“Para onde vou agora com as vacas?” Associação do Barroso quer travar projeto de mineração em Boticas
Os deputados da Comissão Parlamentar de Ambiente e Energia escutaram esta quarta-feira os defensores e contestatários das minas de lítio no Barroso
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A Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, contesta a autorização dada pela Secretária de Estado da Energia, Maria João Pereira, para que a empresa mineira Savannah Resources possa passar nos terrenos agrícolas.
No despacho do Governo, publicado em Diário da República, pode ler-se que os donos da “parcela de terreno em causa ficam obrigados a consentir o acesso e a ocupação, pela concessionária (mineira) para a realização dos trabalhos de sondagens”.
Desde a publicação deste despacho que o presidente da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, Nelson Gomes, sente um reforço policial na aldeia.
Nelson Gomes diz mesmo aos deputados: “o que a população de Covas do Barroso sente é que voltámos antes do 25 de Abril porque neste momento temos todos os dias à porta, a fiscalizar-nos, a GNR”.
Para esta Associação, “o Estado deu autorização à empresa para entrar à força nos nossos terrenos. Ou seja, a partir do dia 6 deste mês (dezembro), a empresa tem o direito de entrar, quer nos terrenos privados, quer nos terrenos baldios. E eu pergunto: Como é que as pessoas se sentem?”
Aos deputados foi explicado que houve “vizinhos a quem aconteceu que iam com as vacas para um terreno e a partir de amanhã vão ter que deixar de ir para aquele terreno, porque a empresa vai entrar com máquinas”, sublinha Nelson Gomes.
O ativista e agricultor argumenta: “Eu nunca consegui plantar um campo de milho em cima de um campo de batatas”. Portanto, “dizer que conseguem fazer uma mina em cima de cursos de água, em cima dos terrenos que são necessários para as pessoas que lá vivem, não é possível”.
Depois desta exposição, os deputados ouviram o presidente executivo da Savannah Resources, Emanuel Proença, contraria a ideia de contaminação da água já que a água usada no processo mineiro funciona em circuito fechado.
Além disso, Emanuel Proença, argumenta que o concelho de Boticas vai ser beneficiado com 10 milhões de euros por ano em tarifas. “Está apontado um número à volta de 10 milhões de euros ao ano, se fizermos uma média daquilo que é expectável. Para uma realidade de um município, como Boticas, que tem um orçamento municipal entre 9 e 11 milhões de euros ao ano, imaginem o efeito de valor acrescentado e de capacidade para reinvestir, e para trabalhar melhor o seu futuro que isso implica”, sublinha Emanuel Proença.
Também esta quarta-feira foi ouvida no Parlamento a Associação Povo e Natureza do Barroso. O ativista Vítor Afonso levou uma carta aberta aos deputados e nega o rótulo de extremista.
“Para nós, quem é extremista neste caso são os promotores desses projetos e quem os valida. Portanto, aceitar compromissos neste momento, não! Porque consideramos que o Barroso é das poucas regiões do nosso país ainda bem conservadas do ponto de vista ambiental”, argumenta Vítor Afonso.
Assim, não há margem para negociar. “Neste momento, o nosso objetivo é travar efetivamente a mineração nesta região. Porque, seja qual for o discurso oficial dos promotores destes projetos ou até mesmo de alguns elementos do Governo a mineração verde não existe, portanto, vai sempre haver impactos muito significativos sobre o ambiente”, conclui.