"Luta muito dura." Ativistas de todo o mundo reúnem-se em acampamento contra mina de lítio em Boticas
Em declarações à TSF, Aida Fernandes, da organização do acampamento, refere que os habitantes da região sentem-se "revoltados e frustrados" com o projeto de mineração. A iniciativa decorre até domingo
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A edição 2025 do acampamento contra a mina de lítio, que decorre entre esta sexta-feira e domingo, em Covas do Barroso, Boticas, inclui uma arruada, testemunhos e atos performativos protagonizados por populares centrados no tema da justiça popular.
A iniciativa é da organização "Barroso sem minas" e junta vários coletivos. Em declarações à TSF, Aida Fernandes, da organização, diz que os habitantes de Covas do Barroso continuam a sentir-se revoltados com o projeto de mineração de lítio na região.
"É uma luta muito dura, porque vivemos cá todo o ano e vemos as coisas a acontecer de uma maneira muito injusta. É uma revolta e uma frustração depois de 50 anos de liberdade vermos assim os nossos direitos serem-nos tirados. Quem vem de fora é sempre surreal. As pessoas ouvem falar, mas quando chegam têm uma perspetiva diferente. Como é que querem destruir um lugar como este, classificado como património agrícola mundial? Temos um modo de vida comunitário em que é preservada a água, os costumes, o solo e ser-nos imposto um projeto destes que vai destruir tudo aquilo pelo qual temos lutado e a maneira como nós temos vivido ao longo de gerações de séculos não faz sentido", explica à TSF Aida Fernandes.
É a quinta vez que este acampamento acontece e junta centenas de pessoas de vários países.
"Esperamos mais de 300 pessoas, são muitos grupos, muitos coletivos representados. Vêm pessoas de todo o mundo, desde a América do Norte, América do Sul, da Europa, principalmente, Alemanha, dos países nórdicos, temos também ONG internacionais que nos apoiam, que estão solidárias connosco e costumam estar sempre presentes", sublinha.
“O acampamento é muito importante para nós e para a nossa luta, porque mostra que não estamos sozinhos, que há pessoas por todos os cantos do país que também acham que isto que nos está a acontecer é uma injustiça”, afirmou, citado em comunicado, o presidente da associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB), Nélson Gomes.
Mas mostra também, acrescentou, “que a aldeia está unida e disposta a continuar a lutar pelo que é seu”.
O acampamento em defesa do Barroso, que se realiza pelo quinto ano consecutivo, começa esta sexta-feira e prolonga-se até domingo, em Covas do Barroso e Romaínho. É neste território que a empresa britânica Savannah Resources quer explorar uma mina de lítio.
Segundo a organização, o evento reúne a população local, ativistas e associações ambientais num “ato de contestação aos projetos de mineração de lítio na região e à modalidade vigente de transição energética”.
O acampamento inclui uma arruada pelas ruas da aldeia, de protesto junto ao Cruzeiro, no centro de Covas do Barroso, onde serão proferidas palavras de ordem contra a mineração, momentos de partilha com testemunhos dos habitantes e atos performativos, protagonizados por locais, centrados no tema da justiça popular
O evento inclui debates, concertos e espetáculos.
“Covas do Barroso gosta de receber quem vem por bem, e, portanto, é uma alegria para nós receber quem nos quer visitar e conhecer um pouco mais de perto. O nosso sonho é que nos continuem a visitar no futuro, com esta luta ganha”, sublinhou Lúcia Mó, presidente da Junta de Freguesia e membro da UDCB, que destacou a “importância do acampamento para a causa da aldeia”.
A luta contra a mina do Barroso arrasta-se desde 2017, tendo-se intensificado no último ano, depois de, em dezembro de 2024, o Ministério do Ambiente ter concedido uma servidão administrativa à Savannah que lhe permite aceder aos terrenos para os trabalhos de prospeção.
Entretanto, a empresa solicitou uma segunda servidão administrativa para expandir trabalhos de sondagens neste território do concelho de Boticas, no distrito de Vila Real.
No comunicado, a UDCB disse que a “empresa ocupou terrenos privados e baldios sem o consentimento da população, para realizar trabalhos de prospeção”.
A associação lembrou que tem contestado “repetidamente a legitimidade desta medida e denunciado o continuado clima de vigilância, insegurança e intimidação instalado na aldeia”.
Neste contexto de “indignação face aos abusos da empresa e à conivência do Governo”, o acampamento em defesa do Barroso é, segundo a UDCB, um “momento de denúncia das injustiças cometidas contra a população de Covas do Barroso, de mobilização de apoio e de recolha de fundos para as ações legais da associação”.
O acampamento reúne centenas de participantes, organizações não-governamentais e especialistas, e quer ser também um espaço de partilha de experiências e de “reforço dos laços” com a comunidade local.
A mina de lítio a céu aberto obteve uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) condicionada em 2023 e a empresa prevê iniciar a produção em 2027.
A mina do Barroso foi considerada um projeto estratégico pela Comissão Europeia em março de 2025, mas tem sido contestada localmente por populares, autarcas e ambientalistas.
Nos últimos anos, foram realizadas várias manifestações e submetidos processos judiciais, entre outras ações de luta contra a exploração mineira neste território.
