A caminho de mais uma edição da Fruit Attraction de Madrid, Gonçalo Santos Andrade, presidente da Portugal Fresh, deixa uma série de recados na TSF, porque, diz o responsável, o agroalimentar representa cerca de 12,5% das exportações de bens nacionais e, por isso, tem de ser um setor que não pode ser só uma manchete
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Quer ouvir o primeiro-ministro recusar em público a nova reforma da PAC. Espera descida de IRC para 15% no OE26. Considera que o peso das frutas e legumes no PIB não pode ser só capa de jornais e sites. O sucesso alcançado na última década nem existiria sem imigrantes num sector que, apesar de cada vez mais tecnológico, ainda tem falta de mão de obra e de habitação decente para quem nele trabalha. Ideias deixadas na TSF por Gonçalo Santos Andrade, presidente da Portugal Fresh, na partida para Espanha, acompanhado de uma comitiva composta por 50 entidades (34 do sector primário), para a Fruit Attraction, que arranca na terça-feira em Madrid.
Este ano, Portugal vai ter um espaço de 710 metros quadrados para expor mais de cinco mil produtos, o que leva Gonçalo Santos Andrade a dizer que isto “põe Portugal a jogar no campeonato do mundo das frutas e legumes".
O sector está com uma evolução positiva, em especial a nível de exportações, que em 2010 valiam 780 milhões e no último ano fecharam com 2,5 mil milhões de euros, ou seja, um crescimento superior ao triplo do valor nestes 14 anos e segundo o gestor. Depois do crescimento de 9,5% no 1.º semestre, espera-se que, no acumulado do ano de 2025, se verifique um crescimento de 5 a 7%.
Desafios não faltam. Às pragas que este ano afetaram culturas como a pera-rocha ou a batata, junta-se o fogo que destruiu alguns pomares de frutos secos ou cerejas e ainda o aumento das tarifas norte-americanas para 15%, além dos conflitos geopolíticos, das regras europeias apertadas para o sector primário e da subida dos custos dos fatores de produção, que têm feito disparar os preços, no entender de Gonçalo Santos Andrade.
Num momento em que o Orçamento do Estado para 2026 está em elaboração e discussão com os parceiros sociais, o presidente da Portugal Fresh defende a descida da taxa de IRC para 15% e diz aguardar com expectativa a prometida descida da carga fiscal, há muito reclamada pelo sector.
Frisa: "Já há muito tempo que reclamamos a diminuição da carga fiscal sobre as empresas, que está prevista. Vamos ver como é que fica negociada, mas seria muito importante dar aqui um impulso no IRC que no ano passado teve descidas muito, muito ténues e acreditamos que, no curto prazo, é muito importante baixar para os 15% o IRC, para realmente termos uma competitividade completamente diferente e atrair mais empresários para o sector, mas também no caso dos jovens agricultores haver isenções fiscais durante os primeiros anos de atividade a bem da renovação geracional. Basta olhar para dados do INE e comparar com outras atividades, que vemos como é difícil atrair pessoas para um sector que normalmente está sempre conotado com um rendimento abaixo dos outros."
Frutas, legumes e flores são culturas que dependem do regadio e, por isso, Gonçalo Santos Andrade pede celeridade ao Governo na implementação da nova estratégia “Água que Une”, que prevê um valor de investimento superior a cinco mil milhões de euros.
Confrontado com o facto do diploma ter ido a consulta pública recentemente e estar em fase de processamento de dados desses contributos, afirma: "Nós não podemos esperar é muito mais. Se o Governo tem essa ambição e anunciou essa ambição, agora nós queremos é saber quando é que começa a ser executada, pois o país não pode esperar mais, porque nós temos perímetros de rega com mais de 60 anos que precisam de obras de modernização e de reabilitação, e temos necessidade de reservar água. O projeto Água Que Une já prevê uma série de interligações e de gestão de recursos hídricos, evidentemente que há arestas para limar, mas o mais importante é executar, porque o país tem um potencial muito grande para produção de regadio e é com o regadio que somos bastante mais competitivos."
Quanto à reforma da PAC - Política Agrícola Comum negociada em Bruxelas, Gonçalo Santos Andrade não se contenta com a indignação pública já manifestada pelo ministro da Agricultura, quer mesmo ouvir o primeiro-ministro recusar o caminho que está a ser seguido pela União Europeia.
Afirma mesmo: "É um desastre. Haver essa intenção de desviar verbas e cada Estado-membro decidir como fazer e como vai alocar, evidentemente, que os países mais ricos vão ficar competitivamente muito mais fortes e nós, produtores do sul da Europa, vamos ter aqui uma desvantagem competitiva muito grande. Acredito que isso não vai acontecer. Já ouvi palavras muito fortes do nosso ministro da Agricultura e Mar, mas eu preciso de ouvir o nosso primeiro-ministro. Este é um tema que tem de ser levado ao mais alto nível e o sector espera que o nosso primeiro-ministro diga que está completamente contra esta estratégia da União Europeia em relação à Política Agrícola Comum."
Defende ainda um maior equilíbrio entre as regras comunitárias apertadas para os produtores agrícolas no âmbito do Pacto Ecológico Europeu que lhes retira competitividade face a outros produtores extra-comunitários.
No plano estratégico, a Portugal Fresh não abandona a intenção de apostar na diversificação de mercados com um calendário definido anualmente.
Este ano já participou em muitas ações internacionais e uma delegação acaba de chegar do Oriente, onde fez prospeção de mercado, desde Hong Kong, à China e ao Dubai, onde também quer ver produtos portugueses nas prateleiras dos supermercados, mas reconhecendo que nem sempre há capacidade para tal nas empresas. Nem o recente ataque de Israel ao Qatar pode influenciar a decisão de aposta nos Emirados Árabes que, apesar de longe, revelam forte poder de compra para os produtos nacionais.
No verão arderam quase 279 mil hectares, cerca de 3% do território, uma área três vezes superior à média das duas últimas décadas, segundo o Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais. Ainda sem uma contabilização real dos prejuízos para produtores de frutas, legumes e flores ou cálculos sobre eventuais impactos a médio e longo prazo, o líder prefere falar da resiliência do sector.
