Novo aeroporto. "Intervenção em 40 quilómetros quadrados é quase metade da cidade inteira de Lisboa"
O Fórum TSF analisou tudo o que envolve o novo aeroporto de Lisboa: Portugal pode estar perante "o maior plano urbano de intervenção da Península Ibérica", o que, por isso, vai trazer muitos desafios
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A localização para o novo aeroporto de Lisboa é já conhecida: onde é hoje o Campo de Tiro de Alcochete. Feita a escolha, é agora tempo de enfrentar outros desafios relativos à nova infraestrutura, enquanto a Portela sofre alterações, para se manter viável nos próximos dez anos. Especialistas ouvidos esta quinta-feira no Fórum TSF fazem um ponto de situação: "a localização não é a principal decisão", para, "provavelmente, o maior plano urbano de intervenção da Península Ibérica".
No Fórum TSF, o presidente do conselho diretivo da Ordem dos Arquitetos, Avelino Oliveira, refere que é necessário dar atenção ao ordenamento do território, já que vão existir obras no Campo de Tiro de Alcochete e, ao mesmo tempo, vai ser desmantelado o aeroporto Humberto Delgado, o que representa "uma intervenção num total de 40 quilómetros quadrados". "Isto é quase metade da cidade inteira de Lisboa, que tem cem quilómetros quadrados."
Para o especialista, a primeira coisa a fazer é "uma cidade temporária em Alcochete para albergar os trabalhadores" que vão construir, por exemplo, a primeira pista do novo aeroporto. Ao mesmo tempo, há que melhorar a atual infraestrutura aeroportuária, algo que levanta questões ambientais: "A qualidade do edifício, de circulação, do usufruto das pessoas que usam o aeroporto Humberto Delgado é muito má e, portanto, não podemos estar mais dez anos assim." E acrescentou ainda: "Nós estamos a falar, provavelmente, do maior plano urbano de intervenção da Península Ibérica."
Também no Fórum TSF, Augusto Mateus, ex-ministro da Economia e professor catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão, assumiu que tem "dois receios" em relação ao aeroporto em Alcochete: "Um é que esta decisão não seja levada rapidamente por diante. É insuportável para o desenvolvimento do nosso país perder mais uma década nestas matérias, mas mais insuportável seria gastar dinheiro mal gasto. Um investimento é uma despesa que resulta, despesa só por si não é um investimento, não cria nada de novo."
O que o Governo fez esta semana, do ponto de vista de Augusto Mateus, foi encontrar "uma solução para uma questão que não é a principal, que é a localização".
"Importa encontrar a solução para um aeroporto que, efetivamente, empurre o país para a frente, para uma colaboração sistemática entre todas as regiões e que melhore drasticamente a qualidade do turismo, do acesso aos mercados das nossas produções primárias, que são muito importantes para a coesão territorial e que, sobretudo, posicione o nosso país estrategicamente pela realidade daquilo que oferece a si próprio e aos outros e pela 'sorte' de ter uma localização tão importante entre as Américas, a África e a Europa", disse igualmente.
Por sua vez, Carlos Matias Ramos, antigo presidente do Laboratório Nacional de Engenharia Civil e antigo bastonário da Ordem dos Engenheiros, mostrou-se preocupado com o tempo que vai demorar a construção do novo aeroporto e, para que tudo se torne mais rápido, defendeu a construção por fases.
Ainda o aeroporto da Portela
O presidente da Associação de Hotelaria de Portugal encarou como uma boa novidade o reforço de capacidade do atual aeroporto de Lisboa enquanto não existe a nova infraestrutura. Bernardo Trindade, ouvido no Fórum da TSF, sublinhou que ter o aeroporto no centro da cidade de Lisboa "assegura uma competitividade excecional".
Por outro lado, João Joanaz de Melo, do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, está contra o aumento do número de voos: "Não me parece uma ideia muito brilhante."
Acrescentou que para tal é "absolutamente essencial" um estudo de impacto ambiental e "parte dessa avaliação deve ser no sentido de reduzir os efeitos sobre a população lisboeta". Tendo em conta que o aeroporto não sairá da Portela nos próximos dez anos, é "impensável que a vizinhança continue a sofrer como tem sofrido até agora". "Há uma série de coisas que podem ser feitas já", tais como reduzir os voos noturnos e insonorizar os edifícios, referiu o ambientalista.
Para onde vai o campo de tiro?
A construção do novo aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete, da Força Área, vai obrigar a encontrar outro local para aquela estratura: há mais de uma década que se fala num espaço entre os concelhos de Mértola e de Serpa.
O autarca de Serpa, João Efigénio Palma, garantiu que não tem qualquer informação oficial e foi "com muita preocupação" que ouviu falar dessa possibilidade, já que "vem deitar por terra a valorização da paisagem, do modo de vida tradicional e da preservação de tudo aquilo que é a natureza".

