Maria de Lurdes Rodrigues acredita que Costa vai pôr dívida pública na agenda

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Em entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo, a antiga ministra da Educação acredita que o líder do PS vai falar sobre restuturação da dívida durante as eleições e, se for primeiro-ministro, pressionar Bruxelas sobre a questão.
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Maria de Lurdes Rodrigues está convicta de que o secretário-geral do PS vai "puxar pela agenda" da reestruturação, "fazendo alguma coisa na frente europeia, para que o problema da dívida seja resolvido de modo diferente". Questionada se espera que António Costa ponha a questão de forma clara durante a campanha eleitoral, Maria de Lurdes Rodrigues responde que "vai pôr de certeza" porque "um traço que o caracteriza é essa clareza e frontalidade".
A antiga ministra da educação socialista defende que a dívida pública portuguesa "vai ter de ser reestruturada de alguma forma, porque não há memória na História de algum país ter pago dívidas destes montantes". Por isso, acredita que "as instituições da União Europeia vão ter de resolver e sem dramatismos" o problema.
"Aliás, escusávamos era de ter passado estas passas do Algarve para lá chegar, mas que lá vamos chegar não tenho nenhuma dúvida, porque simplesmente não é pagável", conclui a investigadora do ISCTE.
"Não gosto de medidas escondidas atrás de cenários macroeconómicos"
Em relação às propostas dos economistas do PS, Maria de Lurdes Rodrigues diz que fica só preocupada com o método utilizado. "Há uma nuance que me causa alguma inquietação, quando se submete a política à economia ou a essa tecnicidade. Eu acho que a política deve comandar. Portanto, preferia o exercício ao contrário", critica a antiga ministra, que defende que o PS devia ter encomendado um estudo de viabilidade de medidas pensadas por políticos.
"Não gosto de medidas escondidas atrás de cenários macroeconómicos, gosto da política explicitada, quais são os nossos objetivos e o que queremos fazer. 'Vejam, por favor, senhores economistas, se isto tem viabilidade, o que é que necessitamos, que recursos'. É uma nuance, mas não é indiferente", alerta a investigadora.
Redução do défice sobretudo através de cortes na despesa
Maria de Lurdes Rodrigues coordena o Fórum das Políticas Públicas do ISCTE, que esta semana lançou um livro de análise das diferentes versões do memorando de entendimento e dos relatórios de avaliação da Troika, juntando contributos de vários investigadores. A antiga ministra conclui que o Governo aproveitou o resgate financeiro para impor um programa ideológico, que, de outra forma, não teria condições para ser implementado.
A investigadora afirma ainda que o controlo do défice durante o resgate foi feito maioritariamente pelo lado da despesa, ao contrário do que tem sido a perceção pública: "Essa perceção está errada. Aquilo que a análise dos dados demonstra é que a redução do défice público resultou em 60% do corte da despesa e 40% do aumento da receita". Realça, no entanto, que a forma escolhida para controlar o défice, com grande contributo do corte das pensões e dos salários da Administração Pública, não é sustentada.
Em relação às reformas estruturais, Maria de Lurdes Rodrigues diz que muitas medidas não foram cumpridas, mas que nalguns casos o Governo excedeu-se. Por exemplo, no mercado de trabalho, "estava previsto alguma coisa, mas o Governo foi muito além [do memorando], desequilibrando aquilo que é o equilíbrio de poderes, a relação entre entidade patronal e os trabalhadores".
As únicas reformas estruturais que terão sido cumpridas de acordo com o memorando de entendimento têm que ver com a nova lei do arrendamento e com a política do medicamento. Maria de Lurdes Rodrigues elogia mesmo o ministro da Saúde, dizendo que "cumpriu o programa, e com esforço" numa matéria "que não é fácil".