Lisboa pode ser a Silicon Valley da Europa: Joom deixa Letónia e ruma à capital portuguesa para conquistar o mundo
O grupo internacional de empresas de e-commerce fundado em Riga, capital da Letónia, inaugurou a sede mundial em Lisboa, para onde transferiu cerca de 200 colaboradores de várias nacionalidades e onde investiu já 40 milhões dos prometidos 200 milhões de euros no mercado dos “marketplaces”
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A Joom nasceu na Letónia, mas mudou-se para Lisboa, de vez, onde inaugurou agora o que chama sede mundial, com a intenção de transformar a capital portuguesa na plataforma de negociação digital para todo o mundo.
Promete investir 200 milhões de euros em dez anos, sendo que desde que iniciaram o processo de transferência para Portugal, já investiu 40 milhões de euros e relocalizou mais de 200 colaboradores oriundos de várias partes do mundo.
Ilya Shirokov, CEO da empresa, afirma mesmo que a cidade pode ser a “Silicon Valley” da Europa. Em entrevista à TSF, diz que se apaixonou pelo país e, em especial, pela costa oeste, desde a primeira vez que pisou solo português. No serpenteado de estradas e montes, encontra parecenças com o vale da região da Baía de São Francisco, considerado o berço tecnológico da Califórnia, onde estudou.
Desde então, desenvolveu todos os esforços para convencer a empresa que dirige a mudar-se de vez para Portugal. O processo de transferência demorou dois anos. Porquê? Qual a principal dificuldade? Não foram os impostos, nem as qualificações, nem a língua, mas sim a demora burocrática nas licenças necessárias à instalação da empresa, compra de imóvel na Rua Alexandre Herculano e o estrangulamento na atribuição de vistos de permanência e residência.
Infelizmente, a parte mais difícil é obter os vistos de permanência e residência e nós tivemos alguns desafios desde o início desse processo, que, entretanto, foram resolvidos, mas agora voltamos a ver de novo: uma grande, grande demora em obter esses vistos de residência e para essas pessoas que já estão aqui, quando precisam de renová-los, após dois anos de permanência, agora é bastante complicado
O gestor assegura que a empresa ajuda os colaboradores a encontrar apartamentos e escolas ou a arranjar outra forma de se instalarem num novo lugar, mas reconhece que não é tarefa fácil. Contudo, garante que o menos difícil é explicar aos trabalhadores porque é que precisam de ir para Portugal.
É um país incrível e Lisboa é uma cidade absolutamente incrível, mas, sim, todas essas questões técnicas em obter os vistos de permanência e residência foram um grande desafio há dois anos e continuam a ser um grande desafio ainda hoje, agora mesmo
Adianta ainda que a companhia, que se assume como marketplace global de dispositivos móveis, está agora empenhada em criar emprego e já tem em Lisboa cerca de duas centenas de trabalhadores vindos de outras geografias, não só da Letónia. "Obviamente que há sempre posições abertas (…) a única coisa que nos importa é que sejam os melhores profissionais neste domínio", adianta.
Formado pela Escola de Negócios e Administração de empresa da Universidade de Stanford, Ilya Shirokov não esconde o gosto pelo período da história portuguesa dos Descobrimentos, quando se fala de qualificações profissionais.
Tudo o que fazemos nas nossas empresas tem como objetivo contribuir verdadeiramente para o comércio global. Estabelecer a nossa sede mundial em Lisboa é um passo lógico. Portugal é o local onde o comércio global começou há 500 anos. Isso só foi possível porque, naquela época, os portugueses tinham feito uma invenção única, que era a caravela — como se fosse uma nave única moderna, fácil de dirigir, podia ir contra o vento — e também porque, naquela época, Portugal tinha os melhores e mais habilidosos navegadores, que eram os únicos na Europa a serem capazes de usar o compasso e o astrolábio em mar aberto. Com eles aprendi que é realmente muito importante poder trabalhar com os melhores profissionais do mundo. Cinco séculos depois, nós também encontramos aqui os melhores do planeta e estamos muito felizes em levá-los a bordo da nossa empresa e treiná-los.
Com a mudança para uma nova casa, um novo país, a Joom adianta que, nos últimos dois anos, já investiu cerca de 40 milhões de euros para cumprir o objetivo de querer fazer uma revolução na indústria do comércio global e o seu presidente volta a estabelecer paralelismos com os tempos dos Descobrimentos para justificar a expressão: "Considero ser muito simbólico que essa revolução comece em Portugal, tal como há 500 anos, porque obviamente, graças aos Descobrimentos, há raízes navais para a África, a China, ou Brasil, o que significa que Portugal não apenas reformou o comércio global, mas revolucionou o mundo tal como o conhecemos hoje."
O gestor sublinha ainda que o comércio global é a maior indústria do mundo, já que constitui aproximadamente 60% do PIB mundial.
"É tão grande que realmente constitui uma força importante que afeta a riqueza das nações, a expansão das religiões e o crescimento e a queda de superpotências mundiais. Se Portugal liderou todas essas mudanças há cinco séculos, agora, nós esperamos que juntos, também criemos um novo capítulo no comércio global. É esse o nosso objetivo: mover essa indústria para o comércio digital", aponta.
A escolha de Lisboa para se instalar não foi, assim, ao acaso. A capital portuguesa foi escolhida entre um leque de 12 cidades analisadas na Europa. Além da beleza natural do país, outros fatores pesaram, como a forma de acolhimento dos portugueses, o prestígio académico das suas universidades e até a moldura fiscal.
Ilya Shirokov vai contando: "criamos uma lista de todos os principais centros da Europa. Consideramos mais de uma dúzia de cidades por toda a Europa e Lisboa venceu por uma grande margem", diz, argumentando que tal se deve a "uma série de fatores", que dizem respeito, desde logo, à localização geográfica da capital portuguesa.
"É um lugar muito bonito, com um ótimo clima e, para mim, que vivia em Silicon Valley, é muito parecido. Especialmente quando vamos para o litoral, por essas estradas da costa oeste. Elas são tão bonitas e tão semelhantes ao vale da Califórnia, que o mais importante para nós é que isso nos ajude a atrair os melhores profissionais para este lugar", adianta.
Com o recurso ao uso avançado de tecnologias existentes e novas invenções ao nível da IA, Big Data, ou IoT, e formação de profissionais altamente qualificados, a Joom quet conquistar o mercado dos marketplaces, agora a partir de Portugal, sem receio de outros gigantes no mercado oriundos da Ásia, ou dos EUA.
Hoje soma um total de cerca de 500 colaboradores e, no escritório de Lisboa, tem para já 150 de 200 pessoas que pretende colocar na nova sede e garante que veio para investir.
“Há dois anos, assumimos o compromisso de investir 200 milhões de euros na economia portuguesa nos próximos dez anos. Já investimos 40, o que significa que começámos a cumprir esse desígnio”, assinala.
A Joom assume-se como fintech organizada em três áreas de negócio, desde uma plataforma online para consumidores, ao JoomPro, desenvolvido como solução tecnológica chave na mão para importação B2B de produtos da China e ainda o JoomPulse, que é uma plataforma de dados que fornece análises e recomendações para vendedores em marketplaces.
