"O país deve um agradecimento a Passos Coelho"
Jorge Moreira da Silva, ex-ministro do Ambiente e atual diretor-geral de Desenvolvimento e Cooperação da OCDE, é o convidado desta semana do programa A Vida do Dinheiro.
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Dívida, desigualdades e revolução tecnológica estão no centro das preocupações do executivo da OCDE
Portugal no futuro, como será? Que desafios, que reformas e que compromissos temos nós de assumir agora para podermos encarar o futuro com outra esperança? As perguntas, de resposta difícil, vão ser feitas hoje, em Lisboa, pela Plataforma para o Crescimento Sustentável (PCS), think tank liderado por Jorge Moreira da Silva, ex-ministro do Ambiente e atual diretor-geral de Desenvolvimento e Cooperação da OCDE.
O PSD tem um novo líder que é Rui Rio. Tem a ambição de que deste congresso possam sair as primeiras linhas para um programa alternativo de governo, pelo menos a nível económico?
De modo algum. É um cuidado que tenho tido. Sou militante do PSD e ao mesmo tempo mantenho este espaço de autonomia. Mas procurei sempre preservar a autonomia e a independência da plataforma, e isso mostra-se pelos membros. Há pessoas de vários quadrantes políticos que são membros da plataforma.
Nos últimos dois anos de oposição, a estratégia de Pedro Passos Coelho assentou muito na ideia de que vinha aí o diabo para a economia. Foi uma boa estratégia?
É injusto estar a reduzir a uma frase o programa político de Passos Coelho. Temos de lhe agradecer por tudo aquilo que fez no governo - e eu pude vê-lo de uma forma ainda mais próxima, dado que fui seu colaborador no partido e no executivo - e também na oposição. Não é apenas o PSD, mas o país em geral. Porque a forma como foi feita nos últimos dois anos foi consentânea e coerente com o programa político que levou às eleições.
Foi ministro de Ambiente, Ordenamento do Território e Energia de Passos Coelho. Como é que antevê o futuro das energias renováveis em Portugal?
Confesso que me surpreende e que me deixa até perplexo - dada a responsabilidade que o PS tem na aposta nas energias renováveis -, algumas hesitações que fui verificando nos últimos anos. Eu consegui demonstrar, e isso foi sublinhado pela troika e organizações internacionais, que é possível combater as rendas excessivas. Cortámos quatro mil milhões de euros de rendas excessivas, e essa é a razão pela qual os preços da eletricidade já estão a baixar. Mas, ao mesmo tempo, não o fizemos comprometendo a aposta nas energias renováveis, como fez a Espanha. Espanha optou entre cortar nas rendas ou apostar nas renováveis. E pôs em causa as renováveis, porque decidiu cortar nas rendas. Portugal conseguiu baixar a dependência energética para níveis muito inferiores aos verificados nas décadas anteriores, ao mesmo tempo que cortou nas rendas excessivas. A qualquer lado onde vou dizem-me sempre que "Portugal é um exemplo na aposta nas renováveis, na mobilidade elétrica, na economia verde, na fiscalidade verde, no crescimento verde". Que de repente se tenha regressado a um debate dicotómico, como se apostar no verde significasse perder e não ganhar, como se consumir verde significasse gastar e não poupar... Esse debate já estava ultrapassado e espero que possamos regressar a um debate sobre energias renováveis pensando no futuro e não no passado.
A entrevista a Jorge Moreira da Silva vai para o ar este sábado, às 13h, na TSF. É também publicada na edição em papel do Dinheiro Vivo deste sábado, que sai com o Diário de Notícias e com o Jornal de Notícias.