A economia global arrefeceu em 2015. Um ponto percentual de fraqueza no bloco composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul gera 0,4 pontos de impacto na riqueza do planeta, avisa o Banco Mundial.
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O crescimento do PIB mundial em 2015 voltou a desacelerar - ou, nas palavras do Banco Mundial, a desiludir. Depois de um aumento de 2,6% em 2014 (menos 0,4 pontos percentuais do que o projetado em junho), o PIB do planeta registou no ano passado uma aceleração de 2,4% (também menos 0,4 pp). Este desempenho é "uma desilusão" justificada pela "desaceleração contínua nas economias emergentes e em desenvolvimento", explica a instituição liderada por Jim Yong Kim, realçando também outros fatores que levaram a este resultado, como "preços das mercadorias que atingiram mínimos do pós-crise", "fluxos de capitais mais fracos" e "um comércio global modesto".
Estas pedras na engrenagem do aumento da riqueza média global levaram a uma revisão em baixa das projeções para os próximos anos: o PIB mundial vai crescer 2,9% em 2016 e 3,1% nos dois anos seguintes. Esta evolução, explica o Banco Mundial (BM), vai assentar em ganhos nos países mais ricos balanceados por restrições crescentes nas condições de financiamento, na estabilização dos preços das mercadorias, e um reequilíbrio gradual na China.
A previsão, no entanto, pode ser contrariada por riscos sérios, alerta o BM, incluindo "arrefecimentos desordenados" nos principais mercados emergentes, alterações repentinas no custo do crédito - que podem provocar tempestades nos mercados financeiros -, vulnerabilidades contínuas nalguns países, ou tensões geopolíticas crescentes.
A instituição realça ainda que, se esses riscos se materializarem, os fracos crescimentos económicos e a redução aguda de preços das mercadorias retirarão aos decisores políticos espaço de manobra para o desenho de respostas às dificuldades económicas, sobretudo nas economias exportadoras.
Quem se constipa quando os emergentes espirram?
Se o desempenho do PIB mundial não foi pior nos últimos anos, isso fica a dever-se, em grande parte, aos desempenho dos BRICS. Com crescimentos impensáveis para o mundo desenvolvido, e sobretudo para a Europa (a China, por exemplo, que é o "mais acelerado" dos BRICS, cresceu 7.1% em 2013, 6.8% em 2014 e 6.4% em 2015), o bloco de cinco países pode também ser um lastro, avisa o Banco Mundial, que até explica quanto é que o lastro pesa: por cada ponto percentual de declínio no PIB dos BRICS, as outras economias emergentes perdem 0,8 pontos, e a riqueza do planeta é 0,4 pontos mais baixa do que poderia ser. E esses números, avisa o BM, pode ser ainda maior se a desaceleração for combinada com turbulência nos mercados.
Europa ainda a meio gás
As previsões do Banco Mundial para a zona Euro continuam a mostrar uma Europa em fraco crescimento: o PIB conjunto dos países da moeda única cresceu 2,1% em 2015, desacelerando em relação aos 2,3% de 2014. A queda acentuada do preço do petróleo, e as tensões geopolíticas (que resultaram num colapso do desempenho económico na Ucrânia) são apontados como principais fatores por detrás deste resultado. E o futuro não parece promissor: o PIB da zona euro, escreve o BM, vai aumentar 1,7% em 2016, outros tantos em 2017 (numa revisão em baixa de 0,1 pp em relação às últimas previsões, feitas em junho), e 1,6% em 2018 (mais 0,1 pp do que nas últimas estimativas).