O parlamento europeu aprovou hoje o reforço do fundo de resgate. Merkel já tem o sim para negociar, no Conselho Europeu, o pacote de medidas para resolver a crise das dívidas soberanas.
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A favor da moção conjunta apresentada pelos partidos do governo e por dois partidos da oposição, os sociais democratas do SPD e os Verdes, votaram 503 deputados, de um total de 596 presentes no hemiciclo.
No documento, os subscritores advogam «a aplicação mais eficiente possível» do fundo de resgate europeu (FEEF) - em causa está uma alavancagem do valor nominal do fundo par além de um bilião de euros -, mas admitem, por exigência do SPD e dos ambientalistas, que a reforma do fundo aumenta os riscos para os contribuintes alemães.
Simultaneamente, o parlamento exortou o governo federal a respeitar o tecto de 211 mil milhões de euros de garantias para o FEEF dadas por Berlim, cerca de 27 por cento do valor nominal do fundo, que ascende a 780 mil milhões de euros.
A oposição conseguiu também que fossem incluídas no documento mais duas reivindicações suas, a introdução de um imposto sobre as transacções financeiras e o fim do programa de compras de títulos de dívida pública de países do euro por parte do Banco Central Europeu (BCE).
Caso tais compras sejam necessárias para apoiar países do euro em dificuldades financeiras, devem passar a ser assumidas pelo FEEF, propõem os deputados alemães.
Este último ponto pode colidir, no entanto, com a estratégia de outros parceiros europeus, e reacender a polémica entre Berlim e Paris, já que no projecto de comunicado final da cimeira dos líderes europeus os chefes de Estado e de governo se afirma que o BCE tem «total apoio para tomar medidas extraordinárias» destinadas a proteger a moeda única.
No discurso que antecedeu a votação parlamentar, a chanceler Angela Merkel considerou "aceitável" o risco que a Alemanha decidiu correr com o aumento do volume nominal do fundo de 440 mil milhões para mais de um bilião de euros, através de um mecanismo de alavancagem financeira.
Simultaneamente, Merkel sublinhou que a quota-parte alemã de 211 mil milhões de euros terá de se manter, «para não sobrecarregar ainda mais os contribuintes».
A chanceler exigiu ainda uma «participação muito maior» dos credores privados na restruturação da dívida grega, e elogiou Portugal, dizendo que o atual executivo «está firmemente disposto a impôr» o programa de ajustamento negociado com a "troika" para receber ajuda externa.
Merkel anunciou ainda que apresentará, em Dezembro, propostas para alterar os tratados europeus, a fim de melhorar as regras do Pacto de Estabilidade, e introduzir o chamado «travão à dívida» nas constituições dos Estados da moeda única.