O barril de petróleo Brent cotou-se hoje a 80 dólares, pela primeira vez desde 2014, com os investidores a temerem uma queda da produção na Venezuela e no Irão.
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O petróleo do mar do Norte, de referência na Europa, alcançou os 80 dólares no Intercontinental Exchange Futures (ICE) de Londres cerca das 9h58 (10h58 em Lisboa), mais 0,98% do que no encerramento da sessão anterior.
O petróleo continua em alta devido ao temor dos investidores de uma descida da produção global, devido à queda do fornecimento no Irão, que enfrenta sanções (depois de Washington se ter retirado do acordo multilateral sobre o programa nuclear) e na Venezuela.
Numa reação àquelas penalizações económicas impostas por Washington a Teerão, a petrolífera francesa Total anunciou na quarta-feira que vai abandonar o projeto iraniano South Pars 11 (SP11), um dos maiores campos de gás do mundo e explicou que 90% do financiamento procede de entidades norte-americanas.
Também na quarta-feira, a Agência Internacional de Energia (AIE) considerou que os "principais desafios" para o preço do petróleo são as diminuições da produção tanto do Irão, devido à retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear, como da Venezuela, em crise.
"A eventual dupla diminuição da produção do Irão e da Venezuela poderia representar o maior desafio para os produtores, que teriam de evitar a abrupta subida dos preços e compensar as quedas daqueles países. E não só se trata de números de barris, mas de qualidade", alerta a AIE no relatório mensal, que situa o preço do petróleo Brent acima dos 77 dólares.
O organismo avisou que os preços do petróleo já aumentaram 75% desde junho de 2017 e alertou para que este agravamento pode afetar a procura.
A AIE constatou a "incerteza" que se vive no mercado do petróleo este ano devido aos Estados Unidos, que a 8 de maio último anunciaram que abandonavam o acordo nuclear com o Irão (quinto maior exportador mundial de petróleo), o que implicará a imposição de sanções que podem conduzir a uma redução do abastecimento mundial de petróleo.
"No meio da incerteza é pouco provável que as empresas fechem contratos para novos investimentos no Irão ou assinem acordos comerciais a longo prazo", refere a AIE.
A agência considera que a Venezuela e o México, dois países que poderiam preencher o vazio de Teerão, não estão em condições de o fazer, adiantando que a tendência produtora para a baixa de Caracas põe em apertos o mercado mundial de petróleo.
"Na Venezuela o ritmo da queda da produção de petróleo está a acelerar e pode provocar uma contração de várias centenas de milhares de barris por dia", constata a AIE, que assegura que Caracas não cumpriu a meta de produção a que se comprometeu nos acordos de Viena.
A AIE indica que a capacidade de produção da Venezuela é diminuta porque a empresa pública venezuelana Petróleo da Venezuela (PDVSA) viu muitos dos seus empregados abandonarem os postos de trabalho devido aos "baixos salários e às preocupações com a segurança laboral".
"Um aumento da produção por parte dos Estados Unidos suporia uma importante contribuição para compensar as quedas noutros pontos", adiantou.