No rescaldo da Moda Lisboa, a TSF foi à procura de designers que trocaram as passerelles pelos cabides das lojas de pronto-a-vestir.
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Basta entrar em qualquer centro comercial para vê-la: as montras piscam-nos o olho com a última tendência que temos de ter.
Desde a década de 80 que a fórmula prolifera e domina o mercado: vemos, gostamos, compramos. Fácil rápido e eficaz. À semelhança do fast food, a fast fashion instalou-se nas nossas vidas.
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Mas contrariamente ao que acontece com a alta-costura e as marcas de autor, raramente nos lembramos de que, por trás desta roupa, também existem artistas.
São cada vez mais as marcas de "moda de consumo rápido" que vêm a Portugal recrutar jovens designers para produzir.
É o caso de Aníbal Leite, 31 anos. "A chave do sucesso é dar, rapidamente, às pessoas aquilo que elas desejam, ao preço mais acessível possível", afirma o designer. Há nove meses desenha roupa masculina para a Lefties, marca que pertence ao maior grupo de fast fashion no mundo, a espanhola Inditex, que, só no primeiro semestre deste ano, teve lucros de 1.366 milhões de euros.
Valores a que só se chega com uma alucinante velocidade de criação.
Depressa e bem: há quem?
"Tempo não é uma palavra que se use...", diz Ângela Fontes, 33 anos. Trabalha agora em Filadélfia, nos Estados Unidos, para a marca de roupa norte-americana Urban Outfitters, mas também já passou pela Inditex - deu sete anos de casa à Pull&Bear. A designer fala num "ritmo acelerado", em que "há muita coisa que se aprende, mas também há muita que se desaprende".
A aclamada designer portuguesa Maria Gambina, que é também coordenadora do curso de Moda da Escola Superior de Artes e Design (ESAD), em Matosinhos, conta que são muitas as empresas que vão diretamente à escola recrutar alunos recém-licenciados e que da formação dos estudantes já faz parte a preparação para essa realidade que vão encontrar no mercado da fast fashion.
"Somos muito rigorosos com os prazos de entrega, que, ao longo dos projetos, vão sendo cada vez mais apertados", garante Maria Gambina, acrescentando que o objetivo é "acima de tudo, torná-los muito profissionais".
O ditado diz que "a pressa é inimiga da perfeição". Até pode não ser verdade, mas os designers admitem que o lado criativo do trabalho sai muitas vezes afetado.
"É diferente um escritor que tem um ano para escrever um livro e outro que tem dois meses para escrever três livros", diz Ângela Fontes, a título de exemplo. "A parte criativa nasce e morre, não tem tempo para viver muito". Aníbal Leite discorda: "O espaço criativo existe, existe é de outra maneira. É outra forma de trabalhar, para outros modelos de negócio".