A partir da observação de apenas uma em cada dez empresas de um universo total de 38 mil exportadoras, ter capacidade tecnológica própria, o diretor geral da COTEC considera que o novo governo tem que abrir caminho ao aumento desta base empresarial.
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Jorge Portugal não sabe se o novo executivo terá capacidade de reunir a inovação num único ministério, mas considera que deveria haver uma tutela única que integrasse todas as políticas de inovação, pelo imperativo económico que o mundo exige num momento em que nenhum país pode perder velocidade nem capacidade de desenvolvimento tecnológico, estando Portugal ainda abaixo da média europeia neste domínio.
Lembra as declarações do presidente da COTEC ao defender a criação de um ministério da Inovação, porque até aqui, este é um domínio em que não existe tutela única. Nem neste, nem em anteriores governos. Pelo contrário, tem envolvido vários ministérios e resta saber como vai ser organizado o governo para responder à competitividade das empresas.
Questionado sobre as prioridades que deve ter Pedro Reis, novo ministro da economia, considera imperativo que o novo titular da pasta deve desenvolver políticas para estimular a I&D nas 38 mil empresas exportadoras portuguesas, porque apenas uma em 10 tem capacidade de desenvolvimento tecnológico próprio, o que está abaixo da média europeia.
Já como grande desafio para o novo ministro das infraestruturas identifica a aposta nas telecomunicações e na rede 5G e também na incorporação de energias renováveis na rede.
Considerando ainda que este é o tempo do país ter uma decisão sobre novo aeroporto e dar continuidade ao projeto do TGV, porque o mundo não para e avança a uma velocidade que Portugal tem que acompanhar para não ficar para trás.
Jorge Portugal adianta ainda que aguarda resultados das agendas mobilizadoras, para ver efeito prático da aplicação de fundos públicos, como o PRR, ou PT2030, mas reconhece que empresas portuguesas desenvolverem-se numa das zonas monetárias mais caras do mundo.
De acordo com a COTEC existem 1 100 empresas com estatuto de inovadoras, mas a ambição passa por bater um novo recorde em breve e alcançar as mil e 500 companhias com esta classificação.
Com a inovação como bandeira do plano de atividades desta associação empresarial portuguesa para a promoção da inovação e cooperação tecnológica que reúne já 230 PME’s, além das 100 fundadoras, assiste à entrada de novos associados, como as autarquias, com quem quer desenvolver as áreas de inovação e sustentabilidade, prometendo um novo programa a lançar ainda este ano.
Com o novo governo a iniciar funções, quais são as prioridades que o novo ministro da Economia, Pedro Reis, deverá ter?
Diria que temos de olhar para aquilo que é a situação da economia portuguesa. Comecemos pelo setor exportador, que nos últimos 10 anos tem vindo a abrir-se substancialmente do ponto de vista do seu peso do negócio internacional. Em 2010 tínhamos pouco mais de 30%. Hoje temos mais de 50%. Portanto, claramente, essa abertura é um sinal positivo. No entanto, o que sabemos é que das 38 mil empresas que exportam, apenas uma em cada dez têm capacidade de desenvolvimento tecnológico próprio. E este desenvolvimento tecnológico significa desenvolver produtos e processos de produção inovadores, mais sustentáveis, com menor consumo de recursos, com produtos com melhor ciclo de vida e, por isso, na prática, que respondam às necessidades dos clientes, dos clientes dos clientes e das empresas portuguesas. E é neste sentido que diria que a primeira prioridade é alargar este núcleo de empresas que têm capacidade de desenvolvimento tecnológico próprio e que, acima de tudo, apostam e investem naquilo que é o balanço intangível, o balanço incorpóreo da empresa. E o que vemos, isto é um estudo recente de investigadores da Universidade de Coimbra, é que ao longo destes 10 anos o investimento incorpóreo das empresas portuguesas não tem acompanhado esta abertura da economia. Portanto, há aqui, aparentemente, um desalinhamento entre aquilo que é o investimento que garante as margens, que garante a competitividade internacional, que garante que é possível vender com valor acrescentado e, por essa via, conseguir sustentar a função de inovação, o investimento, os jovens talentosos, fixá-los em Portugal e nas empresas portuguesas, E, efetivamente, é o comportamento das empresas. Portanto, diria que as empresas, o núcleo duro daquilo que chamamos de economia de inovação, diria, não tem diferenças em Portugal daquilo que é para países como a Bélgica, a Holanda ou para os nórdicos, o que é muitíssimo mais pequeno do que desses países. E, portanto, a primeira prioridade é, claramente, fazer com que mais empresas possam investir em desenvolvimento tecnológico próprio e conseguir, nessa perspetiva, aumentar não só as exportações, mas aumentar o peso das exportações. E o que vemos é que Portugal ainda continua, e os dados são de algum tempo, mas continua ainda substancialmente abaixo, esse peso de exportações de bens de médio e alto valor, bens e serviços, continua bastante abaixo da média europeia.
Mas como financiar essa inovação?
Isto é outro problema. É importante. Tradicionalmente, vemos que as empresas competitivas, que chamamos as inovadoras, estão em todas as áreas de atividade, principalmente no setor industrial, no setor transformador, espalhadas por todo o país. Portanto, quando se fala da coesão do país, vemos a importância de muitas PME que são grandes empresas a nível local porque são exportadoras, porque são altamente produtivas. E, nessa perspetiva, temos empresas que estão em crescimento, mas também temos empresas que, de facto, precisam de financiamento para crescer. E aqui há soluções que têm de vir de várias fontes. A primeira é, naturalmente, os capitais próprios. É os empresários perceberem que, para poderem crescer mais depressa e não tendo esse capital, têm de o ir buscar a algum lado, e, portanto, ir buscar investidores que possam, infelizmente, acelerar a base de capitais próprios. O segundo é claramente a banca. A banca tem aqui um papel de financiamento da economia e, portanto, não deve ser exclusivo, mas é um papel importante. Terceiro, mas não deve aparecer como um fator de condição necessária, é um fator que adiciona, principalmente em áreas de maior risco como são, por exemplo, muitas das áreas associadas com a sustentabilidade, com novos processos produtivos, com a utilização de novas formas de inovação, de tecnologia, aí os fundos públicos têm um papel a desempenhar. Não devem ser, insisto, uma condição necessária, portanto, deve ser qualquer coisa que complementa e que mutualiza o risco que a própria empresa está a correr quando investe em áreas mais avançadas, com maior risco. Portanto, diria que um compósito entre investidores de mercado e ainda há pouco tempo a COTEC fez com a CMVM um seminário sobre emitentes, e a emissão em mercado é também uma fonte que muitas empresas de dimensão já intermédia, 10 milhões, 20 milhões, 30 milhões, poderiam considerar como fonte alternativa também de emissões. Há algumas ideias feitas de que esta iniciativa da CMVM, que é um simulador para os emitentes e de formação também, mas diria que não é pela questão do financiamento que a empresa portuguesa, que a economia portuguesa, e, nomeadamente as empresas mais produtivas, não crescem mais depressa. Tem a ver com um conjunto de fatores de produtividade de que podemos falar a seguir.
E acha que a aplicação dos fundos de financiamento público está direcionada para a inovação ou era preciso fazer muito mais e melhor?
O direcionamento dos fundos públicos, nomeadamente dirigidos ao investimento em investigação e desenvolvimento, portanto, em desenvolvimento de novas tecnologias que depois possam ser aplicadas no negócio, têm vindo a impulsionar um aumento significativo. Estamos a falar, nos últimos anos, de cerca de 15% ao ano do investimento em ID das empresas e, portanto, agregado. O que vemos é uma grande disparidade. Vemos um núcleo muito pequeno de empresas que investem muito em investigação e desenvolvimento, voltamos aos tais um em cada dez exportadores, e depois vemos o resto das empresas que investem muito pouco. Portanto, há que trazer mais empresas, criar capacidade de investimento em investigação e desenvolvimento e sim, exigir que esses fundos não sejam apenas considerados do ponto de vista do instrumento de política pública, apenas como uma despesa que a empresa tem de cumprir, mas a empresa deve prestar contas sobre exatamente como é que esse subsídio, esse apoio, foi transformado em exportações e em produtos e serviços comercializáveis no mercado internacional de médio ou alto valor. Portanto, competitivos e com margens robustas. Aliás, essa foi a métrica dentro deste último quadro do PRR e já foi anunciado que para o próximo ciclo de fundos de coesão, o Portugal 2030, que a métrica de sucesso do investimento em investigação e desenvolvimento, não era meramente a despesa, mas eram os resultados que se iriam obter. Já neste quadro das agendas mobilizadoras, essa foi a métrica, vamos ver agora o que é que vai resultar em termos de produtos pré-comercializáveis, mas essa deve ser cada vez mais a métrica. Quando o Estado investe dinheiro dos contribuintes para apoiar as empresas, deve exigir que esse dinheiro se traduza em produtos, em aumento de exportações, produtos e serviços competitivos e com margens compatíveis com aquilo que são as empresas portuguesas que vivem numa das zonas monetárias mais caras do mundo e onde, efetivamente, para atrair os jovens e para pagar salários compatíveis para eles poderem ficar cá, tem que se criar o valor acrescentado suficiente para poder ter uma estrutura de custos adequada. E, acima de tudo, o talento necessário para sustentar esta internacionalização e esta caminhada internacional das empresas.
Já lá iremos à inovação, mas continuando na formação do novo governo, qual será o grande desafio do novo titular das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz?
Dentro do quadro da inovação, diria que um dos temas que é importante tem a ver com a digitalização das empresas e, portanto, a infraestrutura. Nos últimos 20 anos, Portugal foi um dos países onde as telecomunicações e as infraestruturas, portanto, a banda larga e as infraestruturas de telecomunicações, quer fixas, quer móveis, estiveram sempre na linha da frente. E temos dois associados no setor, neste caso a NOS e a Altice, que têm sido pródigos em investimento sucessivo nas várias gerações em termos de infraestruturas digitais. O 5G não é o 4G mais uma unidade, é mais do que isso, tem a ver com a capacidade de ter latência zero e, portanto, tudo o que é mobilidade inteligente, mobilidade autónoma, as fábricas inteligentes, o 5G é a tecnologia que vai ser necessária trazer para dentro das empresas, exatamente para podermos construir outro tipo de flexibilidade e eficiência dentro do chão de fábrica e dentro de toda a logística de apoio interna e externa. Portanto, diria que é um dos temas que é muito importante. Esse, entre outros, será um dos temas, que a infraestrutura portuguesa continue competitiva do ponto de vista das telecomunicações e do digital. Diria que há outra questão que é a energia, porque hoje vamos crescer cada vez mais com um modelo que tem vindo a ser desenvolvido de um mix de energia, já com um pendor renovável bastante acentuado e, portanto, nesse aspeto é um fator de competitividade para a economia portuguesa. Agora, vamos necessitar de ter uma infraestrutura de rede capaz de poder injetar todas estas fontes, este novo mix, de uma forma também sustentável e eficiente. E isso vai exigir, do ponto de vista da infraestrutura de rede energética, investimentos substanciais que não vão ser apenas num ciclo político, vão ter de ocorrer e são investimentos que vão ter impacto num horizonte temporal bastante longo.
E neste sentido, as acessibilidades também são um fator crítico para a competitividade das empresas. Que contributo podem dar grandes obras públicas como o novo aeroporto ou o TGV?
O aeroporto e o TGV são questões recorrentes. Não vos queria maçar, nem os ouvintes, com mais uma opinião, mas, obviamente, sabemos quão importantes são as infraestruturas aeroportuárias para uma indústria que é fundamental para Portugal, que é o turismo. Também entendemos que, relativamente aos países da Europa, que estamos atrás na ferrovia de alta velocidade. E, portanto, vemos aqui os nossos vizinhos ao lado com a UAV, que liga as duas principais cidades de Espanha em cerca de duas horas, como uma infraestrutura competitiva com o avião. Naquilo que é a ligação de Portugal com o resto da Europa, e mesmo dentro, serão infraestruturas certamente muito importantes, porque sentimos que quando estamos em Portugal, aquilo que é o acesso, por exemplo, a voos internacionais, é diferente de quando estamos em Madrid. E, por isso, não podemos ter aí uma desvantagem competitiva relativamente à capital concorrente da Ibéria.
Mas são projetos a longo prazo. O que é que poderia ser prioritário avançar já nesta legislatura?
Diria que é melhor começar mais cedo do que começar mais tarde. Como se dizia, o aeroporto leva 50 anos ou 60 anos de planeamento, se calhar haveria quem dissesse que depois de tanto tempo, mais quatro ou menos quatro não fazia diferença. Mas diria que o mundo está a avançar muito depressa, há muitas mudanças que estão a acontecer e diria que se continuarmos a atirar para a frente decisões que são estruturais não vamos lá. Das duas uma, ou decidimos não fazer ou decidimos fazer. Agora, continuar neste impasse e a fazer estudos e estudos e estudos, diria que há alguns estudos que são precisos de ser feitos, mas estes, aparentemente, já estão feitos e mais do que feitos. Gastaram centenas de milhões de euros nestes estudos. Portanto, há que, de facto, tomar uma decisão. E diria que, nesta altura, é o tempo da decisão, mais do que o tempo, mesmo que depois se demore algum tempo a começar. E um governo minoritário para tomar decisões estruturais não é muito fácil, não é? Enfim, isso tem a ver com a arquitetura que os portugueses deram à Assembleia da República, à distribuição da representatividade dos partidos e, portanto, aí teremos de ver como é que também este novo governo vai gerir essa arquitetura. Mas diria que o mundo lá fora continua a funcionar, a girar e cada vez mais rápido. Portanto, há que, de facto, termos esta noção de que não temos tempo a perder. E os empresários em particular, as empresas, têm essa noção de que não há tempo a perder. Podemos sempre dizer que vamos atrasar-nos relativamente à Europa, mas Portugal, relativamente ao resto do mundo, é um país rico. Relativamente à Europa, claramente estamos no meio da tabela, um bocadinho mais abaixo. E, portanto, podemos dizer que relativamente ao mundo, continuaremos a ser ricos, mas isso não é verdade. Não é verdade porque vão-se perdendo oportunidades. Vão-se perdendo e o desânimo e o desencantamento vão-se instalando. E, obviamente, como todos sabemos, aquilo que é a força motriz de um país é a crença, é a esperança, é a vontade de fazer, é a vontade de mudar as coisas. Portanto, isso faz-se com decisões e faz-se com andar para a frente e com um olhar no futuro. Estamos a falar de quais seriam as prioridades e já vimos uma que é a questão de apoiar as empresas e ter mais empresas a ter capacidade tecnológica própria. Mas também fazer com que elas não deixem na cadeia de valor, não federem essa capacidade tecnológica, como costumamos chamar, através de marcas. Hoje, muita da margem dos produtos ou de serviços tem a ver com a marca que está por trás de quem comercializa. Os empresários portugueses têm vindo a mostrar uma capacidade excecional. E todos os dias, estamos no terreno e falamos e vemos. Vamos às fábricas, vamos às empresas e vemos a capacidade de inovação, o engenho. Mas, muitas vezes, isto não é traduzido em marcas que representam e que federam aquilo que é a dimensão tangível, portanto, as funcionalidades técnicas, mas a dimensão intangível. E aí também temos alguma coisa. Portugal é um país com nove séculos de história. Temos muita tradição, muitas histórias para contar nos produtos e mesmo nos bens intermédios. E, portanto, além do made in Portugal, o criado em Portugal, isso hoje, do ponto de vista do intangível, tem valor. Falamos daquela história que foi mediatizada, já desapareceu, da camisola Poveira, que vendida por um designer americano vale 20 vezes mais do que em Portugal. E nessa perspetiva também, e vemos claramente esta questão do investimento no incentivo, no investimento do capital intangível, falámos há bocado, não tem acompanhado as exportações, e falámos na própria proteção desse capital. Porque muitas empresas que investem não protegem adequadamente, seja por patentes, seja por modelos de utilidade, seja por copyrights e, portanto, quando vão ao embate internacional...
É copiado pelos outros operadores.
Rapidamente, copiado, roubado legalmente, não é? Temos muitas empresas que nos dizem que estão na cadeia de abastecimento, pedem-lhe uma solução para um problema, sabem resolver, e depois o cliente volta novamente a falar porque, entretanto, encontrou alguém que também sabia fazer aquela solução e que fazia, provavelmente, mais barato.
Neste governo existe um Ministério da Inovação. Na verdade, a nomenclatura é o Ministério da Educação, Ciência e Inovação, mas a inovação, para ser feita, toca muitos outros ministérios. Esta nova nomenclatura, esta nova formação do governo, compromete de alguma forma aquilo que é o investimento das empresas em investigação e desenvolvimento?
Vamos ter de esperar pela composição orgânica do governo, porque essa não é conhecida ainda e também os secretários de Estado. Sexta-feira vamos já revelar um pouco mais daquilo que é a forma como o governo se vai organizar para executar a sua política.
Isto porque a entrevista está a ser gravada antes de conhecermos a composição das secretarias de Estado.
Mas, de facto, a pergunta que me faz tem toda a pertinência, porque se é relevante a política de inovação para a política de competitividade, por objetivo da competitividade das empresas, há que ter noção de que os fatores hoje modernos para a economia de inovação, portanto, os fatores contemporâneos que contribuem para a competitividade, são o capital humano avançado, e aqui não estamos a falar, note-se, de licenciados e mestrados. Estamos a falar já num nível avançado que são doutorados. A COTEC tem desenvolvido e lançou há pouco tempo uma plataforma a que chamou 100. É 100 exatamente para colocar 100 doutorados em 100 empresas. Porque entendemos que esse, não só a capacidade de um doutorado de poder resolver problemas concretos, de poder aprender mais rapidamente porque está treinado para isso, numa lógica mais abrangente do que o licenciado que tem uma formação mais específica, e de construir uma ponte e pontes com a mesma cultura e a mesma linguagem com a academia, esse é absolutamente essencial. Se calhar ficam surpreendidos de saber que, do ponto de vista de colaboração com as universidades, apenas 6% das empresas portuguesas que se dizem inovadoras colaboram com o setor académico. Só para comparar, os países mais avançados na inovação, estamos a falar de líderes como o Bloco Nórdico, a Alemanha, a Holanda, a Bélgica, etc., este número é o dobro. Portanto, ou nós sabemos alguma coisa que os outros não sabem, ou então, claramente, temos aqui uma cultura de colaboração que ainda precisa de ser desenvolvida e que os doutorados dentro das empresas podem trazer essa vantagem. Aliás, quem os tem, e é interessante quando vamos falar da Inovadora COTEC e quando analisamos as empresas que, de facto, estão a construir a economia de inovação em Portugal, observamos dois modelos colaborativos muito interessantes nessas empresas. O primeiro, é as empresas que internalizam completamente a investigação e o desenvolvimento. Então, 30%, uma em cada três destas inovadoras têm doutorados nas empresas. Ou então temos um modelo de subcontratação que é de colaboração com as empresas. E já agora, estas empresas que têm este nível de doutorados não têm o seu ID interno. Há um conjunto de empresas que externalizam esse ID, estamos a falar de um quarto da despesa que fazem com as universidades e o nível também de doutorados internos já é muito pior, estamos a falar de 5% ou 6% de doutorados em empresas. E falamos de um universo de 1100 empresas. Isto são as inovadoras. Isto foram as empresas que tiveram, ao longo destes três anos, o estatuto Inovadora COTEC. Portanto, trata-se de uma iniciativa que desenvolvemos com os bancos e que também não é só para reconhecer as empresas que estão a protagonizar a economia da inovação, mas, acima de tudo, para fazer aqui uma pedagogia, e perdoem-me os nossos parceiros da banca, que aquilo que é o financiamento clássico e o que sabiam fazer era do tangível. Do financiamento do intangível, do incorpóreo, já sabem muito menos. E, portanto, houve aqui também um processo, ao longo destes anos, e começou há bastante anos, de chamar a atenção da banca, dos gestores de risco, dos gestores comerciais, exatamente de que é preciso olhar para o investimento das empresas no intangível, perceber qual é o papel do conhecimento, das marcas, dos modelos de utilidade. Daquilo que é a formação, o capital humano que a empresa tem, quando se pergunta, como é que os senhores vão crescer nos próximos cinco anos as emprestas têm de dizer que vão crescer porque vão estar num determinado mercado. A pergunta seguinte é, bom, mas vão entrar no mercado, que competências é que têm? Ao que respondem, contratámos um doutorado, temos ali um projeto com a Universidade A ou com a Unidade Científica B, que vai desenvolver aqui algo que depois vamos levar para o mercado. E isso é um discurso coerente. E é este discurso também que a banca cada vez mais tem. E, portanto, o Inovadora também tem tido esse papel e este ano é o quarto ano, já batemos os recordes, temos mais de 1300, posso anunciar aqui em primeira mão, e esperamos acabar nas 1500 ou 1600 candidaturas, o que significa que, sem fazer prognósticos antes do fim do jogo, teremos claramente mais de mil empresas em Portugal com o certificado e estatuto Inovadora. E isso significa, de todas as empresas, o universo total, estimamos que sejam cerca de seis mil empresas, praticamente um sexto desse universo já são reconhecidas e são visíveis. Este ano, no Inovadora, alargámos esta lógica do intangível porque, já agora, uma das variáveis chaves é o balanço intangível, que são o investimento em ID, os direitos de propriedade intelectual e também as pessoas na empresa alocadas à investigação e desenvolvimento. Este ano lançámos, decidimos alargar pela importância do tema, com a questão da sustentabilidade. E na sustentabilidade vamos lançar ainda este ano às inovadoras a possibilidade de poderem reportar o seu perfil de sustentabilidade. É um modelo mínimo que foi desenvolvido por uma entidade europeia e recomendado para as empresas que não têm que obrigatoriamente reportar, mas como estão integradas em cadeias de abastecimento em que os seus clientes já vão ser obrigados a reportar, de alguma forma vão ser interpeladas para estas questões de sustentabilidade. E aqui estamos a falar de reporting porque há muitas empresas que são empresas inovadoras e que já estão a trabalhar nesta questão da sustentabilidade, já estão a trabalhar na eficiência dos recursos, nos resíduos, no aproveitamento dos subprodutos, dos resíduos como subprodutos, no ciclo de vida do produto, etc. Portanto, elas já são sustentáveis e do ponto de vista social, digamos, acidentes, minimização de acidentes de trabalho, condições de trabalho do ponto de vista de doenças a longo prazo muito menores, do ponto de vista da sua governance interna, portanto, são empresas que são construídas, e não estamos a falar de empresas de grande dimensão, estamos a falar de PME, que foram construídas para durar. Agora, a questão aqui é que precisam também de olhar, e é esse também o incentivo do Inovadora Evolution, é assim que lhe vamos chamar, para poderem ir começando a olhar para estes indicadores mínimos e poderem reportar e dar visibilidade também a esses indicadores, para que o mercado, a banca, os seus clientes, possam saber. Porque isto a partir de 2027 vai ser obrigatório esse reporte, mas 2027 já está à porta e agora com aquelas empresas que vão ser obrigadas a reportar, essas vão exigir aos seus clientes e à propagação na sua cadeia de abastecimento, que haja esse reporte também.
E quando é que esse programa é lançado?
Vai ser já este ano e vai estar aberto às empresas que tiverem o estatuto inovador. Portanto, isto é, para podermos reforçar esta ideia que não há sustentabilidade sem inovação. Portanto, a inovação e a capacidade de utilização e da criação de tecnologia para poder adaptar o modelo de negócio às necessidades do mercado e às exigências do mercado, regulamentadas ou de mercado, é o grande fator que permite que a empresa se torne sustentável. Quer dizer, sustentabilidade não é pensamento mágico, não acontece. Sustentabilidade tem a ver com criar no presente condições para que a empresa possa ter uma relação ambiental, social e do ponto de vista de relação com os seus investidores legítima e aceitável segundo as normas. Portanto, é nesse sentido que este ano vamos convidar todas as inovadoras a candidatar-se, até porque nessas questões a Comissão Europeia ainda é pouco clara. Vamos ter aqui uma pedagogia e um apoio especial e, portanto, aqui a COTEC chega-se à frente e está na primeira linha exatamente para poder, com aquilo que é a melhor informação que neste momento tem, ajudar as empresas que, não tendo a obrigação de reportar, já estão a começar a ser interpeladas pelos seus clientes para reportar.
Essa é uma bandeira vossa, a sustentabilidade e a inovação. O ano de 2024 marca o início, precisamente, da terceira temporada de existência da COTEC. O que é que definiram neste vosso plano de atividades além deste programa?
De facto, é verdade, porque quando a COTEC foi criada, há 21 anos, estamos a fazer 21 anos agora, e não queremos fazer parecer mais velhos, mas de facto são 20 anos. Somos uma associação de base empresarial que não tem só empresas, isso é o que é interessante. Começámos pelas 100 maiores empresas do país, que responderam ao repto do presidente Sampaio na altura, a dizer que colocassem a inovação como prioridade chave do país, aliás, a convite do Rei Juan Carlos, na altura, e do presidente Jorge Napolitano, que já tinham criado a COTEC Itália e a COTEC Espanha. E, portanto, nessa perspetiva, eram 100 empresas, hoje a COTEC tem muitas dessas 100 empresas fundadoras ainda, mas tem 230 PME inovadoras e cada vez mais estas inovadoras também se estão a juntar. Mas também tem organismos da administração pública, provavelmente ficarão surpreendidos, portanto, o IAPMEI, a AICEP e a Agência Nacional de Inovação são nossos associados, e este ano, posso também aqui anunciar em primeira mão, teremos também autarquias.
E vão começar por onde nas autarquias?
Temos algumas autarquias que já manifestaram a vontade de aderir à COTEC, mas porquê autarquias? Bom, é muito simples, porque uma parte muito importante da política de competitividade, ou da competitividade das empresas, não está dentro das empresas, está naquilo que é a localização onde as empresas estão.
E nas condições?
E nas condições. Quais são essas condições? Voltamos outra vez aos fatores de competitividade da economia da inovação. Portanto, se tenho uma empresa numa unidade de território e não tenho pessoas, e pessoas jovens, capacitadas, etc., a empresa fecha, porque não consegue trabalhar, a não ser que tenha um modelo completamente remoto, mas aí pode estar nessa localização ou pode estar noutra qualquer. Portanto, acesso ao talento, e aqui acesso ao talento tem a ver com políticas de habitação, políticas de educação, políticas de mobilidade, que são políticas tipicamente territoriais. Depois, uma segunda dimensão que vemos também muitas autarquias a liderar, é a dimensão da ligação entre as empresas e o sistema científico e o sistema educacional. Vemos exatamente autarquias onde temos uma promoção da ligação das empresas com as universidades, com os sistemas científicos, etc., e isso é outro dos fatores de competitividade. Terceira dimensão, o ecossistema, que é a ligação das empresas umas com as outras. Portanto, apesar de tudo, já falámos da cultura de colaboração, as empresas colaboram muito pouco. E nós portugueses desconfiamos muito uns dos outros.
E isso em termos de coesão o que é que significa? Há mais autarquias do interior a procurar-vos ou mais no litoral?
Curiosamente, aquelas que têm respondido e do ponto de vista daquilo que são as autarquias com que estamos, são aquelas que vemos com maior nível de competitividade. Mas quando, por exemplo, analisarmos as Inovadoras a nível nacional, e, portanto, é a tal base já muito robusta de empresas, vemos que os municípios, do ponto de vista da produtividade das Inovadoras que estão nesses municípios pequenos ou grandes, interior ou litoral, a produtividade não tem grandes variações de um lado para o outro. O que é que isto quer dizer? Quer dizer que esta questão da economia, da inovação e da produtividade, existe economia produtiva, digamos, quer no interior, quer no litoral, quer nos municípios pequenos, quer nos municípios grandes. E vemos isso na prática quando vamos a pequenas localidades e vemos grandes empresas que são PME, 30 milhões, 40 milhões, mas que estão em Albergaria-a-Velha, em Nelas, em Castelo Branco, etc. Portanto, zonas onde se poderia dizer que são mais desérticas, com menos gente, com menos recursos, etc. Mas estão lá. Portanto, isso significa que quando falamos das PME, e das PME inovadoras porque são produtivas, temos empresas, insisto, produtivas em todas as escalas de atividade, e em todos os sectores e em todo o país. E em todos os municípios, e no litoral, e no interior, enfim. Temos, obviamente, uma maior predominância da indústria no norte e para baixo são mais serviços, turismo, e agricultura mais no interior. Mas este padrão de empresas produtivas e inovadoras está por todo o país, o que nos deve dar uma mensagem de alento porque vemos que, apesar de tudo, estas empresas, e nomeadamente são PME, não vemos empresas de grande dimensão, claro que há algumas empresas de grande dimensão que estão em municípios, ambos relativamente pequenos, mas normalmente são PME. O papel fundamental das PME, do ponto de vista da coesão territorial, da fixação das pessoas, da capacidade de atração de talento, da capacidade de exportador, estamos a falar destas empresas que exportam 70%, 80%, 90% da sua produção para os mercados mais competitivos. E por isso, nesta perspetiva, esta ideia da coesão territorial faz-se também pela capacidade de apoiar e fazer crescer estas empresas. De apoiar e de não ter uma atitude paternalista perante as PME, coitadinhas ou porque não têm gestão qualificada, ou porque são muito pequenas, quer dizer, o que vemos é uma empresa que fatura 10 milhões de euros, exporta tudo, tem um nível de produtividade que muitas empresas grandes instaladas em Lisboa ou no Porto invejarão. Portanto, não é uma questão de produtividade por trabalhador. Obviamente, se tivessem o dobro da dimensão, ainda melhor, mas o grande desafio será crescer com aquele nível de produtividade. Mas são produtivas e ainda por cima estão instaladas e depois a pergunta que se faz é muito interessante: como é que estas empresas que estão em Nelas, ou estão em Albergaria-a-Velha, ou noutros concelhos, conseguem atrair as pessoas? Talento. Jovens que poderiam ter emprego em Portugal, mas que poderiam ter emprego em qualquer país da Europa porque são engenheiros, são economistas, são gestores.
E vão viver para lá ou estão em teletrabalho?
Não, não. Vamos às empresas e vemos que as pessoas estão lá. Claro que hoje os modelos são mais flexíveis com a questão do trabalho híbrido.
Mas então significa que houve, digamos, um efeito prático de medidas de atratividade de jovens talentos para o interior do país?
O que vemos, fundamentalmente, isto são os dados que vemos, são os dados das Inovadoras quando olhamos para o território. E vemos que, de facto, não há essa diferença substancial. Poderíamos esperar que a produtividade das Inovadoras, e sabemos que há um prémio de rentabilidade, há um prémio de produtividade, há um prémio de valor acrescentado das Inovadoras relativamente ao resto das PME exportadoras. Isto sabemos que há.
Então estas empresas pagam mais?
Chamo um prémio no sentido de prémio de desempenho, prémio na rentabilidade e também um prémio de salário, obviamente. Posso contar-lhe uma história de uma empresa que foi finalista do nosso prémio PME Inovação, que aliás é o prémio mais conceituado e mais antigo de inovação em Portugal e que destacou já muitas empresas, mais de duas dezenas. E a primeira pergunta que fazemos numa entrevista ao CEO das empresas finalistas é como é que retêm as pessoas, o talento que há? Ele disse logo, pagando-lhe ao mesmo nível que eles teriam na Europa. Portanto, desincentivando imediatamente esta questão do salário. Mas claro, temos de dar mais, temos de dar uma carreira atrativa, motivadora, interessante do ponto de vista de aprendizagem e desenvolvimento pessoal, etc. Não temos de ser competitivos só dentro do nosso país, mas temos de ser competitivos dentro da Europa do ponto de vista salarial. E vemos exatamente isso. E quem é que é competitivo? As empresas que criam valor acrescentado do ponto de vista dos seus produtos são as que são capazes de pagar estes salários. Portanto, são as que não estão a discutir o problema do salário mínimo. O salário mínimo passa ao lado destas empresas. E provavelmente com outros benefícios laborais. E acima de tudo, mais do que isso, é o bem-estar. Para já, vive-se bem em Portugal, que continua a ser um país ótimo para viver, se não um dos países melhores da Europa para viver. Mas acima de tudo, proporcionar uma carreira de desenvolvimento pessoal e estimulante. Portanto, se estou numa empresa que desenvolve produtos para o mercado global, de alta tecnologia, de alto valor acrescentado, que me permite viajar, estar em contacto com a tecnologia e com os clientes de maior emissão, porque é que quero ir trabalhar para fora?
Voltando um pouco atrás à questão da formação do governo, quando se coloca no Ministério da Educação, que terá o ensino superior também, inovação e ciência, significa que esta pode ser uma forma de tentar criar todos esses indicadores atrativos para manter os jovens talentos em Portugal? Aqueles que se formam em Portugal e que o país investe na sua formação, que procuram melhores salários lá fora e que desta forma podem, de facto, ficar em Portugal a trabalhar?
Só consigo pagar bons salários aos meus trabalhadores mais criativos e com maior capacidade se criar valor acrescentado. Só crio valor acrescentado se combinar investimentos e isso significa dois tipos de investimentos. São discricionários. O primeiro é em abrir mercados para vender os meus produtos e o outro é em inovação para vender produtos que esses mercados queiram e que tragam alguma coisa de novo, relativamente ao que já existe. Portanto, só para dar a ideia, tradicionalmente, e não é do governo anterior, tenho o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, tenho o Ministério dos Negócios Estrangeiros, que, digamos, tem a parte de internacionalização, tenho o Ministério da Justiça, onde está a propriedade intelectual e o INPI, etc. Tenho o Ministério da Educação, típico, e depois tenho o Ministério da Economia. E, já agora, no último governo, a digitalização foi parar debaixo da alçada do primeiro-ministro. Pronto, ainda é mais longe. Portanto, a questão aqui é como é que evito a balcanização, digamos, da organização da política pública e dos instrumentos, para um fim único, que é tornar as empresas mais competitivas que possam crescer através da inovação? Isso exige o modelo de governo da inovação e não é só a questão de haver o nome da inovação. Aliás, o nosso presidente da direção, numa entrevista a um outro órgão há pouco tempo, advogava a criação do Ministério da Inovação, exatamente porque existem políticas de tudo e mais uma coisa, mas não existia a política de inovação. Ora, política de inovação é uma integração de todas estas políticas e têm de estar todas alinhadas, porque se uma estiver desalinhada e não estiver lá, é evidente que as outras se ressentem.
E a atual nomenclatura resolverá essa questão?
Acho que não há um problema de nomenclatura. Acho que é um problema mais orgânico. E vamos ver, o Ministro Fernando Alexandre está bem consciente, porque fez muitos estudos e acompanhámos ao longo destes anos, sobre a economia da inovação, ele sabe bem quais são estes fatores de competitividade e como é que estes têm de se organizar. Ele próprio foi autor de um estudo, julgo eu, pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, sobre do made in ao created in, e por isso diria que, mais do que tudo, está consciente. Se depois tem condições para poder criar esta nova organização da política de inovação, isso é outra conversa, mas está consciente.
A questão da internacionalização é muito importante e falámos bastante aqui. A COTEC anunciou no verão passado a criação de uma plataforma para internacionalizar tecnológicas. Que balanço é que se pode fazer? Teve adesão ou não? E de que forma é que estão a apoiar as PME ou as start-ups neste desafio?
Lançámos isso em junho e, como tudo, as coisas demoram sempre muito tempo ou demoram algum tempo a poder aderir. Tivemos seis, sete grandes empresas que já estão internacionais, mas algumas multinacionais que estão em Portugal, como por exemplo a Siemens, como por exemplo a Kindril, que aderiram e que, na prática, o compromisso dessas empresas foi ajudar as empresas tecnológicas portuguesas a poder entrar em novos mercados. E às vezes essa ajuda simplesmente é uma referência, é ir, é dizer, é fazer uma apresentação a potenciais clientes num determinado mercado. Neste momento, estão cerca de 50 empresas na plataforma. Gostaríamos, obviamente, que estivessem mais, mas até agora é este o número. E o que tem acontecido é que algumas destas nossas empresas âncora, têm colocado desafios na plataforma. Tem havido, digamos, algum trabalho de networking. Agora, continuamos a dizer que a plataforma tem pouco mais de seis meses, chamámos-lhe naquela altura o LinkedIn da internacionalização. Há duas semanas lançámos o Tinder dos doutoramentos, da relação entre as empresas e a academia. E, portanto, na prática, tudo se passa por criar novas ligações, criar interação, criar confiança e criar notoriedade. Até porque muitas das empresas tecnológicas nos dizem que é mais fácil, às vezes, termos uma reunião lá fora com uma empresa que não é portuguesa e com introdutores que não são portugueses, do que ter uma reunião em Portugal com uma empresa cujos introdutores são portugueses. Portanto, há uma desconfiança daquilo que é tecnologia, apesar de tudo, que continua a fazer pouco sentido, mas há uma desconfiança. E isso dizem-nos várias vezes, uma desconfiança daquilo que é tecnologia desenvolvida a partir de Portugal, relativamente àquilo que vem de fora.
Mas o país tem mantido uma taxa de crescimento da inovação nos últimos cinco anos. Significa que não é suficiente, que há muito por fazer ainda?
O que diria que tem a ver com a aproximação das empresas com a academia e com o sistema científico, a capacitação, o capital humano dentro das empresas, a questão da ligação entre inovação e internacionalização, crescimento internacional, todos estes problemas já se colocavam há 20 anos, quando nasceu a COTEC, só que com níveis diferentes. Portanto, é mais um problema de organização, de estruturação e de intensificação destas relações. Por exemplo, o ano passado, aquilo que aprendemos naquele ciclo que fizemos em que trouxemos empresas em que os colaboradores tinham feito doutoramentos em ambiente empresarial e trouxemos investigadores que tinham também tido essa experiência, foi que, de facto, quem já teve essa experiência é muito positivo e muito importante, muito impactante dentro das empresas. E também do lado académico, a consciência é que há problemas muito interessantes nas empresas, porque havia esse mito de que as empresas não tinham problemas interessantes, problemas científicos. E, portanto, há essa abertura que tem de ser feita. No entanto, vemos, como tudo na vida, ainda muita resistência das partes, quer do lado empresarial, que questiona porque é que precisa de doutorados, de uma espécie de professor Pardal. Do lado académico, a perspetiva ainda é muito que trabalhar com as empresas dá uma grande trabalheira, portanto, é melhor ficar a fazer trabalhos em laboratório, porque a verdadeira ciência é dentro de muros.
E é aí que o PRR pode ajudar?
O PRR deu um sinal muito importante, que foi mudar o paradigma da investigação e desenvolvimento. Ou seja, a empresa cumpre o seu projeto se gastar este dinheiro. Mas antes nada era exigido a nível daquilo que era, digamos, o resultado final, do ponto de vista da inovação. No PRR as regras mudaram. E se forem à listagem dos projetos que está publicada na internet, vão ver uma coisa muito interessante, desde carros autónomos, até novos materiais, até coisas que se de facto chegarem ao mercado, colocam aquelas empresas no holofote. Agora, o que é que vemos? Vemos que de facto essa é a questão da colaboração, o risco de inovação e o risco de interdependência. Para lançar um carro autónomo para chegar ao mercado, tenho de fazer com que todo o meu ecossistema de inovação funcione como uma orquestra. Não posso ter gente a desafinar ou levantar-se a meio e ir embora. E, portanto, é nesse sentido que diria que temos de aprender, e a COTEC estará atenta também aos resultados dos consórcios das agendas mobilizadoras. Julgo que estamos a falar das agendas mobilizadoras, exatamente para poder ver qual foi o resultado, o que é que aprendemos e o que é que daí podemos tirar para o Portugal 2030, que está neste momento a começar.