"Pretendem manter trabalhadores com baixos salários." Sindicato de Hotelaria do Algarve pede mediação de Região de Turismo
Os sindicalistas reuniram com a entidade que representa o turismo na região, pedindo que interceda junto das entidades patronais
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Quando se fala de turismo os números saltam à vista. No ano passado, as receitas do setor ultrapassaram os 27 mil milhões de euros, um valor que representa um aumento de 8,8% em comparação com o ano de 2023. Mas, de acordo com os sindicatos, esse bom desempenho não se reflete nos salários dos trabalhadores. ”O que se constata é uma desvalorização das carreiras e profissões e a consequente perda do poder de compra dos salários, resultando numa situação cada vez mais difícil para a maioria dos trabalhadores”, salienta o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Algarve (STIHTRSA).
Tiago Jacinto, dirigente deste sindicato afeto à CGTP, explica que uma das associações empresariais celebrou, em 2024, um acordo com o Sindicato dos Trabalhadores dos Serviços (SITESE), mas considera que esse entendimento retira direitos aos trabalhadores do setor. ”O patronato queixa-se da falta de trabalhadores, da dificuldade em contratar, mas a verdade é que desde 2018 não acordam a revisão da tabela salarial e o que pretendem é manter os trabalhadores com baixos salários”, continua.
De acordo com o sindicato, a maioria dos funcionários do setor ganha o salário mínimo ou pouco acima. O representante dos trabalhadores afirma que, no setor, os horários são desregulados, ”os quadros estão reduzidos e a pressão, as ameaças e a chantagem são cada vez maiores por parte das empresas”.
A TSF falou com uma funcionária do setor que trabalha numa estação de serviço de autoestrada há 21 anos e continua a levar para casa o salário mínimo. Era uma das trabalhadoras que se concentrou na manhã desta quinta-feira junto ao edifício da Região de Turismo do Algarve, em Faro. “Não há subida para a antiguidade, um funcionário que entra hoje pode até ganhar mais do que eu”, lamenta.
Embora a Região de Turismo do Algarve não seja uma associação patronal, na reunião com o presidente desta entidade, o sindicato pediu-lhe que exerça o seu poder de influência e mediação junto do patronato. Ouvido pela TSF, o presidente da Entidade Regional de Turismo do Algarve afirmou estar disposto a exercer esse trabalho.
“Entendemos que podemos ter um papel de mediador (...) na perspetiva de podermos ver valorizadas as condições dos trabalhadores do setor do turismo, cujas dificuldades não se resumem às condições de remuneração”, sublinha. André Varges Gomes, ressalva, no entanto, que os proveitos do turismo não podem ser confundidos com lucros e que muitas empresas têm apostado na formação e na valorização salarial dos seus funcionários, embora tenham verificado aumentos nos custos de produção.
Apesar disso, mostra-se solidário com as preocupações do sindicato. “Podemos falar de muitos milhões de proveitos do setor de turismo gerados, quer a nível nacional ou regional, mas se eles não se refletirem numa melhoria das condições de vida dos residentes, das comunidades locais ou dos trabalhadores, alguma coisa está mal”, lamenta.