Metro de Lisboa apela à suspensão da greve, mas só nova proposta pode levar trabalhadores a adotarem "posição diferente"
Em declarações à TSF, Anabela Carvalheira, da Fectrans, esclarece que os sindicatos não podem decretar a suspensão da greve convocada para quinta-feira sem que esta medida seja "legitimada pelos representantes, que são os trabalhadores"
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O Metropolitano de Lisboa (ML) apelou esta quarta-feira às organizações representativas dos trabalhadores que suspendam a greve parcial marcada para quinta-feira, reiterando a sua abertura ao diálogo “sério e responsável”.
Os trabalhadores do ML cumpriram na segunda-feira uma greve parcial que, de acordo com os sindicatos, teve uma adesão “expressiva”. A paralisação repete-se na quinta-feira, sem serviços mínimos, para reivindicar o aumento do subsídio de refeição, de férias e de Natal, e alterações no horário máximo de trabalho semanal.
Esta quarta-feira, em comunicado, o ML reafirma que desde o primeiro momento procurou estabelecer um diálogo construtivo com as organizações representativas dos trabalhadores (ORT). “Sensível às reivindicações apresentadas, a empresa avançou com duas propostas negociais cuidadosamente estruturadas, assentes nos princípios do Acordo de Empresa de 2023 e no cumprimento do enquadramento legal em vigor”, é referido na nota.
Numa reação a este apelo, Anabela Carvalheira, da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans), adianta em declarações à TSF que os sindicatos não podem decretar a suspensão da greve sem que esta medida seja "legitimada pelos representantes, que são os trabalhadores".
"Tendo sido reprovado nos dois plenários por maioria, nós temos de respeitar em democracia aquilo que é a maioria. Não são os sindicatos que podem desconvocar a greve", esclarece.
Não descarta, contudo, o cancelamento do protesto, mas explica que tal implica que a empresa apresente uma nova proposta melhorada capaz de responder às reivindicações dos trabalhadores, levando-os a adotarem uma "posição diferente". Sublinha igualmente a abertura para ouvir a transportadora, tanto "hoje, como sempre".
Anabela Carvalheira assegura, ainda assim, que ainda não houve qualquer contacto por parte da empresa com os sindicatos para avaliar essa situação.
"Não fomos convocados para nenhuma reunião — nem com a empresa, nem com a tutela — e o que se trata é que os sindicatos não podem ser responsabilizados pelo facto de os trabalhadores terem, em plenário, rejeitado a proposta", insiste.
Apesar de admitir a existência de uma "aproximação" na última proposta feita, afirma que ainda não foi "suficiente", pelo que a situação "mantém-se inalterada". De acordo com a transportadora, as “propostas contemplam a melhoria das condições de trabalho, incluindo a valorização das categorias profissionais e a redução do número de horas de trabalho semanal, enquadradas numa estratégia mais ampla de modernização tecnológica e de reforço da eficiência organizacional”.
Relativamente à redução do número de horas de trabalho semanal, a sindicalista lembra que a proposta de 37,5 horas já foi rejeitada anteriormente pelos trabalhadores, devido à sua "formulação".
"Neste sentido, não havendo ultrapassagem relativamente a esta situação, a situação mantém-se inalterada", nota.
Mas, para o Conselho de Administração do ML, “estas soluções constituem um pacote sólido, equilibrado e robusto, capaz de contribuir para desbloquear a aceitação das ORT e para assegurar simultaneamente estabilidade laboral, valorização profissional e a sustentabilidade económica da empresa”.
Segundo a empresa, a greve “não se justifica”, uma vez que as “soluções apresentadas configuram já um compromisso robusto e consistente, capaz de assegurar ganhos e avanços significativos para os trabalhadores em matéria de valorização profissional, melhores condições de trabalho e maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional”.
Por isso, a transportadora apela ao “bom senso das organizações sindicais, sublinhando que a via do diálogo sério e responsável é o único caminho capaz de assegurar benefícios justos para os trabalhadores, estabilidade para a empresa e a prestação de um serviço público de transporte de qualidade”.
Os trabalhadores decidiram na segunda-feira manter as greves após um plenário no qual foram rejeitadas as propostas apresentadas pela empresa.
A paralisação foi marcada das 05h00 às 10h00 para os trabalhadores da operação, das 07h00 às 12h00 para os trabalhadores do setor oficinal, das 07h30 às 12h30 para trabalhadores dos setores fixos e administrativos e das 02h00 às 07h00 para trabalhadores dos serviços noturnos e via.
O tribunal arbitral não decretou serviços mínimos para estas greves parciais.
O Metropolitano de Lisboa opera diariamente com quatro linhas: Amarela (Rato-Odivelas), Verde (Telheiras-Cais do Sodré), Azul (Reboleira-Santa Apolónia) e Vermelha (Aeroporto-São Sebastião).
O serviço funciona habitualmente a partir das 06h30, mas a empresa informou que a greve devia motivar um atraso na abertura até cerca das 10h30, o que se confirmou na segunda-feira.
