Maquinistas insistem que ministro relacionou acidentes com alcoolemia e exigem "esclarecimento cabal"
O sindicalista sublinha que a greve de 6 de dezembro vai afetar todos os comboios: "São sete empresas, não é pouca coisa: Metro Sul do Tejo, Metro do Porto, Fertagus, IP, Medway, Captrain e CP"
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O Sindicato Nacional dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro Portugueses (Smaq) insistiu esta quarta-feira que o ministro da Presidência relacionou o número de acidentes da ferrovia com o alcoolismo e, por isso, exige um "esclarecimento cabal" das declarações de António Leitão Amaro, para que a "dignidade" desta classe trabalhadora seja reposta.
"Nós não fazemos política. O Smaq não pretende humilhar o ministro, nem o Governo. Não é essa a nossa intenção. A nossa intenção é que haja um esclarecimento cabal", assegura António Domingues, líder sindical.
Na semana passada, Leitão Amaro referiu que Portugal "tem o segundo pior desempenho ao nível do número por quilómetro de ferrovia de acidentes que ocorrem" e "um desempenho cerca de sete vezes pior do que a primeira metade dos países europeus", explicando que o Governo aprovou uma proposta de lei que reforça "as medidas de contraordenação para os maquinistas deste transporte ferroviário, criando uma proibição de condução sob o efeito de álcool".
O líder do sindicato considera que estas declarações são "inaceitáveis" e lamenta que o governante tenha feito "referência a taxas de alcoolémica de forma despropositada". António Domingues considera mesmo que as palavras de António Leitão Amaro são "atabalhoadas" e entende que não podem ficar dúvidas no ar sobre o profissionalismo dos maquinistas, pelo que o "ónus" está "na parte do Governo".
"Queremos que haja um esclarecimento cabal da opinião pública em que seja referido que os maquinistas são uma classe profissional altamente escrutinada, tanto a nível de álcool, como condições médicas, psíquicas e físicas em exames periódicos e exigentes", aponta.
António Domingues sublinha ainda que esta classe profissional é "altamente escrutinada" no exercício da profissão no que diz respeito ao álcool e drogas, "tanto no contexto laboral, como fora".
"Na medicina do trabalho nós fazemos exames ao sangue em que se comprova os padrões de consumo fora do contexto laboral", argumenta.
O sindicalista confessa acreditar que o ministro relacionou o número de acidentes na ferrovia com as taxas de alcoolémia e atira: "Não foi só para mim. Foi para toda a comunidade ferroviária."
Já o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, defende que o Governo foi claro e que não houve nenhuma relação de causa e efeito nas declarações de Leitão Amaro e destaca que o Executivo está de "consciência tranquila sobre isso".
Questionado sobre estas declarações, António Domingues assegura que não foi bem assim: "Mesmo a associação profissional do setor também interpretou dessa forma e não pode ser interpretado de outra forma. O cidadão comum, a leitura que faz é mesmo essa."
Assinalando a "revolta" sentida no setor, o sindicato explica que a greve-geral convocada para 6 de dezembro serve "para defender condições laborais, melhores salários, mas também pelo respeito e dignidade profissional".
"É isso que nós exigimos. Não podemos permitir que um trabalhador esteja a conduzir um comboio e que o passageiro que entra suspeite que o indivíduo vá com os copos. Essa suspeição não pode existir", frisa.
Completa ainda que a greve foi convocada em todas as empresas em que o Smaq tem representação: "São sete empresas, não é pouca coisa: Metro Sul do Tejo, Metro do Porto, Fertagus, IP, Medway, Captrain e CP. Esta é uma greve geral. Não sei se as pessoas têm consciência disso."