"Ninguém foi informado até esta terça-feira." Trabalhadores da Bosch criticam silêncio da empresa
Trabalhadores só souberam do lay-off através da imprensa. Paralisação poderá durar, pelo menos, até abril de 2026
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O Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (SITE-Norte) garante que tentou saber várias vezes junto da administração da Bosch sobre a situação da fábrica, mas nunca obteve qualquer resposta.
Na terça-feira, os trabalhadores da fábrica de Braga foram surpreendidos com a decisão do lay-off da principal unidade da multinacional alemã em Portugal devido, alegadamente, à falta de componentes eletrónicos. Em declarações à TSF, Sérgio Sales Almeida, dirigente do SITE-Norte, sublinha que "o sindicato já vinha acompanhando alguma quebra de produção".
"Procurámos saber exatamente o impacto junto de fonte da administração e até junto de fonte da Comissão de Trabalhadores. E não obtivemos nenhuma informação até ontem [terça-feira], quando somos surpreendidos com notícias da aplicação do lay-off", explica à TSF Sérgio Sales.
Para o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte, este tratamento é "inaceitável". "Isto decorre de um processo que tem os seus trâmites. Neste caso, foi discutido e negociado entre a Comissão de Trabalhadores existente e a Administração que, por algum motivo, resolveram manter o sigilo sobre isto, com a gravidade de os trabalhadores nem terem sido informados, após a ata já estar com os termos assinada", adianta.
O dirigente do SITE-Norte frisa que nenhum trabalhador foi informado até esta terça-feira. "Quando digo ninguém, estamos a falar até de vários níveis de chefias que não tinham conhecimento de nada. Ontem [terça-feira] fomos surpreendidos no final da tarde, até que a empresa emitiu um comunicado, creio que já passava das 19h00. Os primeiros turnos da manhã não tinham conhecimento de nada, portanto, a empresa só se pronunciou depois de já toda a gente saber e de já estar o caos instalado", conta.
Em comunicado, a empresa revelou que o lay-off surge devido à escassez de componentes para as peças eletrónicas, que levaram a interrupções na produção. Ainda assim, apesar destas dificuldades, Sérgio Sales entente que "a multinacional Bosch tem todas as condições para sustentar o pagamento dos salários a 100% e não se justifica que seja a Segurança Social, ou seja, os próprios trabalhadores, a pagarem os seus próprios salários com o dinheiro dos seus descontos".
Esta decisão é válida já a partir de novembro e deve prolongar-se, pelo menos, até abril do próximo ano. No entanto, o sindicato não tem qualquer informação oficial por parte da empresa.
"Nós sabemos aquilo que é público: que vai afetar 75% dos trabalhadores, essencialmente a produção. Fala-se em 2500 trabalhadores. O máximo legal é até abril. São os seis meses que a lei prevê. Depois, pode ser estendido, mas exige uma nova avaliação. Agora, se a empresa entende aplicar os seis meses por completo ou não, nós não sabemos. Não sabemos se se é só por precaução que aplicou os seis meses ou se, de facto, a fábrica, vai estar parada até abril. Isso não conseguimos saber" lamenta o sindicalista.
A empresa garantiu, entretanto, que está a fazer tudo para atender os clientes de modo a minimizar as restrições de produção, garantindo que, assim que a escassez de componentes for ultrapassada, a produção deverá ser normalizada.
No final de setembro, a Bosch anunciou que prevê eliminar mais de 13.000 postos de trabalho até 2030 na Alemanha, argumentando que o trabalho está subutilizado face à concorrência chinesa, levando a críticas dos sindicatos.
