O presidente do Montepio, Tomás Correia, admite ter vontade de participar em processos de concentração do sistema financeiro, que considera urgentes. Em entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo, diz ainda que o Montepio não se deixa condicionar em relação à sucessão na presidência do banco.
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"O Montepio não deixa de olhar com muita atenção para tudo aquilo que possam ser desenvolvimentos do sistema financeiro. E, naturalmente, no seu programa de trabalhos, essa é uma das variáveis para a qual estamos atentos. Não deixaremos de ser um agente ativo nesse processo", afirma Tomás Correia, quando questionado se o Montepio estaria disponível para participar num processo de concentração na banca. "Certamente haverá caminhos, é um assunto que veremos a seu tempo".
O presidente do Montepio diz que o banco não teria necessariamente de se transformar numa instituição de direito privado para poder juntar-se a outras instituições. E que não está definido ainda qualquer calendário.
Tomás Correia não tem dúvidas, no entanto, de que é preciso juntar rapidamente instituições bancárias em Portugal. "Penso que a consolidação do sistema financeiro é urgente e não é preciso ser muito imaginativo para se perceber da urgência dessa consolidação", alerta Tomás Correia.
"No Montepio não nos deixamos condicionar"
Tomás Correia reitera que o nome de Teixeira dos Santos surgiu na comunicação social como potencial substituto na presidência da Caixa Económica com intenções perversas. "Normalmente quando se avança com um nome, tem-se em vista um de dois objetivos: ou condicionar ou queimar. E, portanto, creio que o objetivo ou objetivos que estavam em vista quando se divulgou o nome do professor Teixeira dos Santos eram exatamente esses".
O presidente do Montepio deixa, todavia, um aviso. "Há uma coisa que os ouvintes podem ter a certeza: é que nós, no Montepio, não nos deixamos condicionar. O Montepio é uma instituição independente, decide por si, em boa ordem, de acordo com aquilo que é a democracia interna e com a vontade dos seus associados". Ressalva ainda que Teixeira dos Santos "pode fazer aquilo que ele muito bem entender, tem condições para isso, de idoneidade, de sabedoria, de capacidade de trabalho", mas que tal "não significa que as coisas estejam efetivamente alinhadas de acordo com aquilo que se vai dizendo nos jornais".
O grupo Montepio está a alterar os estatutos da associação mutualista, prevendo uma separação entre a gestão executiva e os órgãos sociais dos acionistas.
Neste contexto, Tomás Correia continuará à frente da associação, mas afasta-se da liderança do banco. O presidente do Montepio reitera que há quatro possibilidades para substituí-lo, mas recusa revelar os restantes nomes.
"Tenho a certeza de que não há irregularidades" no Montepio
Tomás Correia garante que as conclusões da auditoria encomendada pelo Banco de Portugal não coincidem com as que surgiram na comunicação social e promete novidades em breve. A auditoria da Deloitte concluiu, de acordo com a SIC, que há "irregularidades na concessão de crédito" e "quebras no princípio da gestão sã e prudente". Mas o presidente do Montepio desmente que estas sejam as conclusões: "Não são, mas não estou em condições de avançar com essas mesmas conclusões. Na próxima semana terei certamente oportunidade de falar sobre o assunto".
O presidente do Montepio reitera que não há qualquer problema de fundo: "Tenho a certeza de que não há irregularidades". Reconhece, ainda assim, que "pode haver erros de procedimento aqui ou ali, como há em todo o lado", mas que o banco procura corrigir através do controlo interno.
Nesta entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo, Tomás Correia revela também que o banco deverá ter lucros no primeiro trimestre, depois de ter acumulado 485 milhões de prejuízos nos últimos dois anos.