No ano passado, o grupo registou, no mercado português, um volume de vendas de 1778 milhões de euros, mais 27% face ao ano anterior, contabilizando em cinco anos cerca de sete mil empregos e mais de mil milhões de euros em investimento
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O ano de 2024 foi "espetacular" para o Mercadona, com a cadeia de supermercados espanhola, a obter uma faturação de 38.835 milhões de euros, mais 9% face ao ano anterior. Foram ainda criados mais de seis mil postos de trabalho. Em Portugal, o grupo faturou sete milhões de euros no ano passado.
Juan Roig, presidente do Mercadona, justificou o resultado com o facto de a empresa ter registado grandes melhorias de gestão, de ter tomado “decisões corajosas e acarinhado o crescimento do turismo”, mas também pelos ganhos de produtividade e eficiência, o que permitiu obter dados históricos de rentabilidade. Registou-se ainda um aumento de 37% do lucro líquido, para 1384 milhões de euros, assim como o crescimento das vendas online em 2%, na ordem dos 840 milhões de euros.
Numa conferência de imprensa online para os jornalistas de toda a Península Ibérica, o responsável afirmou que o grupo está muito satisfeito com as atividades em Portugal, onde “o negócio foi pela primeira vez rentável”.
No ano passado, o Mercadona registou, no mercado português, um volume de vendas de 1778 milhões de euros, mais 27% face ao ano anterior, contabilizando em cinco anos cerca de sete mil empregos e mais de mil milhões de euros em investimento. "Faturámos sete milhões em Portugal, o que é menos do que ambicionávamos, mas estamos muito satisfeitos. Faturámos sete milhões e as nossas perspetivas são de continuar a desenvolver supermercados", garante.
Já com 60 lojas abertas em Portugal e mais de 1400 milhões de euros em compras aos fornecedores nacionais, quer agora juntar mais 11 unidades.
Na prática, serão mais dez lojas em 2025, incluindo duas em Lisboa, além da plataforma logística de Almeirim, no distrito de Santarém, a maior construída pelo grupo e que vai fazer a distribuição de produtos por todo o sul da Península Ibérica.
Para a economia portuguesa, o Mercadona garante ainda que contribuiu com 237 milhões de euros pagos em impostos, através da empresa portuguesa Irmãdona Supermercados, com sede em Vila Nova de Gaia (Porto) e prevê, em 2025, passar de sete para 14 a 20 milhões de lucros no mercado português.
Ao longo de 2024, incorporaram mais de 500 novos produtos no mercado e o ticket por loja subiu 0,7%, permitindo superar 28% de quota de mercado. Por enquanto, detém um total de 1674 lojas na Península Ibéria, mas prevê ainda a abertura de mais 42 unidades e reformar 29 já existentes, além de ter iniciado o projeto do novo modelo de venda de peixe, já presente em 259 unidades.
Os resultados permitiram ainda distribuir 700 milhões de euros em prémios por todos os trabalhadores, independentemente de funções, numa altura em que regista um aumento salarial médio na ordem dos 8,5%. Cerca de 2100 euros por mês é o que ganha quem já está há quatro anos a trabalhar no grupo. Prevê-se uma nova subida em 2025, mesmo que ajustando a eventual nova legislação prevista em Espanha sobre a jornada laboral.
O grupo destinou apenas 275 milhões, cerca de 20% do resultado total para distribuir dividendos, e gastou cerca de 660 milhões na reestruturação de lojas e na compra de terrenos, bem como outros 285 milhões gastos em novas construções, definindo como objetivo para 2025 crescer 3,5% em vendas e alcançar os 40.100 milhões, calculando que vai destinar mil milhões a novos investimentos.
Ainda assim, para Juan Roig, uma empresa não se cria apenas para ganhar dinheiro e há sempre maiores benefícios quando reinveste nas suas pessoas e no desenvolvimento do negócio e recordou tragédias, como os incêndios no verão passado, em Portugal, e as inundações em Valência para prestar homenagem às populações e ao espírito de solidariedade que existe nas sociedades espanhola e portuguesa.
Para o presidente do Mercadona, a tragédia de Valência, onde o fenómeno “Gota” deixou um rasto de destruição, provocando 224 mortos, três desaparecidos e mais de um milhão de afetados, revelou falhas da administração central e local na resposta ao socorro. Recorda que o grupo gastou cerca de 108 milhões para auxiliar trabalhadores e suportar a paralisação de dois a três meses na região. A cadeia de supermercados apoiou ainda 4600 pequenos empresários, desde talhos a hortofruticultores e a maioria já abriu portas.
O Mercadona adianta que teve ajuda de 150 pessoas no primeiro auxílio aos desalojados da região de Valência e também prestou apoio posterior, na reconstrução e restauro de espaços públicos, como campos e futebol e parques infantis com baloiços.
Juan Roig recusa falar de eventuais impactos de uma recessão provocada pelas políticas de Donald Trump na Europa, afirmando que tanto Espanha como Portugal pertencem a uma sociedade civilizada que compõe o verdadeiro mundo ocidental. "Não sabemos o que se vai passar na Ucrânia, nem aos 60 milhões de galinhas retiradas do mercado norte-americano, mas independentemente de tudo isso, todos temos de comer e se um telemóvel é caro e compramos, então também temos de pagar um litro de leite, que dá muito trabalho a produzir e todos os envolvidos na cadeia de valor também têm de ganhar dinheiro”, reconhece.
Questionado sobre a abertura de novos mercados, afirmou que só depois de consolidar o negócio em Espanha e Portugal, o grupo avançará para um terceiro país e, por enquanto, na Andaluzia, está focado em estudar a região de Málaga.
