Pressão comercial. UE deve manter firmeza e não “perder a calma” nas negociações com Trump
José Manuel Fernandes defende “unidade” entre os 27, perante a imprevisibilidade de Donald Trump nas negociações sobre tarifas
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O ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, apelou esta segunda-feira à unidade dos Estados-membros da União Europeia (UE) nas negociações comerciais com os Estados Unidos, sublinhando a necessidade de manter a calma face à imprevisibilidade das estratégias do Presidente norte-americano, Donald Trump.
“Se nos dividirmos, se a União Europeia abrir brechas, será altamente preocupante para todos os países, nomeadamente países mais pequenos”, afirmou o governante, à margem de uma reunião em Bruxelas. José Manuel Fernandes acrescentou que, na União Europeia, "há dois tipos de líderes: aqueles que sabem que o país deles é pequeno e aqueles que ainda não sabem que o país deles é pequeno".
O ministro sublinhou ainda que a UE deve manter as negociações com os Estados Unidos, mas sem deixar de procurar alternativas, nomeadamente reforçando as relações comerciais com o Mercosul. “Não podemos desistir desse bloco enorme, mas também temos de avançar, nomeadamente para o Mercosul”, disse, recordando que juntos, UE e Mercosul, representam 720 milhões de habitantes e cerca de 25% do PIB mundial.
José Manuel Fernandes falava esta segunda-feira à margem da reunião de ministros da Agricultura, após uma nova ameaça do Presidente norte-americano. Ainda antes do fim de semana, a poucas horas de uma reunião entre o comissário europeu do Comércio, Maroš Šefčovič, e o representante do Comércio dos EUA, Jamieson Greer, Donald Trump anunciou que pretende impor tarifas de 50% sobre todos os produtos importados da União Europeia, com início a 1 de junho.
Numa publicação nas redes sociais, Trump acusou a UE de ter sido criada “com o objetivo principal de tirar vantagem dos Estados Unidos no comércio” e afirmou que as conversações em curso “não estão a levar a lado nenhum”.
Fontes comunitárias indicaram que Bruxelas tinha enviado recentemente a Washington uma nova proposta revista. De acordo com o Politico, o documento europeu propõe, entre outros pontos, o aumento das importações de produtos agrícolas considerados não sensíveis, o reforço da cooperação estratégica em sectores como o aço, alumínio, semicondutores e automóveis — já sujeitos a tarifas norte-americanas —, e novas parcerias nas áreas da energia e tecnologias 5G e 6G.
O porta-voz da Comissão Europeia, Olof Gill, classificou a proposta como “excelente, detalhada e mutuamente benéfica”, embora o Financial Times tenha avançado que os EUA deverão rejeitar o pacote, exigindo concessões unilaterais por parte da União Europeia, em vez de uma redução mútua de tarifas.
Entre os pontos mais sensíveis das discussões estão os regulamentos europeus sobre as grandes plataformas tecnológicas e o regime de IVA aplicado pelos Estados-membros, que Washington considera constituir barreiras não tarifárias prejudiciais às empresas americanas.
Trump acabou por adiar a entrada em vigor das tarifas para 9 de julho, depois de uma chamada considerada “muito cordial” com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, realizada no domingo. No entanto, a ameaça permanece sobre a mesa e a Comissão continua a preparar-se para um possível agravamento das tensões comerciais.
Segundo fontes comunitárias citadas pelo Politico, Šefčovič e Greer deverão encontrar-se presencialmente no início de junho, à margem de uma cimeira em Paris, para tentarem evitar uma escalada que possa atingir sectores estratégicos como a agricultura, a indústria automóvel e os bens tecnológicos.
Perante este cenário, José Manuel Fernandes defende que a União Europeia deve manter-se firme. “O essencial é que a União Europeia não fique nervosa ou perca a calma por causa de estratégias de negociação do Presidente dos Estados Unidos”, afirmou, considerando que “há sempre uma grande dose de imprevisibilidade”.
O ministro português insiste que a resposta da União deve passar pelo reforço da coesão interna e por uma aposta em parcerias externas. “Temos de estar preparados para cenários alternativos e encontrar vias de diversificação que não nos deixem dependentes de quem negoceia com ameaças”, vincou José Manuel Fernandes.