Nova equipa do Banco de Fomento reclama duplicação de capital e garantias nas últimas dez semanas
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Em fase de lançamento de linha para evitar sufoco exportador das tarifas dos EUA, Gonçalo Regalado, presidente da comissão executiva do Banco Português de Fomento (BPF), em entrevista à TSF, diz que é cedo para fazer balanço do seu primeiro semestre de atuação, mas reconhece que duplicou o valor total dos últimos três anos em garantias e capital em apenas dez semanas.
Gonçalo Regalado foi escolhido para liderar o Banco de Fomento em janeiro de 2025, antes das eleições, e agora confessa estar preocupado com o impacto das tarifas nas exportadoras portuguesas e não descarta uma nova abordagem com fundos europeus para acautelar o efeito das "guerras" às portas da Europa.
O jovem gestor com vasta experiência na banca, também em instituições europeias e antigo chefe de gabinete de um ministro de Passos Coelho, espera continuidade ao trabalho iniciado em janeiro e até um reforço para o plano que traçou para os três anos de mandato. Numa altura em que o Banco Português de Fomento está sob tutela do Ministério da Economia e com a entrada de Manuel Castro Almeida para o lugar de Pedro Reis, entrou também a pasta da Coesão, responsável pela gestão dos fundos comunitários.
Para Gonçalo Regalado, é bastante claro que a estabilidade das estratégia das políticas do Executivo são para manter e até para reforçar, explicando que, a partir desta legislatura, há um pilar adicional à sua tutela, com o dossiê dos fundos comunitários, como o PT 2030, transversais a outros ministérios, mas defende que o seu grande objetivo passa por colocar o BPF ao serviço das empresas e fazer cumprir a estabilidade não só da instituição, como os mandatos das equipas.
Após seis meses de trabalho e com eleições pelo meio, acredita é cedo para falar de resultados quando o plano de trabalho está definido a três anos e com objetivos claros. "No primeiro ano, reabilitar a estrutura e ativar mecanismos de proximidade com os empresários. No segundo ano, ser um banco de crescimento com a multiplicação de alguns dos seus produtos agora lançados ao nível do capital, fazer a integração da agência crédito à exportação e a fusão de outras sociedades ligada ao investimento direto, de forma a que o banco apresente um grupo como todo e no terceiro ano alcançar a sua ampliação com afirmação, com mais produtos e com uma densidade soberana superior em cada um dos seus pilares de negócio", afirma, em declarações à TSF.
Há dados incontornáveis para o gestor quando olha para a primeira metade do ano. Garante que o Banco de Fomento já praticamente duplicou aquilo que era o seu balanço de garantias e o seu balanço de capital, exemplificando com os instrumentos de capital que recebeu do PRR na ordem dos 1300 milhões de euros e a capitalização direta das empresas que, nos diversos programas, somava em janeiro cerca de 300 milhões de euros executados e agora são já mais de 650 milhões de euros enviados para a conta das empresas.
Através dos instrumentos de garantias assegura ainda que o banco está agora a ganhar muitíssima ativação por ter recebido nas últimas dez semanas mais candidaturas, ou seja, mais aprovações do que nos últimos três anos e explica porquê:
Simplificamos a vida às empresas, porque deixamos estar à espera que nos procurassem e dissemos aos empresários que as suas garantias estão agora pré-aprovadas. O que significa que, em vez de terem de mandar ao banco, no mínimo, 14 documentos e no máximo até 27, podem pôr menos para fazer uma candidatura e não têm de esperar até quase 50 dias como era antes, agora são confirmadas em 48 horas e desenvolvidas numa semana ou no máximo em dez dias
Com esta política de simplificação, adianta que já foram desbloqueadas situações que permitiram ao banco emitir no final de março 120.000 garantias pré-aprovadas e que o banco recebeu 14.000 candidaturas, das quais 10.000 são de empresas únicas, havendo 4000 repetentes, ou seja, empresas que já antes tinham concorrido.
Dessas dez mil candidaturas, o banco aprovou já oito mil e, dessas, mais de metade já tem o dinheiro na conta, ou seja, em valor recebeu propostas na ordem dos 2800 milhões de euros, aprovou 2000 milhões, o que pode comparar com o total do ano passado na ordem de 1000 milhões e com 500 milhões de euros dos três últimos anos.
Para o presidente da comissão executiva do BPF, há seis meses que está em curso um processo de transformação da instituição com uma densidade, impacto e intensidade para colocar o banco ao serviço as empresas.
Quando confrontado com a lenta taxa de execução do PRR, Regalado garante que o Banco de Fomento vai garantir execução 100% nos quarto instrumentos do PRR que tem sob gestão, mas sublinha que quem conhece a estrutura dos fundos europeus, sabe que há sempre um período mais alongado no arranque, seguido de um período da aceleração, que é o que considera que o país está a viver agora e, por fim, o período de encerramento.
O gestor recorda que o Banco Português de Fomento gere atualmente quatro instrumentos de capital do PRR. São eles: o instrumento de gestão interna proveniente do programa Be By Deal; o instrumento de capital de recapitalização estratégica, os dois grandes fundos de co-investimento indireto, os fundos de capital de risco, que são o private Equity e o Venture Capital, que requerem reuniões semanais e permanentes para garantir a entrega a 100% desses fundos aos seus beneficiários, as empresas. “Contactos feitos com sentido de urgência e um sentido serviço para que as empresas possam receber este investimento e qualquer sobra de dinheiro de uma das gavetas no PRR será bem-vinda e aceite, para o banco a fazer chegar às empresas", sublinha.
Gonçalo Regalado adianta ainda que aguarda luz verde de Bruxelas ao pedido de ampliação do prazo de reembolso da linha invest-EU e um aumento do valor de três mil para mais de oito mil milhões de euros.
Temos a certeza absoluta que não só vamos entregar os 100%, como pedimos à Comissão Europeia para ampliar o limite das garantias até 2029, bem como para que esse montante possa ser ampliado até 8740 milhões de euros e, em princípio, a resposta será positiva. Com isso, o que nós vamos fazer é ajudar a acelerar o PRR.
O lider do BPF garante ainda que estão saldados os pagamentos em atraso aos empresários que recorreram às linhas de apoio por causa da pandemia de Covid-19.
"Quando chegamos, tínhamos 1313 processos com praticamente quatro anos em atraso e nós o que fizemos foi honrar a palavra do Estado, porque palavra dada é palavra honrada. Constituímos internamente uma equipa com pessoal do banco e não recorremos a consultores, nem a advogados externos, contámos com a nossa gente para fazer esse trabalho. Falamos com todos os 1313 empresários que se candidataram e 1040 desses empresários foram considerados para essa avaliação de garantia. Desses, cerca de 1010 viram a sua situação resolvida. Portanto, havia pipeline de 45 milhões de euros de dívidas do Banco Português de Fomento para com estas 1300 empresas, se elas cumprissem todos os protocolos. Pagámos a 110 empresas um total de 37 milhões de euros e os processos estão encerrados, mas não só. Nós também apoiámos até final de 2010 com mais de 220 milhões de euros praticamente, cerca de 10.000 empresas durante esse período", conta.
Dados que o levam a concluir que existe um impacto muito positivo nas empresas, apoiadas durante o período da pandemia, e que, nos últimos anos, o banco também contribuiu para a economia com 9300 milhões de euros de garantias a praticamente apoio a 50.000 empresas, o que significa um indicador de sucesso para o país, uma vez que a taxa de imparidade terá sido apenas de 0,07%. "Um ótimo resultado do que é a mais-valia de ter um banco soberano ao serviço das empresas."
A partir de 25 de junho, haverá novas linhas de apoio para as empresas exportadoras que já sentem impacto das tarifas da administração norte-americana, porque, para o gestor, “têm um efeito borboleta na economia, uma vez que essas companhias, apesar de representarem 1% do total do tecido empresarial nacional, na realidade, representam 9% do emprego no país, 40% das exportações e um volume de negócios com um peso de 14% no PIB nacional".
No fundo, trata-se do reforço da linha “BPF Invest Expor” dedicada às empresas exportadoras portuguesas, com um montante total de 3500 milhões de euros, sendo que 2100 milhões destinam-se a PME’s e 1400 milhões a grandes empresas, esta ultima aguarda confirmação de Bruxelas.
Explica ainda que o processo é feito à semelhança do que o banco já fez há três meses quando aprovou para 37.000 empresas portuguesas, limites de crédito com garantia, comunicando esse limite crédito aos bancos comerciais, dando-lhes acesso a esses limites para que soubessem antecipadamente qual era o nível de exposição ao risco. Agora, segue o mesmo procedimento, enviando e-mails, fazendo comunicações diretas aos empresários, com as suas equipas comerciais na rua a fazer contactos diretos com as empresas e visitas comerciais.
Para garantir que todos os empresários exportadores têm uma opção nova de investimento em novos mercados, em novas proteções, novos produtos ou investimentos que permitam compensar a provável e expectável redução das exportações para os Estados Unidos e procurem outras geografias
Sublinha que o banco fez uma análise do programa Reforçar Export, apoiado pelo Governo, pelos empresários e com outros parceiros ligados ao Ministério da Economia, criando uma equipa multidisciplinar com representantes da AICEP e da estrutura de missão Recuperar Portugal. O tema das tarifas e o seu impacto nas empresas exportadoras portuguesa para os Estados Unidos representa um “impacto em borboleta”. Isto porque quando se analisa o número de empresas portuguesas que exporta para os Estados Unidos, encontra-se um universo de 3400 companhias que, embora representem apenas cerca de 1% do total do número de empresas existentes em Portugal, se analisarmos outras variáveis, verificamos que essas empresas representam 9% do emprego do país, com um volume de negócios de 14% do PIB e um peso de 40% nas exportações diretas.
À guerra das tarifas junta-se agora a escalada do conflito no Médio Oriente e a continuação da guerra da Ucrânia, o que leva o lider do banco de Fomento a admitir o reforço da parceria que esta instituição tem com o BEI e o FEI, siglas do Banco Europeu de Investimento e do Fundo Europeu de Investimento.
Gonçalo regalado afirma que “as três guerras às portas da Europa são um desafio para todos. Portanto, nós temos de estar disponíveis para apoiar e vender e comprar no nosso espaço europeu. Aquilo que é feito dentro do mercado único, que é uma das grandes forças do projeto europeu e temos de fazer daquilo que são hoje ameaças externas à porta da nossa casa, a nossa força, é reforçar a força interna da nossa casa".
Com o Médio Oriente hoje como espaço de conflito, Regalado acredita que, a breve trecho, os portugueses podem também procurar outros mercados e quando se olha diretamente para as exportações portuguesas e para esses mercados em conflito, não são mercados de grandíssimo impacto no valor das exportações.
O presidente do Banco Português de Fomento sublinha que os empresários portugueses souberam modernizar-se para exportar com grande sofisticação e grande qualidade para parceiros europeus e para os países mais desenvolvidos do mundo, mas também souberam inovar e ter capacidade de transformação para procurar mercados alternativos em países em via de desenvolvimento e também com esses povos desenvolver novos produtos e novos negócios.
Conclui que acredita na capacidade que os portugueses têm, como demonstraram há muitos séculos os navegadores, para exportar e encontrar novos parceiros, novos mercados, mantendo a ambição de voltar a subir em 50% o peso das exportações no PIB nacional.
Recorda que o banco já utilizou o BEI para ganhar o consórcio da Autoeuropa no carro elétrico, com um financiamento em 50% dos fundos europeus e, também através deste parceiro, canalizou fundos com garantias e linhas de financiamento para o primeiro troço do TGV, estando agora a trabalhar com o FEI para financiar vários projetos de natureza pública que precisam normalmente de grande dimensão de investimento, porque normalmente têm orçamentos acima de cem milhões de euros, ou aqueles que precisam de maturidades mais alongadas.
Sem enumerar projetos concretos, de origem publica ou privada, adianta apenas que se tratam normalmente de “projetos de infraestruturas de grande dimensão e que tenham um payback mais longo, acima de cem milhões, ou acima de 15 anos".
"Isso é o que o BEI normalmente financia e é o que nós, através desta parceria quase umbilical, fazemos no dia a dia com o FEI e com o BEI para projetos de natureza estratégica ou para investimento direto em Portugal. Não tanto projetos como o novo aeroporto de Lisboa, porque em matéria de aeroportos há alguma regulamentação europeia que cria alguns desafios, mas, por exemplo, é natural financiar toda a ferrovia, ou parte dela, bem como infraestruturas portuárias ou financiamento de alguma mobilidade, ou na área da automação, na área da inteligência, na área da tecnologia, ou na indústria", argumenta.
Em simultâneo à intervenção do BEI e do FEI, há o apoio dos bancos comerciais nacionais que estão hoje presentes em Portugal “a fazer o resto da sindicância bancária e, sobretudo, o serviço que é necessário a cada uma dessas empresas.”
Já na linha BPF Invest EU, que permite o financiamento para fundo de maneio das próprias PME's, ou investimento em sustentabilidade, inovação, investigação e desenvolvimento, bem como mobilidade, o banco garante que recebeu cerca de 3600 milhões de euros de portefólio inicial, tem já cerca de 300 milhões de euros executados, mas como este tem sido um processo "complexo e difícil", pediu autorização a Bruxelas para alargamento de prazo e passar desse montante para os 8700 milhões de forma a permitir às empresas acesso e ao banco ter a certeza que se investe mesmo neste domínio.
Gonçalo Regalado adianta que no mês de maio foram concedidos 750 milhões e já neste mês de junho espera que sejam libertados mais 500 milhões, numa operação produzida em conjunto com a banca comercial “para avançar com sentido de velocidade e sentido urgência".
