António Saraiva refere que está preocupado com a "espanholização da banca", sublinhando que cerca de 80% do financiamento das empresas "faz-se via banca".
Corpo do artigo
Em declarações ao Jornal de Negócios, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) disse que é preciso encontrar um instrumento que retire de banca o crédito malparado, alertando que Portugal "está com uma bomba relógio debaixo dos pés".
De acordo com António Saraiva, presidente da CIP, o crédito malparado deve "andar à volta dos 20 mil milhões de euros" e que, por isso, é preciso retirar da banca o volume de crédito, dando possibilidade às empresas de amortizarem as dívidas, "alongando prazos" ou transformando dívida em capital.
"Se isto não for feito, as empresas dificilmente irão obter crédito junto da banca, não recebendo a tempo dos seus clientes, às vezes do próprio Estado, as empresas vão acabar por morrer. Vão morrer, vão causar mais desemprego. Estamos com uma bomba-relógio debaixo dos pés", alerta o presidente da CIP.
Sendo assim, António Saraiva refere que está preocupado com a "espanholização da banca", sublinhando que cerca de 80% do financiamento das empresas "faz-se via banca", ao contrário do que se verifica nos Estados Unidos.
"Há que alterar este quadro e isso não se faz de um dia para o outro. Isto tem de se fazer com uma banca que esteja preparada para aceitar este desafio", afirma o responsável pela CIP.
Em relação ao executivo, António Saraiva critica a falta de ambição do Governo na redução estrutural da despesa, mas, mesmo assim, afirma que a Comissão Europeia não se pode tornar num "fator de instabilidade" aplicando sanções a Portugal, por incumprimento das metas do défice.
"Seria inadmissível a imposição de sanções, que nunca antes foram utilizadas. Muito menos, em nome de um conceito (défice estrutural) discutível, que tem sido criticado. Seria inaceitável", critica o presidente da CIP.
Na mesma entrevista ao Jornal de Negócios, António Saraiva diz também que a globalização fragilizou a indústria e propõe inverter a situação.
"Estamos no limiar de uma nova realidade industrial e temos setores de atividade como o têxtil, o calçado, o agroalimentar e outros que podem ser reapreciados e reposicionados, de modo a termos na nossa indústria e serviços, associados, uma oportunidade para reestruturar, reindustrializar", diz António Saraiva recordando que a CIP tem em curso o projeto Política Industrial para o Século XXI para a validação de ideias para a inovação do setor.