Um ano depois do fim das quotas leiteiras, o sector na região autónoma está "estrangulado", diz a Federação Agrícola dos Açores.
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O sector do leite vive momentos difíceis com mais de metade dos produtores em situação de "falência técnica", diz à TSF Jorge Rita, presidente da FAA.
O dirigente federativo lamenta a falta de "agressividade no mercado" e a ausência de "boas campanhas de marketing". Acusa também a indústria de não se ter preparado "para a abolição das quotas leiteiras" e lamenta que não tenha sido feito nenhum investimento na inovação e na diversificação de "produtos de valor acrescentado com a marca Açores".
"Estamos aqui à beira da falência, há um desanimo total na produção leiteira da região, e tudo na economia da Região Autónoma dos Açores poderá falir derivado a essa situação", sublinha Jorge Rita.
Nos Açores há cerca de 2100 produtores de Leite e mais de metade "estão em falência técnica", garante.
Em Portugal Continental a situação não é melhor, segundo os produtores. Fernando Cardoso, secretário-geral da Federação Nacional das Cooperativas de Leite e Laticínios lembra que nos Açores "há um quadro de apoios mais generosos" devido ao facto de a região ser ultraperiférica. Por essa razão, garante, a situação no continente é ligeiramente pior: "Se nos Açores 60 por cento dos produtores estão em risco de falência, no continente 100 por cento estão em risco".
Fernando Cardoso sublinha que "o preço que neste momento é praticado à produção é insustentável e não é possível aguentar mais meses nestas condições", garante.
"Até março de 2015 cada produtor tinha um limite imposto, isto é, só podia produzir leite até um determinado valor, nós tínhamos um mercado regulamentado, a oferta de leite na União Europeia não era livre" o que garantiu "durante muitos anos uma estabilidade de produção, de preços e de rendimentos aos produtores", explica o dirigente federativo.
Com o fim das quotas verifica-se que "há muito mais leite no mercado europeu do que procura, há um grande desequilíbrio entre a oferta de leite e o consumo". Por outro lado, "o embargo russo aos produtos agroalimentares europeus, como o leite", desequilibrou mais ainda o sector.
A atual conjuntura em Angola também não está a ajudar. O secretário-geral da Federação Nacional das Cooperativas de Leite e Laticínios lembra que "o mercado angolano era importante para as exportações portuguesas" mas nesta altura, por causa da crise do petróleo, Angola "importa menos leite".
Há cerca de 4 mil produtores de leite que vivem "dificuldades" numa altura em que existe "uma tempestade perfeita em que tudo está contra o desenvolvimento do sector e contra a sustentabilidade económica do sector", lamenta.
A Comissão Europeia aprovou hoje um programa financiado com 30 milhões de euros para comprar leite a fornecedores europeus que depois vai ser distribuído gratuitamente por 350 mil crianças na Síria.
Fernando Cardoso considera que "é uma medida positiva, porque "retira leite do mercado, alivia um pouco o setor e é importante do ponto de vista humanitário" mas, sublinha, "é sempre um paliativo porque o excesso de leite na União Europeia é muito grande".