Nem a crise dos últimos anos abalou a confiança de muitos portugueses no sistema bancário - pelo menos quando chega a hora de poupar.
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O segundo Inquérito à Literacia Financeira da população portuguesa do Banco de Portugal, revelado na semana passada, mostra que quase 60% dos portugueses escolhe produtos financeiros com base no conselho dos funcionários dos bancos. Um resultado semelhante a 2010. A recomendação de familiares ou amigos vem em segundo lugar (51%).
O inquérito revela também que há mais portugueses a poupar: 59% diz que conseguiu pôr dinheiro de parte, o que representa um aumento em relação aos 52% de 2010.
Apesar disso, o estudo conclui que ainda há algumas reticências na aplicação das poupanças em produtos financeiros: 60,8% dos que poupam acabam por deixar o dinheiro na conta à ordem.
Entre as razões apontadas para quem não poupa, 87,8% diz que o rendimento não o permite e há 9,1% responde que a poupança não é prioritária.
No capítulo das motivações para poupar, a maioria dos portugueses (49,8%) refere razões que não fazer face a despesas imprevistas. As principais razões são férias e viagens (23,9%), compra de bens duradouros (20,8%) ou educação dos filhos (5,1%).
A poupança para enfrentar despesas inesperadas desce em relação a 2010: há seis anos era essa a prioridade para 58% dos inquiridos; em 2015 cai para 44,8%.
Ainda assim, 60,8% dos portugueses afirma que conseguiria pagar uma despesa inesperada do mesmo valor do rendimento mensal.
Este estudo do Banco de Portugal mostra ainda que poupar para a reforma é uma preocupação de poucos e tem vindo a diminuir. Em 2010 5,9% portugueses dizia que esse era o objetivo da poupança; no ano passado a percentagem caiu para 4,3%.
O segundo Inquérito à Literacia Financeira da população portuguesa do Banco de Portugal foi baseado em 1100 entrevistas feitas porta-a-porta em todo o território nacional entre maio de junho de 2015. O objetivo era avaliar as atitudes, comportamentos e conhecimentos financeiros dos portugueses.
DECO recomenda cautela e exigência aos clientes dos bancos
A Associação de Defesa do Consumidor admite que os resultados do estudo do Banco de Portugal pode parecer surpreendente, mas lembra que muitos portugueses não procuram outras soluções de poupança. A exceção é a dos produtos de poupança emitidos pelo Estado.
Rui Ribeiro, analista de mercados da DECO, recomenda que os clientes dos bancos que procuram produtos de poupança sejam cautelosos e exigentes, esclareçam as dúvidas e registem esses esclarecimentos por escrito, para salvaguarda futura.
Os clientes devem avaliar bem o risco, informar-se de todos os aspetos e não decidir na hora.