"Muralhas tarifárias não interessam a ninguém": Greenvolt investe mais de mil milhões de euros em biomassa, solar e eólicas
Questionado pela TSF sobre os eventuais impactos da política tarifária norte-americana, considerada por vários analistas como uma ameaça e uma oportunidade para a Europa ser refugio de investimentos em energias verdes, João Manso Neto considera que "as muralhas tarifárias não interessam a ninguém"
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A Greenvolt vai investir este ano mais de mil milhões de euros em biomassa, solar e eólicas: o valor é avançado por João Manso Neto, presidente-executivo da empresa, que, em entrevista à TSF, classifica o protecionismo um "disparate" e considera que a muralha tarifária norte-americana "não interessa a ninguém". Nesta altura, a empresa que dirige avança para um novo projeto de baterias em Águeda e concretiza a central de biomassa de Mortágua e tem em curso vários outros em diversos países da Europa.
Um ano depois da saída de bolsa e após ser comprada pela Gamma Lux Agregados, entidade controlada pelo fundo norte-americano KKR, o presidente executivo da Greenvolt garante a injeção de capital na ordem dos 200 milhões de euros está a ser feita pelo novo acionista e agora a empresa tem que dar retorno.
Definiu um plano para acelerar o crescimento a três anos e só em 2025 vai investir mil milhões de euros em três áreas de energia, desde a descentralizada, à biomassa, solar e eólicas.
Em Portugal está a programar instalar baterias para aproveitamento do excesso de energia produzido pela central solar que construiu em Águeda e espera, entre o final da primavera e o início do verão, ter concretizado também a nova central de biomassa de Mortágua, projeto na ordem dos 50 milhões de euros que aguarda ainda a publicação da portaria que define as condições de remuneração. No entanto, Manso Neto adianta que avançaram com o investimento nessa expetativa e que já não será tarefa para este Governo, mas para o próximo, uma vez que o decreto-lei já foi aprovado e validado por Bruxelas. Afirma mesmo que "é uma questão de tempo".
"Se me pergunta se eu preferia que fosse já, preferia, mas nós somos tão confiantes nos fundamentais, que avançamos com o investimento. Está a andar. Está lá a ser feito", assinala.
A empresa, referência na geração distribuída de energia nesta altura, tem sete centrais de biomassa entre Portugal, Reino Unido e outros países.
Na área das baterias, além do que pretende instalar em Águeda, para aproveitamento de excessos de energia produzidos na central solar que instalou na região, já este mês fechou acordo com a BYD Energy Storage para desenvolver 1,6 gigaWatts na Polónia, pela proposta competitiva entre todas as analisadas.
A empresa tem vários projetos em diferentes domínios em curso, em especial na Europa. Por exemplo, na Alemanha, assinou contrato com o grupo Flora Food, referência no setor da alimentação, para investimentos conjuntos no mercado alemão e no português.
Em solo germânico está ainda a desenvolver dez novos projetos descentralizados com a GLP, líder na logística, e em Itália está a apostar na energia descentralizada, com um primeiro projeto previsto para Veneza, com a icónica fabricante de máquinas de café CIMBALI.
Questionado pela TSF sobre os eventuais impactos da política tarifária norte-americana, considerada por vários analistas como uma ameaça e uma oportunidade para a Europa ser refugio de investimentos em energias verdes, João Manso Neto considera que "as muralhas tarifárias não interessam a ninguém".
"A Europa ficou demasiado dependente do gás russo, mas a importação de gás russo também não era disparate nenhum. A Europa tinha é de ter alternativas. Quando começou a guerra, a dependência do gás russo era enorme e hoje é muito mais baixa, porque a Europa conseguiu muito rapidamente criar terminais alternativos de importação de gás para esse efeito. O que é que nós queremos? O que todos nós queremos é que haja paz e que a Rússia volte a ser um fornecedor importante, não esmagador, mas acho que é o que todos queremos. Pelo menos, é o que quero", confessa.
Sobre o que falta fazer para a Europa ter soberania energética, sublinha que importar bens chineses não causa mal ao mundo, mas provavelmente a Europa deveria fomentar outro tipo de investimentos com mão de obra também mais barata. Ainda assim, “não deve fechar a porta aos chineses".
"Isso parecer-me-ia um erro. Não ter essa obsessão. E o gás? Terá de fazer parte dessa matriz, porque nós não temos muito gás. Por isso, haver abertura neste domínio é fundamental”, refere-
Manso Neto adianta ainda que a Europa tem de fazer crescer as renováveis, as baterias e introduzir flexibilidade, mas “não estar obcecada em ter 100% de autonomia”.
Para o gestor, em termos de baterias, ou de painéis, os chineses são muito mais competitivos: "Estar a dizer que fazemos isto na Europa, se não somos competitivos… Aliás, o Mario Draghi quando fez o relatório da industrialização disse que a nível de painéis já perdemos e, nas baterias, foi parecido."
Neto Manso concorda com a ideia de que há teorias que têm duzentos anos e uma delas, defendida por Adam Smith, ou David Ricardo, demonstra a todos que o livre comércio é bom, logo, o gestor conclui que ir pelo protecionismo é um disparate, “porque são os consumidores que perdem".
"Que os americanos o façam, é chato. Agora, que os europeus não façam agressivamente o mesmo. É isso que espero", refere.
Já sobre a meta de netzero europeia em 2050, o líder da Greenvolt diz que não o preocupa tanto se vai ser a desarborização a 100%, preocupa-o mais que reduza emissões de Co2 a um ritmo forte. "Não sejamos fundamentalistas.”
