"Nunca" se pode aumentar salários e "fator humano" das Forças Armadas também precisa de investimento: especialistas questionam prioridades de Montenegro
Da UGT à Associação Nacional de Sargentos, ouvidos no Fórum TSF, todos esperam para ver como Montenegro vai colocar em prática o que afirmou no discurso de posse
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As prioridades de Montenegro estão traçadas: guerra à burocracia, avançar com a reforma do Estado, premiar o mérito, fomentar a produtividade e pagar melhores salários. No Fórum TSF desta sexta-feira, ficaram patentes as dúvidas em relação a estas linhas de ação.
O secretário-executivo da UGT indicou que ainda não sabe o que será, em concreto, a anunciada reforma do Estado. Quanto à parte económica, Carlos Alves assinalou que, em Portugal, "nunca" parece haver disponibilidade para pagar melhor aos trabalhadores, porque "ou há uma crise, ou se está a antecipar uma nova crise e tem de haver cautela".
Nesta linha, para Filipe Marques, da CGTP, também é essencial subir os salários, já que os lucros das empresas não deixam dúvidas de que há riqueza para distribuir. É igualmente "imperioso reduzir os impostos sobre o trabalho", especificando: "Mais de 70% das receitas fiscais têm origem no IVA e no IRS, que são pagos exatamente pela esmagadora maioria dos trabalhadores ou dos reformados."
Já o professor de Economia da Universidade do Porto João Loureiro defendeu que, nesta matéria, é preciso mais do que apenas palavras: "Se estamos à espera que o aumento da produtividade surja assim sem mais, ele não vai acontecer. Ou seja, o país tem de ser competitivo em todos os sentidos e não com base em salários baixos."
E apontou que, "em muitos setores de atividades", aumentos salariais e produtividade não andam de mãos dadas.
No discurso de posse, o primeiro-ministro afirmou igualmente que o Governo quer acelerar a meta dos 2% do PIB para a Defesa. Também em declarações no Fórum TSF, o general Pinto Ramalho, antigo Chefe de Estado-Maior do Exército e atual líder do Grupo de Reflexão Estratégica Independente, pediu uma "escolha muito criteriosa" do investimento.
Para João Mata, presidente da Associação Nacional de Sargentos, o importante é melhorar as condições de trabalho dos militares e questionou: "Quantos desses recursos financeiros vão ser alocados ao principal fator das Forças Armadas, que é a parte humana?"
Por fim, enumerou aspetos em que "os problemas continuam a persistir" e são precisas encontrar soluções, desde as condições de habitabilidade das infraestruturas, o apoio à saúde e na assistência na doença até à progressão de carreira e "rever finalmente um regime remuneratório que entrou em vigor a 1 de janeiro de 2010, que nunca foi alvo dos devidos ajustes".

