Há FinTechs a valer mais do que bancos e isso é um risco, alerta governador do BdP
Carlos Costa alerta que o mundo financeiro digital não é o único grande desafio do momento.
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O governador do Banco de Portugal (BdP) revelou esta terça-feira que os movimentos de concentração bancária transfronteiriça serão uma "realidade a prazo" e que o processo será "tão mais rápido quanto menos preparados estiverem os bancos" para concorrer.
Carlos Costa falava na abertura da conferência "Quatro anos de Mecanismo Único de Supervisão: lições e desafios futuros", que decorre esta terça-feira em Lisboa.
Na sua intervenção, o governador apontou que "a concomitante aceleração de movimentos de concentração bancária transfronteiriça" será "uma realidade a prazo".
O processo de concentração "será tão mais rápido quanto menos preparados estiverem os bancos para concorrer no espaço europeu", prosseguiu o governador, salientando que a nível nacional "importará avaliar quais as necessidades de investimento e onde apostar para concorrer num mercado em que a delimitação da fronteira nacional é cada vez menos relevante, tendo como pano de fundo a discussão sobre a localização dos centros de decisão", prosseguiu.
Sobre os desafios que o setor enfrenta, Carlos Costa considerou que, "apesar de ser sempre difícil antecipar de onde vão surgir novos elementos de perturbação da estabilidade, alguns começam a perfilar-se no horizonte, seja no shadow banking, nas áreas do branqueamento de capitais, ou no mundo ainda desregulado das FinTechs e do desenvolvimento digital".
Aliás, o facto de alguns bancos tradicionais, sob regulação intensa, "valerem hoje menos em bolsa do que algumas FinTechs dá uma ideia das novas potenciais fontes de risco", apontou o governador.
"Acresce que o digital não é o único grande desafio imediato. Permanece na agenda a gestão dos créditos não produtivos em balanço e o cumprimento de requisitos regulatórios muito mais exigentes (designadamente em sede de MREL)", prosseguiu, salientando que "o desaparecimento da fragmentação no mercado financeiro europeu comporta um conjunto de desafios que não podemos ignorar".
No início da sua intervenção, o governador do banco central português afirmou que era "com particular satisfação que quatro anos volvidos" via "um sistema em funcionamento pleno", aludindo ao Mecanismo Único de Supervisão (MUS).
"Hoje pode parecer fácil, mas há quatro anos o desafio era colossal e sem paralelo", sublinhou.
"Embora possamos afirmar que na área do euro estamos hoje mais bem equipados para dar resposta a crises futuras, subsistem ainda riscos devido à incompletude da União Bancária. Hoje, decisões de supervisão e resolução são na sua maioria europeias, enquanto o garante último da estabilidade financeira permanece nacional, com ferramentas limitadas para agir", considerou.
"Assim, é fundamental que, no prazo mais curto possível, se estabeleça um mecanismo europeu de garantia de depósitos, uma backstop para o Fundo Único de Resolução (FUR) e capacidade de fornecimento de liquidez em resolução", defendeu Carlos Costa.