O início da obra de construção do novo terminal fluvial de Castanheira do Ribatejo foi assinalado esta semana com a apresentação do projeto, que será executado num prazo de 12 meses. Prevê criar 50 postos de trabalho diretos e 200 indiretos
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O novo terminal fluvial de Castanheira do Ribatejo, situado junto à nova plataforma logística do Carregado, foi apresentado esta semana, numa cerimónia que contou com os vários parceiros, desde empresários até autarcas e membros do Governo. Ficou-se a saber que é um projeto a executar num prazo de 12 meses e que vai criar 50 postos de trabalho diretos e 200 indiretos.
É mais do que um novo cais portuário: marca um avanço estratégico na intermodalidade do transporte de mercadorias e passa a ser uma nova porta de entrada e de saída do porto de Lisboa, visando reforçar toda a região como um hub logístico de referência.
Lançada a primeira pedra de uma obra a executar pela Mota-Engil em 12 meses numa área de dois hectares, o terminal vai incluir um cais de atracação com rampas de acesso, uma grua elétrica e equipamentos portuários adequados à operação. Vai contar ainda com um parque com capacidade para 300 contentores, bem como a possibilidade de prestação de serviços de reparação e manutenção naval no local.
Numa primeira fase, prevê-se uma movimentação fluvial superior a 2500 toneladas de carga por dia, com um volume entre 20 mil e 70 mil TEU por ano. Estima-se que, com a expansão do terminal, a movimentação possa registar-se nos 200 mil TEU por ano.
Com um investimento inicial de 11 milhões de euros, a nova infraestrutura resulta da parceria da Companhia do Porto da Castanheira, empresa responsável pela construção e gestão do novo terminal fluvial, com empresas privadas, como o Grupo ETE, com mais de 89 anos de experiência no setor marítimo, portuário e fluvial, e o Grupo Pousadinha, um operador económico local, detentor dos terrenos que dão agora lugar ao novo terminal.
A localização é considerada estratégica e privilegiada, por estar situada na margem norte do Tejo, a 55 quilómetros de Lisboa e junto às plataformas logísticas de Lisboa Norte, Carregado e Azambuja, assegurando acessos estratégicos e rápidos, via rodoviária e também ferroviária, complementando a operação fluvial a que o novo terminal se irá dedicar.
O projeto agora apresentado pretende assim promover o transporte fluvial como alternativa à rodovia, permitindo retirar um número significativo de camiões dos acessos rodoviários de Lisboa.
De acordo com os promotores, cada barcaça comporta até cem vezes mais contentores do que um camião em cada viagem e vai ser possível movimentar até quatro barcaças em simultâneo. Esse é um contributo ímpar para a redução da pegada de carbono e para a otimização da segurança e da eficiência económica do transporte.
Cerca de 85% das mercadorias movimentadas no porto de Lisboa têm origem ou destino a norte do rio Tejo, o que significa que o terminal fluvial da Castanheira do Ribatejo é uma solução logística amiga do ambiente, com maior eficiência operacional, permitindo uma redução de custos para os transportadores.
Para o secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Espírito Santo, "este é um investimento estratégico para a sustentabilidade e eficiência logística da região e que permitirá retirar centenas de camiões do centro da cidade de Lisboa, assim como reduzir mais de mil toneladas de emissões de CO₂ por ano, adiantando que o Governo valoriza todas as infraestruturas ligadas à exportação, consciente de que esta é uma pedra angular da economia portuguesa e assegurando que o desenvolvimento dos portos é absoluta prioridade nacional".
Já o presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Fernando Ferreira, considera que o novo cais fluvial alarga a multimodalidade na Grande Lisboa, reduz a circulação rodoviária e as emissões de carbono do sistema logístico, bem como reforça a importância da Castanheira do Ribatejo como área de desenvolvimento económico metropolitano. Assinala ainda que “se inicia agora uma nova fase de trabalho com o Governo, que está sensibilizado para a importância desta nossa estratégia municipal para toda a região”.
Pelo lado dos promotores, Luís Figueiredo, presidente do conselho de administração do Grupo ETE, juntamente com Pedro Vigouroux e João Folque, do Grupo Pousadinha, destacaram que este projeto vai permitir a ambos os grupos reforçar a sua aposta na criação de valor económico, social e ambiental, contribuindo para um setor portuário mais moderno, sustentável e competitivo, bem como para o desenvolvimento da região. O novo terminal fluvial constitui uma solução de futuro para a logística nacional, unindo Portugal e valorizando as regiões, como solução nacional com identidade regional.
A navegabilidade do rio Tejo tem gerado polémicas sucessivas, pelo menos nos últimos dois séculos, mas nos últimos 50 anos tem-se centrado na possibilidade de retomar o transporte fluvial de mercadorias e passageiros, de forma a trazer benefícios ambientais e económicos, bem como a necessidade de garantir segurança e sustentabilidade à navegação.
Entre os principais desafios está a falta de cartas náuticas atualizadas, a sinalização deficiente de canais de navegação e a evolução dos bancos de areia e detritos que dificultam a navegação e, em zonas como Abrantes, a criação de um dique chega a impedir a passagem de peixes e barcos.
Outra preocupação tem sido a poluição do rio e os seus afluentes, incluindo a potencial contaminação radioativa da Central Nuclear de Almaraz, em vias de ser desmantelada.
Os ambientalistas têm defendido a necessidade de regulação para estabelecer caudais ecológicos e a fiscalização ambiental de proteção dos ecossistemas do rio.
A navegação do Tejo envolve diversos interesses, desde o transporte de mercadorias à pesca e até turismo, sendo fundamental garantir a segurança das viagens fluviais, com embarcações em bom estado e pilotos experientes ao leme, mas a concretizar-se pode reduzir a emissão de gases com efeito de estufa e descongestionar o trânsito nas vias rodoviárias.
Roteiros fluviais não faltam, nem estudos sobre a navegabilidade. O último foi apresentado em 2019, pela então ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, atual presidente da AMT - Autoridade da Mobilidade e Transportes.
Chamava-se Estudo de Mercado de Avaliação Económico-Financeira e de Operacionalização da Navegabilidade do Estuário do Tejo e apontava o rio como alternativa, mas que só casuisticamente havia transporte fluvial, sem ser regulado e sem alinhamentos que o tornassem permanente ou realizado com regularidade.
O seu potencial apontava para o possível transporte, em média, entre 80 e 100 contentores, retirando da estrada um número equivalente de camiões, dado que um camião transporta em média um contentor.
Na altura, Ana Paula Vitorino afirmava com certeza que o transporte de mercadorias no rio Tejo iria chegar à plataforma logística de Castanheira do Ribatejo, de gestão privada, e que iria estar em funcionamento no final de 2020, planos que a pandemia não ajudou a concretizar.
O estudo apresentado foi da responsabilidade da Administração do Porto de Lisboa e pretendeu identificar cenários e desenvolvimento dos trabalhos necessários para garantir a navegabilidade do Tejo associada ao transporte de mercadorias de granéis sólidos e de carga contentorizada.
A Administração do Porto de Lisboa é responsável pela manutenção das caraterísticas físicas e pela monitorização dos seus canais desde a Barra Sul, ao Canal de Xabregas, Canal de Cabo Ruivo, Canal das Barcas e Canal do Barreiro, sendo também responsável pela monitorização de mais sete canais do Porto de Lisboa.
O estudo integrou o conjunto de projetos enunciados na Estratégia para o Aumento da Competitividade dos Portos Comerciais do Continente no Horizonte 2026 e aponta para um cenário de investimento e de custos de manutenção viável, considerados estratégicos para manter Lisboa como um porto polivalente que se desenvolve ao longo das duas margens do Tejo, com um total de quinze terminais e que no futuro permita associar o transporte fluvial ao transporte marítimo, facilitando o transporte entre as duas margens.
