
Em entrevista à TSF, aplaude ainda as medidas de mitigação de impactos dos fogos rurais, mas adverte o Governo que não basta lançar pacotes de apoio de curto prazo, porque nada garante que a tragédia não volte a acontecer. Por isso, afirma: "Um pacote para repor potencial produtivo nunca vai repor o potencial produtivo na sua totalidade, pois um pomar leva com sete, dez ou até 15 anos para voltar a ser produtivo e são precisos meios e anos para replantar outro. Já viram o juízo que esta gente tem? Não sei sequer se vai haver vontade de refazer aquela que era as suas vidas. Por isso, acho que estamos a passar um momento delicado e espero que isto não se esqueça num curto espaço de tempo."
O representante dos jovens agricultores reforça, neste seguimento, a ideia da necessidade de políticas de longo prazo para o sector primário, referindo que "o Governo tem de ter essa perceção". Medidas de curto prazo "podem dar votos, vale umas fotografias, mas não se pode utilizar muito essas estratégias em territórios cruciais para o país e onde é preciso combater o abandono rural, quer ao nível das atividades económicas, quer social e das populações, do envelhecimento e desertificação, contrariando o que se está a verificar vezes sem conta e ninguém pode deixar que isto aconteça".
Firmino Cordeiro aplaude a capacidade de resiliência do sector pelo nível de desempenho das exportações no 1.º semestre, destacando o comportamento do segmento de frutas, legumes e flores com uma subida de 9,5%, ultrapassando os 1288 milhões de euros. É preciso ter em conta, por exemplo, que nos primeiros seis meses do ano foi registado um aumento de preços dos produtos agrícolas, como no leite e nos cereais.
Numa altura em que se prevê uma diminuição no Orçamento Europeu para a Agricultura, no âmbito da PAC, entraram em vigor as tarifas norte-americanas sobre produtos europeus e, a juntar às consequências ainda imprevisíveis da devastação dos incêndios, leva a receios quanto à dinâmica da atividade que se irá registar até final do ano.
Firmino Cordeiro desabafa: "Claro que tememos o efeito das tarifas. São problemáticas. Basta olhar para os vinhos, que têm de aumentar o preço no consumidor final, porque aumentam os preços na produção, ou seja, acaba o setor por criar uma tarifa extra, nada abonatória para o país. A questão é sempre delicada para os mercados. É uma espécie de ping-pong e, quando os economistas falam sobre o assunto, não encontro uma fundamentação técnica. Claro que os objetivos que levam à sua implementação seguramente que nos ultrapassam e não se entende como possam funcionar, pois uma coisa é fiscalizar, outra é dificultar."
Mesmo assim, o diretor da AJAP mantém algum otimismo no futuro pelo avanço das negociações da Europa com o Mercosul, colocando esperança no retorno que pode trazer para Portugal pela relação transatlântica que tem com o Brasil e pela possível redução na taxação de bens importados por aquele país para as empresas portuguesas.
A AJAP prepara-se para percorrer o país de Norte a Sul (datas ainda por definir) para apresentar a nova plataforma “Laboratório Vivo de Agricultura 4.1”, cujo objetivo é ajudar a capacitar quem trabalha na agricultura.
