Antigo responsável da Caixa Geral de Depósitos denuncia desvalorização da análise de risco na concessão de crédito no banco público e ataca a auditoria da EY: "contém realidades alternativas"
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Vasco D'Orey, antigo líder da Direção de Análise de Risco, revela que os pareceres que produzia eram tidos em conta, mas na hora da decisão por parte do Conselho de Risco eram frequentemente ultrapassados pela análise comercial: "era-nos dada a mesma capacidade de exposição e atenção, mas no fim quem mandava era a parte comercial, que prevalecia sobre a parte do risco".
D'Orey sublinha que o departamento que liderava não decidia sobre a concessão de crédito e que "não podia ir com cartazes" para junto da administração gritar "não façam este empréstimo".
O ex-líder da direção responsável por analisar o risco associado a potenciais empréstimos afirmou que a equipa que a sua equipa era, no entanto, "totalmente independente".
O antigo responsável da Caixa aproveitou também para criticar o relatório da EY, que expôs falhas na concessão de empréstimos pelo banco público entre 2000 e 2015, defendendo que o documento lhe atribui papéis que não teve. "Contém realidades alternativas das quais são extraídas conclusões", explica.
Mais tarde, em resposta à deputada do CDS-PP Cecília Meireles, Vasco Orey citou partes do relatório da EY que indicam que a DGR "participa na decisão da concessão de crédito", algo que o responsável disse "não encontrar suporte factual" na estrutura da CGD.
"Este relatório acusa a DGR de não ser independente, porque pertence a um órgão de decisão", algo que de acordo com Vasco Orey não se verificava nos escalões de decisão que geraram grandes perdas para a CGD nos anos em que exerceu funções.
Vasco Orey referiu ainda que há referência no relatório a que o diretor de risco assuma a função em exclusividade, algo que não era verdade, e contestou ainda a designação de CRO ('Chief Risk Officer') utilizada no relatório da EY.
O responsável referiu ainda que o relatório da EY aponta que a DGR "estava envolvida na direção de propostas", mas Vasco Orey esclareceu que "não eram propostas de crédito".