À TSF, o jornalista belga diz que o governador do Banco de Portugal devia ter assumido responsabilidades na sequência do escândalo. O autor está em Portugal a divulgar o livro «Banksters: Uma viagem ao submundo dos banqueiros», em que, na versão portuguesa, dedica um capítulo introdutório ao caso BES.
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Marc Roche não poupa críticas a Carlos Costa: «Quando tem a responsabilidade pela supervisão dos bancos e não a faz da forma correta; quando sabe o que se passa num dos principais bancos portugueses, mas não faz perguntas aos seus amigos que gerem os bancos, porque está demasiado próximo deles, porque talvez as famílias se conheçam, porque talvez tenham andado na mesma escola, o que é que faz? O que é que faz, quando comete um erro como esse no seu trabalho? Ou no meu trabalho? Nós demitimo-nos ou somos despedidos. Mas aqui o governador continua como se nada se passasse. Ele é imoral», acusa o jornalista.
Correspondente do jornal Le Monde em Londres há duas décadas e autor de vários livros sobre o mundo das finanças e sobre a crise financeira, Marc Roche afirma ainda que Carlos Costa «tem de assumir responsabilidade pela falta de controlo do banco» e que «com esta recusa em demitir-se, demonstra arrogância, que todos os atores da crise financeira têm em comum. É a mesma arrogância das pessoas do banco português que foi à falência», defende.
O jornalista acredita que, de certa forma, o caso do BES «foi pior do que o Lehman Brothers, Bank of Scotland, ou os Landesbanken na Alemanha, porque Portugal é um país pequeno. E este banco era muito grande para um pequeno país», lamenta.
Em relação à atuação do Governo neste processo, diz que a solução encontrada «como um todo, evita risco sistémico, evita contágio de colapso a outros países e limita o problema a Portugal». Mas não deixa de criticar «a proximidade entre políticos e banqueiros», que identifica também noutros países.
Para Marc Roche, o problema do BES «simboliza na perfeição o que são os banksters - banqueiros gangsters - porque envolve sentimento de impunidade, uso de paraísos fiscais, operações camufladas, ligações a políticos, um fraco regulador e também um mau banco central». O autor sublinha, no entanto, que é importante diferenciar entre os gestores de bancos ligados à economia real e os banqueiros ligados à banca de investimento e à especulação, cuja regulação considera «insuficiente».