"Mais uma jogada" que poderá significar "despedimentos": tarifas contra UE revelam "urgência maior" em procurar "alternativa" aos EUA
Corpo do artigo
A ameaça do Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) de impor tarifas de 30% sobre todos os produtos da União Europeia tem gerado várias reações: entre aqueles que defendem que esta pode ser apenas "mais uma jogada negocial" e, por isso, em vez de "retaliar", as instâncias europeias devem "negociar", há também quem alerte que, caso os valores de faturação caiam, terá de ser feito um ajuste na "capacidade de produção", tendo como consequência imediata "despedir pessoas".
A Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA) dá já conta de uma diminuição do número de encomendas, numa altura em que paira sobre a União Europeia uma ameaça norte-americana de tarifas de 30% sobre todos os produtos. Ouvido no Fórum TSF desta segunda-feira, o líder da AFIA alerta que, caso a medida entre em vigor, no pior dos cenários, poderá estar em causa um "ajuste" à capacidade de produção que terá como consequência o despedimento de muitos trabalhadores.
Se isto tiver efeito e vier a reduzir [o valor da faturação atual], obviamente que teremos de ajustar a capacidade de produção — que é uma coisa que sempre tentamos que não aconteça, que é despedir pessoas. Estamos na expectativa para saber como é que vamos gerir isso. Algumas empresas já se queixam da diminuição de encomendas quer por parte dos produtores nacionais, quer em termos europeus.
A Confederação Empresarial de Portugal (Cip) assinala que o anúncio de Donald Trump revela "uma urgência maior" em procurar "mercados alternativos", dando como exemplo o Canadá e Médio Oriente, que são "muito disponíveis para as exportações" portuguesas.
"Estava um processo negocial em curso e o que estava em cima da mesa era uma taxa recíproca de 10%. Isto já inspirava preocupação suficiente para que conversarmos sobre o tema. (...) Temos de continuar a fazer esse trabalho", lembra o presidente da Cip, Armindo Monteiro.
Sobre as ajudas do Governo, o secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) explica que, apesar de ter havido uma reunião em que foi apresentado um programa de "dez mil milhões de euros", ainda nada foi materializado.
"Isto foi em março, estamos praticamente em agosto e não há, que eu saiba, nenhum programa de concreto que faça aquilo que existia em março", denuncia.
Retaliar ou negociar: como é que a União Europeia deve responder às tarifas de 30% anunciadas pelos EUA?
A preocupação maior parece, contudo, recair sobre o setor vinícola. A ViniPortugal reconhece que a situação é grave, mas entende que retaliar não é uma boa ideia. Antes, defende que a União Europeia e o Executivo português devem procurar um "ponto de equilíbrio".
"Eu entendo que nós muitas vezes não devemos acanhar, mas temos de perceber que isto vão ser muitos anúncios para a União Europeia", argumenta.
Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal apela, por isso, para que as instâncias europeias procurem "um acordo que seja vantajoso" para a Europa, deixando o mercado funcionar sem "estes artifícios, que mais não fazem do que aumentar as inflações e mais não fazem do que baixar consumos".
Eu não estou a dizer que temos de prejudicar a economia europeia para favorecer os EUA. Agora, temos de encontrar um ponto de equilíbrio em que consigamos ou manter os 10% ou baixar para não ter taxas.
Já o porta-voz da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Paulo Gonçalves, considera que, mais do que uma ameaça, o país está perante um desafio, ao ficar em pé de igualdade com os "grandes concorrentes internacionais — Itália e Espanha".
Ainda assim, nota que falta perceber o que vai acontecer com os Brics e, em particular, com a China e o Vietname, que são "os dois grandes players do setor e que representam 70% da produção mundial de calçado". Só depois de conhecidas estas circunstâncias será possível fazer uma "avaliação mais rigorosa e equilibrada".
"A única coisa que sabemos neste momento é que os primeiros a serem penalizados são seguramente os consumidores norte-americanos, porque já este ano estão a comprar o calçado mais caro", destaca.
O líder da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, Mário Jorge Machado, está, contudo, confiante de que esta seja apenas "mais uma jogada negocial de Trump", que pretende "mostrar aos seus eleitores o quão bom negociador é e quão bem está a defender os interesses dos americanos".
"É um discurso muito populista e muito será também para consumo interno. A expectativa é de que as negociações estão a decorrer e que se consiga chegar a um acordo", afirma.
Os ministros do comércio da União Europeia reúnem-se esta segunda-feira para coordenar a resposta às tarifas anunciadas por Donald Trump, no fim de semana.
O Presidente norte-americano adiantou que vai aplicar tarifas de 30% sobre os produtos europeus de aço e alumínio, a partir de 1 de agosto. Na resposta, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou o adiamento para agosto das contramedidas dos 27.
O Conselho de Ministros Extraordinário, convocado para esta segunda-feira em Bruxelas, vai discutir precisamente a resposta às medidas de Donald Trump. Na expectativa, as bolsas europeias estão todas a negociar em terreno negativo, neste primeiro dia da semana.
