"Merkel e Sarkozy engendraram plano para países do sul pagarem dívida de bancos"
Carlos Carvalhas responsabilizou, no espaço "A Opinião", na TSF, os chefes de Governo da Alemanha e França pela difícil situação económica pela qual Portugal passou.
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Carlos Carvalhas acusa a chanceler alemã Angela Merkel e o antigo presidente francês Nicolas Sarkozy de terem engendrado um plano para pôr outros países a pagar a dívida dos seus bancos.
No espaço de comentário semanal na TSF, "A Opinião", o economista destacou a importância daquilo que é relatado pelo antigo ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis , no seu livro "Comportem-se como adultos": a ideia de que o objetivo das políticas de austeridade impostas em vários países do Sul era, através destas, pagar as dívidas dos bancos alemães e franceses.
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Carlos Carvalhas diz que, em 2008, quando os bancos norte-americanos ruíram, Merkel exaltou a gestão dos bancos alemães para, pouco depois, perceber que também esses estariam em falência.
Segundo o comentador, a chanceler conseguiu financiamento para a banca através de verbas do Orçamento do Estado alemão. No entanto, a quantia não terá sido suficiente "para pagar os produtos tóxicos dos EUA e, muito menos, para cobrir a exposição que os bancos alemães tinham à Grécia, à Itália, a Portugal, a Espanha e à Irlanda".
O antigo secretário-geral do PCP, afirma que receosa da censura da opinião pública alemã, Merkel não voltou ao parlamento alemão para pedir mais dinheiro. Sabendo que o mesmo se estava a passar em França, "engendrou, com Sarkozy, um plano", envolvendo o Fundo Monetário Internacional (FMI) para "resgatar" os outros países, acusa Carvalhas.
De acordo com o comentador, Merkel terá pensado: "Em vez de emprestarmos dinheiro aos bancos, vamos emprestar dinheiro aos países. Os países, que são os devedores, pagam aos bancos, com taxas de juro que sejam boas para nós, e assim resolvemos o problema". "E foi assim que fizeram", declarou.
"Impuseram, através da troika, planos draconianos - chamados de "austeridade" -, em que o principal objetivo era pagar, o mais depressa possível, a esses bancos", acusa o economista.
O resultado? "A queda brutal do Produto Interno Bruto (PIB) e do investimento, o desemprego e a acentuação das desigualdades", afirma.
Quando o FMI diz, agora, que a economia portuguesa está bem, mas que ainda tem muitas vulnerabilidades e um grande problema da dívida, Carlos Carvalhas não se fica por meias palavras: "Sim, mas a culpa de quem é? É dos portugueses? Ou é de todo o esquema que foi engendrado pela Sra. Merkel, o Sr. Sarkozy e o Banco Central Europeu, isto é, pela União Europeia?".
Para o antigo dirigente comunista, o Governo português deve estar atento e aproveitar a atual situação favorável do país, para começar negociações em Bruxelas, e prevenir uma situação semelhante no futuro.