A Associação de Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur (AHSA) quer uma dessalinizadora daqui a cinco anos.
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Com a barragem de Santa Clara a 41% da capacidade, o perímetro de rega do Mira advinha um futuro de escassez de água disponível para a agricultura; um cenário que levou a AHSA a avançar com três propostas de localização para uma dessalinizadora vocacionada para a agricultura e um reservatório para 25 milhões de metros cúbicos.
Uma das localizações previstas seria em Sines e duas em Odemira, sendo que uma delas se insere dentro do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) e a outra fica a 3 quilómetros da costa.
Para se tirar o sal da água do mar é preciso muita energia. A dessalinizadora tem que estar ligada a uma potência de 10 megawatts e a “fábrica” da água doce precisa de uma área de cerca de 4 hectares.
“Se for em Sines existem condições particularmente favoráveis para um um parque solar fotovoltaico que já está previsto. Se for em Odemira, temos seguramente investidores para a energia eólica, para além do uso da energia tradicional”, sugere o presidente da AHSA, Luís Mesquita Dias.
Em declarações à TSF, Luís Mesquita Dias, justifica esta dessalinizadora com os modelos climáticos que prolongam a seca na região de Odemira: “o passado mais ou menos recente, dos últimos anos, mostra a uma redução muito substancial da precipitação, por um lado, e logicamente da água da barragem, por outro. Portanto, com os dados que temos dentro de 4 a 5 anos, nós deveremos ter grandes limitações, para não dizer impossibilidade de utilizar água de Santa Clara para a agricultura”.
Isto “coloca a agricultura em risco e antes de nós chegarmos a esses 4 ou 5 anos temos que tomar decisões e arranjar alternativas seguras”, defende o empresário agrícola.
A dessalinizadora vai disponibilizar mais água dos que os atuais 12 hectómetros por ano provenientes da Barragem de Santa Clara, a que se junta a água das charcas das herdades.
Os 25 hectómetros da dessalinizadora vão assim permitir que se expandam os 6 mil hectares atualmente explorados para 10 mil hectares de regadio em Odemira.
"Há um potencial de crescimento desde que haja um potencial de água para se fazer esse crescimento”, lembra Luís Mesquita Dias.
Mas construir uma dessalinizadora não fica barato. A obra está estimada em 200 milhões de euros, já não se pode candidatar ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) como a do Algarve mas não se exclui o financiamento pelo Portugal 2030.
Quanto à gestão do empreendimento, “se a dessalinizadora fosse construída em Sines, muito provavelmente seriam as Águas de Santo André a fazer a sua gestão. Se ela for construída em Odemira, nós esperamos que o Ministério da Agricultura crie as condições para que a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) seja a entidade que fará a gestão da dessalinizadora”, propõe o presidente da AHSA.
A agricultura em Odemira contribuiu com 60% para a riqueza da região e por isso a falta de água coloca em risco a economia local, “mas não era só a falência da agricultura era a falência de todo um território. O caminho para a desertificação humana do território estaria aberto a grande velocidade”, alerta Luís Mesquita Dias.