O próximo passo será a transformação digital dos exames médicos. A sua requisição, prestação e faturação será também desmaterializada.
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A ideia das receitas eletrónicas chegou, viu e venceu. A novidade para 2018 será a prescrição mobile, ou seja, os médicos passam a usar uma aplicação no telemóvel em vez do papel ou computador para fazer a prescrição, que depois enviam por sms ao utente. É a transformação digital na medicina.
A diferença será do lado do médico, porque, atualmente, "cerca de 97% do receituário prescrito no sistema de Saúde, que inclui o Serviço Nacional de Saúde e a prescrição privada, já é realizado de forma desmaterializada", avança ao Dinheiro Vivo Henrique Martins, presidente dos SPMS, os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde. Com a desmaterialização das receitas médicas, os SPMS venceram a edição do ano passado dos Prémios Inovação NOS na categoria de Grande Empresa.
"Neste momento, mais de oito mil receitas por dia são exclusivamente dispensadas usando sms ou e-mail, sem qualquer recurso a papel, e mais de 60 mil pessoas já usaram a app My SNS Carteira para andarem com as suas receitas, podendo "linká-las" ao calendário do smartphone", segundo as contas feitas por estes serviços do Ministério da Saúde.
A receita sem papel estimulou oportunidades no que respeita a novos projetos e os SPMS têm já planos para breve: além da prescrição mobile, há outra novidade: "a prescrição/dispensacross-border, que permitirá aos cidadãos nacionais deslocarem-se a um país estrangeiro e poderem dispensar a sua prescrição como se estivessem em Portugal", revela o presidente dos SPMS. O mesmo também será possível no sentido contrário, ou seja, um cidadão estrangeiro poderá dispensar nas nossas farmácias prescrições emitidas no seu país de origem, desde que o mesmo tenha aderido a este sistema, uma vez que nem todos os países europeus, mesmo os mais avançados, estão preparados para a chamada eprescription ou edispensation.
A receita sem papel representa, por outro lado, uma mais-valia para o processo de transformação digital já em curso noutros projetos da área da Saúde em Portugal, nomeadamente nos exames sem papel, em que o mesmo princípio da desmaterialização será aplicado. "Nesta área pretendemos modificar o processo de requisição, prestação, faturação e partilha de resultados dos meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT), procedendo à sua desmaterialização", adianta Henrique Martins.
Desta forma, será possível tirar partido das mesmas vantagens que a receita sem papel veio trazer, mas permitindo uma maior racionalização dos recursos do SNS e melhorando a qualidade dos registos eletrónicos presentes nos processos clínicos dos utentes, através de uma partilha de resultados estruturados (codificados) dos exames realizados, explica o mesmo responsável.
Quatro milhões em 2017
"Esta solução permitiu, além da redução de custos através da poupança de papel e consumíveis associados, a criação de sistemas de prescrição mais seguros, maior eficiência e facilidade na emissão de receitas, redução do risco de fraude relacionado com a prescrição e dispensa de medicamentos e, acima de tudo, uma melhoria dos serviços prestados ao utente", explica ainda Henrique Martins.
Em números, a receita sem papel evoluiu de uma média mensal de 2 021 733, em 2016, para uma média de 4 094 940, em 2017. Se a análise for realizada em termos de embalagens prescritas, a evolução reflete uma média de 9 967 419 registadas, em 2016, para 19 636 812, em 2017. Por último, em 2017, 8 367 766 cidadãos puderam usufruir dos benefícios da receita sem papel.
Países interessados
Os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, enquanto empresa pública, prestam serviços na área das tecnologias e das compras públicas ao Serviço Nacional de Saúde e ao Ministério da Saúde em Portugal, mas tem, cada vez mais, um número significativamente maior de projetos com parceiros internacionais. Esta área representa já mais de 1% das receitas anuais dos SPMS, segundo o mesmo responsável.
Por outro lado, há um número crescente de países, sobretudo europeus, cujos ministérios da Saúde têm demonstrado interesse em conhecer e acompanhar os diversos projetos dinamizados pela SPMS. Porque "a receita sem papel garante uma maior mobilidade e comodidade para o utente e permitiu à SPMS tornar-se, também, uma empresa mais preparada para situações de disponibilidade 24/7, tendo reforçado processos e métodos", sublinha Henrique Martins.
A assinatura da receita é feita digitalmente e permite que as mesmas sejam pedidas através de uma chamada telefónica. O paciente fala com o médico, que passará a prescrever uma receita eletrónica e depois envia-a através do telemóvel.