Mudam-se os tempos... Governo de Costa traz explosão de sindicatos independentes
Desde o início da Governação de António Costa, nasceram mais sindicatos do que durante todo o período de Passos Coelho. E a esmagadora maioria deles não estão ligados à CGTP nem à UGT.
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Falar de sindicalismo já não é sinónimo de falar de CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional) ou UGT (União Geral de Trabalhadores). Nos últimos anos, o discurso mudou. Desde 2011, foram criados 52 novos sindicatos, sendo que apenas cinco estão filiados nas centrais sindicais.
A criação destes sindicatos só sé tornou possível depois da revisão da lei laboral, em 2003, que permitiu a existência de entidades sem um mínimo de representatividade - antes desta mudança, seriam considerados ilegais.
Só desde 2016, quando António Costa assumiu a liderança do Governo, nasceram mais sindicatos do que em toda a era de Pedro Passos Coelho (de 2011 a 2015), tendo o número de novos sindicatos atingido o valor mais alto no último ano, revela o Negócios.
E houve mesmo casos de sindicatos que, apesar de representarem poucos trabalhadores, ganharam bastante protagonismo. A maioria dos sindicatos que lideram os protestos mediáticos são estruturas novas: desde a ASPE (Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros) e o Sindepor (Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal), criados em 2017, - que dinamizaram a polémica greve dos enfermeiros -, passando pelo S.TO.P. (Sindicato de Todos os Professores), criado em 2018 - que, em representação dos professores, logo naquele verão, conseguiu alargar o período coberto por greves às avaliações -, até ao SNMMP (Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas), também criado em 2018 - que, no último mês, desencadeou uma crise de combustíveis que paralisou o país.
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São sindicatos que estão "desalinhados" com as centrais sindicais e que promovem protestos mais agressivos. Um cenário de mudança que inquieta a UGT.
"Preocupa-me que muito dos sindicatos que surgiram tenham objetivos muito individualizados", refere Carlos Silva, líder da central sindical. Em declarações à TSF, o secretário-geral da UGT nota que "alguns setores de atividade preferem que as suas lutas e as suas reivindicações tenham um efeito mais agressivo e mais mediático".
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Já a CGTP relativiza o protagonismo dos novos sindicatos. Ouvido pela TSF, Arménio Carlos alega que o aparecimento de novos sindicatos "não é um fenómeno novo. "É uma situação que ocorre já há 45 anos em Portugal e o que se constata é que a esmagadora maioria desses sindicatos não só não se consolidou, como não aumentou a sua representatividade, pelo contrário", argumenta.
"O que é certo é que nós continuamos a apoiar os trabalhadores e que, nos últimos anos, o maior número de greves realizadas foi no setor privado e o maior número de pré-avisos de greve entregues foi pelos sindicatos da CGTP", diz o secretário-geral da central sindical.
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A realidade é que se tem assistido a uma perda dos associados das centrais sindicais. Em termos líquidos, os sindicatos da CGTP perderam 24%, entre 2008 e 2016, registando 551 mil associados. Já UGT registou uma quebra de 12% no mesmo período, com 458 mil pessoas.
Arménio Carlos garante, no entanto, que, no último ano, cerca de 28 mil trabalhadores associaram-se aos sindicatos da CGTP.
"Não sentimos uma redução da sindicalização. Agora, é evidente que, num quadro de precariedade, ao longo dos últimos anos, tem havido um decréscimo de sindicalização, mas em termos globais", admite o líder da CGTP.
Já Carlos Silva, da UGT, fala num "crescimento lento, mas sustentado, do número de filiados" da central sindical. O sindicalista admite, no entanto, que os números variam conforme os setores de atividade e as direções de casa sindicato. "Há um setor, em particular, que teve uma grande quebra, isso é notório: o setor bancário perdeu mais de 15 mil trabalhadores. Se deixam de trabalhar no setor, naturalmente, deixam de ser sindicalizados", exemplifica.
Notícia atualizada às 12h13